O chatGPT e os moinhos de vento

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Dom Quixote quis lutar contra os moinhos de vento. Só que o que ele julgava serem gigantes não eram mais que moinhos, e os braços, as suas pás. Dom Quixote, com a lança em riste, “arremeteu a todo o galope do Rocinante, e se aviou contra o primeiro moinho que estava diante, e dando-lhe uma lançada na vela, o vento a volveu com tanta fúria, que fez a lança em pedaços, levando desastradamente cavalo e cavaleiro, que foi rodando miseravelmente pelo campo fora”.

Esta passagem escrita por Miguel de Cervantes atira-me para a actual discussão em torno de Inteligência Artificial e programas como o ChatGPT. São gigantes dos nossos dias, que entraram nos nossos dias, no ensino e no mercado de trabalho, atravessando sectores. Mas ou tenhamos serenidade e clarividência para os tornar nossos aliados, ou voaremos campo fora como Dom Quixote ante o olhar parado de Sancho Pança.

A IA está aí. Não há volta a dar. Até porque agora só vai melhorar e refinar.

Há uns dias, uma amiga partilhava que mesmo na faculdade já são muitos os miúdos que recorrem ao ChatGPT para trabalhos. Não receiam embrutecer?, perguntei. Não, respondeu-me, porque no fundo é uma base, um facilitador que lhes poupa tempo, e sobre a qual editam e afinam até à proposta final!

Nesta edição da Marketeer, lá está, contamos histórias de algumas mulheres que achamos devem estar debaixo de olho no sector do vinho. São histórias de vida com muita vida em cada uma delas. Se podíamos ter pedido ao dito ChatGPT para as escrever? Até podíamos. E haveria de sair alguma coisa, digo eu. Agora, o que não sairia é a emoção de quem conta histórias que fazem a história de uma vida.

A IA está aí. Não há volta a dar, repito. Mas ainda há valências humanas que nenhuma plataforma consegue imprimir. Por isso saibamos ter a inteligência q.b. para usar sem destruir valor, agregar e melhorar. E não tentarmos lutar contra gigantes que, afinal, serão só moinhos de vento!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 319 de Fevereiro de 2023

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