Nem tudo é uma questão de quotas

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Tenho um disclaim: nunca fui a favor de quotas. Até há uns anos, não as percebia. Num mundo normal, não há imperativos. Num mundo normal, não há imposições. Num mundo normal, não há uns e outras. Por isso, e com espírito naïf, fui sendo contra as quotas. Entendi que não valorizavam. E que a meritocracia devia vingar. Só que o tempo – esse forte aliado da sabedoria – provou-me precisamente o contrário. Afinal, apesar da passagem dos anos – e não, não escrevo isto só porque sou mulher, mas também – ainda é preciso que elas, as quotas, existam.

Claro que há um número cada vez mais alargado de mulheres no topo. Claro que há mulheres a dirigir. Nas empresas, nas organizações, nos media, na comunicação. Em alguns casos, de forma tranquila; noutros, a ter que provar todos os dias!

Nesta edição da Marketeer, demos páginas a várias mulheres que chegaram à primeira linha do Marketing e das Marcas em Portugal. Que fizeram diferente e por cá continuam. Que não se afirmam por serem, lá está, mulheres, mas pelo real valor a dirigir, a delinear estratégias, a trabalhar equipas e a seguir em frente.

Não queremos que esta seja edição de quotas. Que a vejam como de exclusão ou segregadora. Enquanto manifesto feminista, como tantas vezes se confunde. Pelo contrário, que a entendam como edição inclusiva que, em mês da Mulher, mostra quão bem se trabalha, também no feminino, em Portugal.

Há dias, a Susana Coerver – directora de Marketing da Jerónimo Martins Meal Solutions – partilhava um post no LinkedIn, em que nos lembrava quão importante é estarmos, trabalharmos e seguirmos em conjunto. Seja enquanto mulheres ou no todo. Num mundo normal ou perfeito, seria assim. Até lá, continuaremos a ter as que chegam ao pódio e que, apesar da selva, se mantêm firmes. Depois, que venham então as quotas!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 308 de Março de 2022

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