Não deixem que os italianos voltem

alvaromendonca2A história dos sucessos recentes da Fer­rari na Fórmula 1 deve-se à criação de um “dream team”, composto por um director, uma equipa técnica e um conjunto de pilotos que, combinados, lhe garantiram o êxito.

Depois de quase vinte anos sem títulos, a mítica equipa italiana contratou o francês Jean Todt, que tinha dado vários campeonatos mundiais à Peugeot, para seu director despor­tivo. Com Jean Todt chegou também o piloto alemão Michael Schumacher e o seu compa­triota Ross Brawn, um mestre em planeamen­to e estratégia de Grandes Prémios. Na equipa técnica misturavam-se os melhores enge­nheiros de chassis e de motores, de múltiplas nacionalidades, comandados pelos melhores projectistas ingleses.

O resultado é conhecido. Dois anos depois de o “dream team” ter tomado conta da equi­pa, a Ferrari iniciou a melhor fase da sua his­tória desportiva, dando cinco títulos conse­cutivos a Schumacher e um título ao finlandês Kimi Raikkonen, entre 2000 e 2007. Notável.

Depois disso, o “dream team” desfez-se. Jean Todt abandonou a Ferrari, Ross Brawn montou a sua própria equipa (que seria aliás campeã em 2009) e a equipa técnica disper­sou-se pelas rivais Mercedes, McLaren, Red Bull e Renault. A Ferrari contratou entretanto o bicampeão Fernando Alonso, indiscutivel­mente um dos melhores pilotos de sempre da Fórmula 1 e o único que conseguiu, ao volante de um Renault, quebrar a hegemonia italiana de 2000 a 2007. Com Alonso, vieram também os reforços na equipa técnica, mas o certo é que os resultados teimam em não aparecer e a Ferrari vai já em três anos de jejum. Porquê? A resposta foi dada há um mês pelo tricampeão mundial e antigo piloto da Ferrari, o austríaco Nikki Lau­da: “Os italianos tomaram conta da equipa.”

Em Portugal, a intervenção externa da troika, composta pelo BCE, FMI e Comissão Europeia, traz a Lisboa um verdadeiro “dream team”. Anos de gestão “à italiana” deixaram o País de rastos e à beira da bancarrota. Agora, e depois de um aumento de capital, concre­tizado na forma da ajuda externa num valor nunca inferior a 80 mil milhões de euros, te­remos uma reestruturação dos custos, ao ní­vel do que melhor se faz nos mercados sofisti­cados. A reestruturação dos custos e da dívida será acompanhada de perto pelos credores mais importantes que, depois de reunidos em assembleia, nomearão o seu administrador judicial. A boa notícia é que, como os países não vão à falência, o programa de viabilização é garantido.

Aos comandos do relançamento da nossa empresa-país teremos uma troika de compe­tentíssimos gestores: o senhor FMI Portugal, o dinamarquês Poul Thomsen; o líder da dele­gação da Comissão Europeia, o alemão Jürgen Kröger; e o chefe da delegação do BCE, o tam­bém alemão Rasmus Rüffer.

Gestão alemã, com apoio da melhor con­sultora do mundo, o FMI Inc., que melhor ga­rantia temos nós de que, pelo menos nos pró­ximos três anos, contaremos com um “dream team” aos comandos de Portugal.

Fica apenas um apelo: depois da partida da troika, por favor, não deixem que “os ita­lianos” voltem…

Artigo publicado na edição Maio 2011 da Revista Marketeer

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