Midori rompe o estigma

Não, este restaurante não é para quem gosta de rolos de salmão com fruta e philadelphia. Aqui, as melhores propostas servem-se em menus únicos e de uma execução ao pormenor. Pedro Almeida é o responsável por conseguir que, ao longo de quase quatro horas, tiremos os pés do chão e entremos em outros mundos

Texto de M.ª João Vieira Pinto

Já conhecia o Midori, no Penha Longa, em Sintra? Então, esqueça tudo. Ou quase tudo! Porque há o antigo Midori e o novo Midori. E o novo transporta quem chega e se deixa ficar para outra dimensão.

Pedro Almeida é o chef que se entrega e diverte a fazer combinações e cruzamentos improváveis. Pegou no que o anterior tinha de melhor e, num espaço apenas com 18 lugares, faz aquilo que lhe dá prazer e que os verdadeiros apreciadores distinguem. Aqui, não espaço para rolos de salmão e philadelphia. A cozinha é de autor e como que verdadeira obra de filigrana. Meticulosa e ao pormenor, em particular em sabores que contrastam entre o louro da serra de Sintra e o wasabi do Japão!

Pedro Almeida não quer uma associação a cozinha japonesa-portuguesa. Mas a uma cozinha japonesa com a nossa alma lá dentro. Claro que a nossa alma é feita de sabores e aromas tradicionais, pelo que a gastronomia de Pedro Almeida só podia ter influências de sempre da sua vida. Desde o tomate ao pimentão, passando pelos coentros ou a manteiga. Ah, e não estranhe se for tentado a “roubar” fruta da árvore.

Em 2016, Pedro Almeida desenhou qualquer coisa como 20 menus de degustação, cada um com 12 pratos. Mas a larga maioria de clientes teimava em pedir o tradicional sushi-sashimi. Por isso, o chef atirou a frustração para trás da parede e entregou-se de cabeça ao novo projecto. Aquele onde os clientes vão porque apenas querem mergulhar nas suas receitas de degustação. «Investi imensas horas de estudo e de formação a criar menus que fossem uma ode à gastronomia japonesa com influência muito internacional e as pessoas estavam a passar ao lado», lembra.

Entremos, então, no pequeno Midori, cuja porta bem disfarçada apenas se abre para os clientes. Na sala, a decoração é minimal, alguns apontamentos do espaço anterior e uma vitrine imensa para os jardins do Penha Longa – ou não fosse “verde” o significado de Midori!

Além de um pequeno número de propostas à carta, o que há é nada mais que três propostas de menu. A começar pelo Midori, para quem quer ter apenas e só experiência de sushi e sashimi mas, claro, sem rolos – aqui apenas entram niguiris – ou frutas ou soja! No fundo, uma proposta mainstream que se quer educativa.

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Segue-se um menu de degustação com nove momentos, o Chísai, e um de 11 momentos, o Ooki. Alguns pratos foram importados do anterior, como a sopa miso de caldo verde – ligeiramente diferente da inicial – e o niguiri de carapau, dois pratos queridos do chef que mereceram a honra de figurar na primeira carta. «Agora, contam-se pelos dedos das mãos os pedidos à carta que nos fizeram desde que abrimos. E é isso que queremos. Que quem venha ao Midori leve daqui uma experiência única», sublinha o chef. Nós trouxemos!

Pedro Almeida quer continuar a aprender e a criar. Sabe que tem uma equipa ímpar e propostas só suas e não esconde o sonho de chegar à estrela. Seria a primeira de um japonês um Portugal. Por isso, perca lá o estigma. De Lisboa a Sintra são 15 minutos. Tantos ou menos como chegar à Baixa da capital.

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