Opinião de Teresa Lameiras (SIVA|PHS): Com o passar dos anos os bons carros valorizam. E as pessoas?

Por Teresa Lameiras, Directora de Comunicação e Marca SIVA|PHS

Ao longo da nossa vida profissional assistimos ao debate das tendências, das modas e de imensos “gurus” opiniosos sobre as melhores práticas de Recursos Humanos nas empresas, no sentido de ter a melhor solução para a gestão do talento.

Apesar de haver uma linearidade na gestão e no mercado de trabalho, a verdade é que as empresas e as marcas são geridas por pessoas e, como tal, vão vivendo as glórias das suas boas apostas ou fragilizando-se, tantas vezes, com as decisões tomadas.

Numa altura em que tanto se fala no papel das pessoas nas organizações e nas equipas como determinante para o êxito de todos, sou defensora de que é na partilha de conhecimento, na discussão das ideias, na adaptação ao nível da estratégia local e na vontade de superação com objectivos claros de excelência, entre todos, que as empresas e as marcas se tornam exemplos de sucesso.

Mas como chegar a um resultado tão ambicioso, num país em que se diz que há menos talento disponível e que quem é bom vai para fora?

Não acredito totalmente nisto, pois o talento jovem retém-se com o valor que trazemos aos projectos, associados a condições que, essas sim, são diferentes e até mais exigentes, em vários casos, mas sobretudo ao nível de uma mentalidade mais tradicional. Muitos jovens exigem clareza, exemplo, objectivos e práticas que sejam coerentes com os projectos que abraçaram. Não querem perder tempo infinito em reuniões presenciais sem agenda, nem valorizam o “nacional porreirismo” de decisões adiadas por quem tem medo de as tomar. Também é verdade que os mais jovens são muitas vezes confrontados com demasiadas exigências para quem ainda não teve oportunidade de mostrar e provar o seu valor, mas também possuem uma segurança nas opiniões e naquilo que são os seus limites e valores, que tem que ser acompanhada para não se transformar em arrogância, ou uma impaciência que nem sempre se coaduna com os tempos das empresas mais tradicionais, ou com o “peso” das multinacionais.

Então, como gerir este valor que pode trazer inovação, arrojo, o questionar positivo de um certo status quo às empresas, para o reter, sem se sentir aprisionado ou sufocado? É aqui que entram as pessoas mais experientes, com maior conhecimento para fazer a leitura e o filtro correcto a favor do valor da organização.

Para quem achava que as pessoas com mais de 50 anos já são velhas e, como tal, não interessa manter ou recrutar, depara-se agora com uma população laboral em que os maiores de 55 anos – a chamada Geração Silver – representam quase 25% da mesma, prevendo-se que chegue aos 40% dentro de poucos anos.

Há uma actual abertura e consciencialização da importância de saber captar e manter o talento sénior, que, por estar numa fase de vida em que concilia experiência com saber, consegue aportar vantagens evidentes na competência, na construção de equipas inclusivas e com diversidade, enriquecidas por diversas perspectivas e com elevados níveis de fidelização.

As pessoas não são todas iguais, mas também aqui a gestão do talento é a palavra de ordem: os jovens precisam de apoio, de referências que os inspirem, de mentores de conhecimento que os ajudem a acreditar no projecto onde se encontram, a valorizar as próprias empresas e que sintam orgulho em fazer parte da mesma. E as empresas, por sua vez, precisam de perceber e interiorizar que o capital mais importante é o humano e que deve ser preparado ao longo do tempo de vida, para que os colaboradores continuem motivados no trabalho.

Quantas vezes despendemos tempo com quem é recente numa empresa? Com quem inicia um novo projecto e precisa de apoio? Quantas vezes inspiramos os nossos pelo exemplo? Quantas vezes procuramos em cada dia superarmo-nos e envolver os mais novos nessa caminhada?

Este é um desafio urgente, em que todos têm de se escutar e desafiar para que as empresas e marcas cresçam no rumo certo.

O desafio da retenção do talento não tem idade, tem a ver com a necessidade das empresas o identificarem internamente, valorizarem as suas pessoas, e sem complexos, para as preservarem.

A minha experiência pessoal é positiva, pois perto dos 60 abracei um novo projecto do qual tanto gosto e nunca senti o peso da idade como condicionante. Orgulho-me de trabalhar num grupo onde o valor das pessoas não tem essa perigosa etiqueta redutora, que pode deixar muito a perder, para quem não sabe conjugar a força da juventude com o conhecimento da experiência.

E vocês, em que fase estão? São dos que gostam de trabalhar e constroem o futuro com os jovens, ou são dos que estão “doidos” para ir para casa e só complicam a vida a quem chega?

Essa é a vantagem dos carros bons – são-no até ao fim e, a cada ano, aumentam de valor. Chamamos-lhes “clássicos”, mas são uma referência. Tal e qual as pessoas que nos marcam e nos inspiram, mesmo na nossa empresa.

Artigo publicado na revista Marketeer n.º 332 de Março de 2024

Artigos relacionados