A música tem muita importância na sua vida? No Dahlia também

É um restaurante, mas apresenta-se como um “listening bar”. E assim que se entra no Dahlia percebe-se a importância que a música tem para os responsáveis pelo projecto. Nas prateleiras é impossível não reparar na quantidade de discos de vinil à disposição de quem faz a curadoria musical. E ao fundo, por cima da cozinha, duas grandes colunas projectam, durante toda a noite, a música que enche a sala. Contam-nos que a música é uma paixão comum aos quatro sócios fundadores do Dahlia – David Wolstencroft, Hamish Seears, Tiago Oudman e Harrison Iuliano – e que o equipamento que têm no espaço foi o maior investimento ali feito.

É junto ao Cais do Sodré (na Travessa do Carvalho) que se esconde este segredo mal guardado que (desde que abriu este Verão) conquistou já portugueses e que os turistas que visitam Lisboa também já descobriram. Portanto, aconselho-o a fazer reserva antecipadamente e, ao visitá-lo, ir em grupo. Quatro pessoas parece ser um número perfeito para se conseguirem ouvir (não esquecer que a música é uma constante e um dos pratos principais) e para poderem partilhar uma série de iguarias.

Adam Purnell, que veio de Berlim para Lisboa para assumir a gerência do Dahlia, poderá com a sua simpatia recomendar-lhe as iguarias, os vinhos (neste espaço são todos naturais, maioritariamente portugueses, mas também de países como Espanha, França ou Nova Zelândia) ou cocktails (ou mocktails) que deverá degustar.

Já na cozinha, Vítor Oliveira, antigo chef do Damas (Lisboa), e Gabriel Rivera (oriundo da Guatemala), assumem o leme levando à mesa propostas gastronómicas, confeccionadas com técnica e rigor, utilizando produtos frescos e sazonais, muitos dos quais escolhidos diariamente no Mercado da Ribeira, quase ali ao lado. Na ementa procuram ter pouca carne e que aquela que apresentam seja de partes dos animais geralmente menos comprada nos mercados. Uma preocupação com a questão da sustentabilidade que não se vê apenas na grande aposta em pratos de base vegetal.

Na noite em que jantámos no Dahlia, éramos quatro à mesa e fizemos como nos recomendaram: partilhámos. À mesa chegaram, para começar, croquetes de rabo de boi com molho de kimchi e tomate (5€) que com o seu calor aconchegaram a alma de quem vinha da rua e onde o frio da noite já se faz sentir nesta altura do ano. Chegou, de seguida, o tártaro de beterraba curada com laranja e vinagrete de pistácio (7,5€) como entrada fria. E, como entrada quente, a couve-flor caramelizada, chimichurri, creme de amêndoas (8,5€), que, na minha opinião, não deverá deixar de pedir. É mesmo especial.

Entrando nos pratos, e continuando a partilhar, trouxeram-nos camarão selado com chili bisque e kimchi (10,5€). Aqui, se for sensível ao picante, vá a medo! No parto de frango frito e molho picante da casa (11€) não se sentiu tanto o picante. Ou então ainda eram efeitos do anterior. Mas estava com a crocância no ponto e nada seco por dentro (como chegámos a temer). Houve ainda tempo para experimentar o peixe do dia que era garoupa com molho de chilli caseiro e puré de batata doce (15€). Também não será esquecido tão cedo. Nas sobremesas não contem com os níveis de doçura com que os restaurantes portugueses geralmente brindam os comensais. Aqui entre a proposta de chocolate tahini, banana e crumble (6€) e a tapioca, ameixa e avelãs (6€), a primeira agradou-nos mais ao palato, mas provavelmente porque tendemos sempre mais para o chocolate.

Aberto de terça-feira a sábado, as refeições começam a ser servidas a partir das 18h30 até à 01h00 (mas atenção que a cozinha encerra às 23h).

Texto de Maria João Lima

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