Valor ou valores?

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Escrevo este Editorial algumas horas depois de ter feito a árvore de Natal lá de casa! Qual é a relevância desta informação? Pois que será pouca ou mesmo nenhuma, a não ser tudo o que a época traz. Ou deveria trazer com ela.

Mas também escrevo este Editorial umas horas antes de acontecer mais uma Black Friday. Aquele dia do ano em que tudo vale para se comprar o que nos faz falta, ou o que nenhuma falta nos faz. Corre-se, atropela-se, amontoa-se, cronometra-se o milésimo de segundo em que a App permite a compra online, ou as portas das lojas se abrem, em exercícios de quase loucura consumista.

Este ano, os portugueses garantem que gastarão menos. Que a subida das taxas de juro, o aumento dos preços e o fantasma da inflação lhes cortou a capacidade de compra. De qualquer forma, os valores andam entre os 200 e os 300 euros a disponibilizar para… poupar, acreditam (ou acreditamos). Só que pelo meio chegam-nos outros números: o de pessoas sem-abrigo em Portugal, que aumentou 78% em quatro anos; ou o de desempregados, que subiram para 303 356 em Outubro – contabilizando aqui apenas os inscritos nos centros de emprego do País, de acordo com o IEFP.

Estamos a correr a passos largos para o Natal. As próximas semanas serão de mais e mais consumo, que é motor inevitável da economia, e longe de mim querer desacelerar esse mesmo motor. Mas não haverá outros valores que valeria a pena lembrar? Sabem aquela promessa que todos fizemos de que iríamos ser muito melhores…? É só voltar a repescá-la. E, já agora, tentar praticá-la, que foi coisa que já esquecemos!

Pode ser que as campanhas de Natal, que aí estão, nos inspirem para além dos produtos e marcas. Até para que continuemos abraçados também a elas, às tais marcas, de consumo, lá está!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 328 de Novembro de 2023

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