Tabaqueira: «A sustentabilidade é uma valiosa oportunidade»

Enquanto principal operador industrial do seu sector, a Tabaqueira olha para o seu impacto enquanto agente económico e social com muito «orgulho e responsabilidade», reconhece Marcelo Nico, director-geral da empresa, em entrevista à Marketeer.

A Tabaqueira é uma das 50 maiores empresas portuguesas, em termos de volume de negócios. Qual a responsabilidade em termos de servir de exemplo a muitas outras empresas?

Recentemente, e como forma de medirmos o impacto, quer económico, quer social, da nossa actividade, a pedido da Tabaqueira, o ISCTE Executive Education publicou um estudo que dá nota de que o sector industrial ao qual pertencemos (transformação de produtos de tabaco) é um dos mais importantes da indústria transformadora portuguesa: representa 15% dos cigarros vendidos na União Europeia – ou seja, 10 vezes mais do que o peso da economia nacional no PIB europeu (1,5%).

Tal diferença de valores evidencia um sector altamente dinâmico, que extravasa claramente a dimensão do mercado doméstico. Criamos valor, geramos emprego e somos, ao mesmo tempo, o principal player económico de uma cadeia de valor que cobre o País (incluindo as regiões autónomas da Madeira e dos Açores), impactando um universo de aproximadamente 44 mil pessoas.

Nesse contexto, somos um agente de grande impacto positivo em termos económicos e sociais, pelo que nos cabe assumirmos a liderança de transformação deste sector. É o que temos feito desde 2016, ano em que o grupo a que pertencemos, a PMI, anunciou uma nova visão de negócio, com o objectivo de substituir progressivamente a comercialização de cigarros por melhores alternativas, sem combustão e fundamentadas em evidência científica.

Quais as oportunidades e os desafios impostos pelo ESG?

Sabemos que os temas relacionados com a saúde pública e com a ecologia – incluindo as alterações climáticas, a desflorestação, a perda de biodiversidade, a escassez de água, entre muitas outras crises ecológicas – não têm somente efeitos negativos nas cadeias de abastecimento e nas infra-estruturas físicas, como ameaçam o progresso económico e social e colocam em causa o equilíbrio da economia e da sociedade.

Enquanto agente de um ecossistema muito alargado, acreditamos que também cabe às empresas – em conjunto com os legisladores, reguladores e a sociedade civil – promover uma transição para produtos com potencial redução de nocividade em comparação aos cigarros, que promovam a melhoria da qualidade da saúde pública; mas também a mudança para um modelo de negócio que considere soluções produtivas com reduzida pegada de carbono, que incluam investir em energias renováveis e na eficiência energética e em acções que protejam os diferentes ecossistemas. O grande desafio é o de estarmos à altura desta alteração de paradigma que todos enfrentamos.

Procuramos liderar essa mudança pelo exemplo, enquanto respondemos ao potencial de transformação permitido pelos avanços tecnológicos e pelas próprias exigências dos consumidores. Esta transformação trará, acreditamos, benefícios para o meio empresarial, permitindo o florescimento económico e o crescimento sustentável dos negócios, a médio e longo prazo, para lá dos impactos positivos na sociedade em geral.

É importante reter que a transformação dos negócios não gera apenas impactos positivos na sociedade e no ambiente, mas representa também uma oportunidade estratégica para impulsionar a competitividade a longo prazo das empresas. Vemos a sustentabilidade como uma valiosa oportunidade.

Qual o ponto de situação da pesquisa e inovação que a companhia tem feito nos últimos anos para desenvolver produtos mais sustentáveis e alternativas menos nocivas?

Investimos de forma robusta na investigação e no desenvolvimento de alternativas potencialmente menos nocivas, quando comparadas com cigarros, para os fumadores que de outra forma continuariam a fumar.

É fundamental que o perfil de risco para a saúde dos produtos sem fumo seja minuciosamente avaliado e cientificamente substanciado e, com esse intuito, a PMI pôs em acção um programa de investigação científica que é baseado nas práticas de longa data da indústria farmacêutica e se encontra alinhado com as directrizes da Agência Americana para a Segurança Alimentar e do Medicamento (US Food and Drug Administration) para submissões dos produtos de tabaco de risco modificado.

Avaliamos todas as fases do processo, da pré à pós-comercialização. Entre 2015 e 2022, a PMI concluiu 251 estudos de avaliação toxicológica, 26 de avaliação clínica e 58 de percepção e comportamento – robustecendo, de forma transparente, a evidência científica que está por trás de alternativas sem combustão e, por isso, potencialmente menos nocivas. A Ciência está a mostrar o potencial destes novos produtos e é nosso objectivo que estas novas soluções possam eliminar progressivamente os cigarros tradicionais, que sabemos serem a forma mais nociva de consumo de cigarros, promovendo a transição dos fumadores adultos para estas alternativas sem combustão e sem fumo, ao mesmo tempo que prevenimos o acesso por menores.

Como a Tabaqueira envolve os seus colaboradores no seu processo de transformação e na estratégia de sustentabilidade?

A sustentabilidade tem de ser assumida por todos os domínios da empresa. Não é matéria de um só departamento, mas sim da organização – diz respeito a todos os trabalhadores.

Em Portugal, como nos outros mercados, existe um Comité de Sustentabilidade, que junta responsáveis de várias áreas, que trabalham e têm responsabilidades em diferentes e relevantes tópicos de sustentabilidade e que, entre outras funções, garantem a partilha da experiência e conhecimento adquiridos nesta área aos restantes trabalhadores da empresa, que desempenham um papel crítico na contribuição para o progresso em termos de sustentabilidade.

A empresa investe fortemente na formação e envolvimento de todos os trabalhadores, procurando consciencializá-los e fornecer conhecimento. Este trabalho é feito de diversas formas, incluindo ferramentas digitais para facilitar a colaboração em comunidade, desafios que aumentem as suas competências, ou ainda através de iniciativas que promovem a sustentabilidade na comunidade, através da Rede de Sustentabilidade da Tabaqueira, que congrega trabalhadores da empresa toda.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 329) da Marketeer.

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