Que grande descaramento, chef Sandro Farinho…

… e ainda bem. Foi uma surpresa ir ao Descarado, nas Docas de Lisboa. Mas surpresa boa, daquelas que apetece repetir. Por ali, cozinha-se com sabor e saber. Já tinha ouvido falar?

Há um descarado nas Docas de Lisboa e nós quisemos perceber o seu nível de descaramento. Até porque um restaurante que assume esse nome – Descarado – é porque tem que ter muita confiança no que propõe e leva à mesa, ou uma dose de arrojo q.b. que convença quem lá vai. Bem, nós fomos, como disse, e aqui lhe contamos se a marca está lá por pura brincadeira ou para “espicaçar” os comensais.

De fora, o Descarado em pouco se diferencia dos restantes espaços de restauração naquela correnteza. Também não é fácil. Esplanada pequena à entrada do restaurante e uma maior do outro lado do passeio. Lá dentro, vista directa para a cozinha no piso térreo, que se complementa com um enorme balcão que chama quem entra a experimentar um cocktail ou um simples sumo. Subindo as escadas, o primeiro andar é como que um prolongamento do Tejo, bem ali, com os azuis escolhidos para cadeiras e sofás. Se for em dia de sol, vai perceber que sabe bem estar.

Bem, depois, o que aconselho é que em vez de se atirar logo a um prato da carta – que não é muito extensa, mas tem sugestões para diferentes gostos – se entregue antes ao descaramento do chef Sandro Farinho e partilhe ou experimente algumas das entradas propostas. Confesso que não conhecia a sua cozinha, mas por tudo o que passou pela mesa, por certo que é nome que vai ficar.

Para começar, chegaram à mesa uns croquetes estaladiços e acabados de fazer. Sim, é verdade que não como carne, mas diz quem o fez que é pecado que vale bem a pena! Seguiu-se um ceviche de salmão nikkei que estava divinal e olhe que sou daquelas chatas que me queixo se a acidez passou o ponto ou se o peixe ficou demasiado cozido. Neste caso, a opinião foi unânime e mais houvesse! A partilha que se seguiu deu pelo nome de polvo crocante com aioli. Crocante, é verdade, tenro também, e mais um ponto a somar na lista das boas escolhas.

Claro que o conforto era coisa que já tínhamos mas também continuávamos a ter vontade de perceber até onde é que ia o descaramento do chef. Pois bem, chegou com o nome de bacalhau fresco – fresquíssimo, no ponto de sal e de soltar as lascas – em cima de batata palha finíssima. Muito bem Sandro Farinho. Se houve mais? Filetes de peixe galo com arroz de gambas, que tenho dificuldade em eleger qual deles o melhor. Que casam bem, casam, que os filetes estavam tenros, sem gordura a mais e com uma pomme irrepreensível, também. E que o arroz se manteve solto como se quer e com tempero de aconchego.

É verdade, para os amantes de carne ainda veio à mesa um pica-pau de lombo acompanhado da bela da batata frita. Não fui ao lombo mas não resisti à frita. Só para perceber se era batata a sério ou congelada, claro. O que lhe digo é que pode ir à confiança que de embalado ou supermercado não têm nada e são de comer uma atrás de outra… por gula!

Guardou espaço para a sobremesa, pergunta-me o chef? Não tinha guardado, confesso, mas lá se arranjou qualquer coisinha… só porque quando o chocolate é rei da festa não se pode voltar as costas. Chama-se Chocolate & Amendoim, traduz-se num brownie de chocolate com crumble de amendoim e gelado de caramelo salgado e, se é doido por chocolate, como é o meu caso, pode pedir que não se arrepende. Aliás, arrepende-se é se não o fizer!

Ah, só para que saiba que o Descarado também não foge aos menus executivos ao almoço, sendo que por 17,50 euros inclui couvert, prato principal, bebida (uma água ou um refrigerante ou uma cerveja ou um copo de vinho) e café. Além disso, desenhou menus de grupo a partir dos 30 euros por pessoa, com petiscos para partilhar, menus com
pratos de carne e/ou peixe e de acordo com o idealizado para diferentes eventos. É que se lhe apetecer dançar, ali também pode já que depois de jantar há música e espaço.

Momentos de partilha, muitas cores, sabores intensos e conforto, é o que traz este Descarado. Obrigada chef Sandro Farinho, foi um momento bom!

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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