Opinião de Pedro Rodrigues (Desafio Global): Ano novo, vida nova?

Por Pedro Rodrigues, Director-geral da Desafio Global

Quem nunca arrancou um novo ano com um conjunto de promessas ou objectivos, de comer melhor, praticar mais exercício físico, ou mesmo ser melhor pessoa? Curiosamente tudo isso são objectivos pessoais, mas a nova vida que todos ambicionamos neste novo ano, de uma forma inédita, não tem a ver connosco próprios, mas com a esperança, ou o desespero, de querermos um regresso à normalidade.

Um trimestre é um período longo. Em breve vamos fazer oito trimestres em “contexto pandémico”. Nunca, ao longo da nossa vida, ouvimos tantos clichés motivacionais como resiliência e superação. Nunca, infelizmente, estes clichés fizeram tanto sentido.

Aprendi com um bom amigo a não gostar da palavra resiliência. Primeiro que tudo é uma palavra que nasce da física dos materiais, representando a “propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação”. Num passado recente aplicou-se resiliência também à capacidade do ser humano em lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, stress ou algum tipo de evento traumático.

Esse meu amigo dizia-me há uns anos que resiliência era uma palavra proibida no contexto corporativo. Que resiliência significava uma vivência em esforço e sofrimento constante. E que ninguém aguentava viver dessa forma. Que a palavra devia ser substituída por consistência ou a capacidade de cada um de nós, nas suas organizações, fazer o melhor possível, dia após dia.

Fez-me tanto sentido este pensamento na altura que passei a rejeitar a palavra resiliência. Aliás, sempre que a ouvia sentia que um objecto físico, ou um ser humano, se poderia partir a qualquer momento.

Enquanto organizador de eventos, numa breve análise, é-me possível constatar que, felizmente para os nossos clientes, a pandemia teve pouco ou nenhum impacto económico. Já o sector de organização de eventos terá sido o mais afectado (mais do que a cultura) a par das discotecas e da diversão nocturna. Tantos anos de qualificação de um sector, profissionais fantásticos, prémios a nível mundial para acabarmos a concorrer, ao nível da desgraça, com a fila dos putos para entrar no Urban Beach.

Tantas vezes mordi a língua nos últimos meses ao sentir que apenas a desprezada palavra resiliência se aplicava ao contexto que vivemos actualmente.

Antes de falarmos em retoma do sector dos eventos, vamos ter que falar da saúde mental dos seus profissionais é uma afirmação dura do sector, que reflecte o estado de espírito dos organizadores de eventos.

Que este novo ano nos traga finalmente uma vida nova que até pode não ser tão nova assim, mas apenas igual àquela que tínhamos num antigamente não assim tão distante, e na qual dávamos tudo por garantido. Trabalho, saúde, amizade e até liberdade.

Votos de bom ano!

Artigo publicado na revista Marketeer n.º 306 de Janeiro de 2022

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