ISEG: Educar os líderes para um futuro mais sustentável

A sustentabilidade integra a missão e valores definidos pelo ISEG, e já se notam as melhorias de eficiência nas instalações da faculdade, onde está a ser plantada uma minifloresta urbana, e foram melhoradas as condições para as bicicletas. Para conhecer as ideias e os projectos desta faculdade para um futuro mais sustentável, falámos com Winnie Picoto, vice-presidente do ISEG com o pelouro da Sustentabilidade.

O ISEG destaca a existência de uma cultura de solidariedade e colaboração como parte da sua abordagem plural. Como se manifesta esta cultura dentro da comunidade académica e qual o impacto nas relações entre estudantes, professores e colaboradores?

A cultura do ISEG está assente na ambição e na colaboração, valorizando a inclusão e a diversidade. Por exemplo, muito recentemente aderimos à rede global de universidades “Age-friendly” (uma iniciativa da Dublin City University, em 2012), sendo o ISEG a primeira faculdade portuguesa reconhecida como “Age Friendly University”. Dentro da nossa comunidade académica incentivamos a abordagem colectiva e inclusiva da tomada de decisões e do desenvolvimento de novas iniciativas.

Destaca-se também a proximidade entre estudantes e professores, que promove um ambiente de aprendizagem mais personalizado e cria um sentimento de comunidade e pertença muito forte dentro do ISEG. Os alunos sentem-se ouvidos e valorizados, o que, por sua vez, estimula a participação nas actividades académicas e extracurriculares.

Além disso, o ISEG orgulha-se de receber alunos de diversas origens, reconhecendo a educação como uma força transformadora que capacita a comunidade para superar os grandes desafios que enfrentamos.

Pode partilhar alguns exemplos de acções que reflectem a cultura de solidariedade e colaboração do ISEG? E de que forma estas acções estão a prestar o seu contributo para a comunidade académica?

Há um excelente exemplo de colaboração entre os estudantes, que foi, aliás, destacado na recente campanha de marketing sob o mote “ninguém tem os números do ISEG”. Entre outros números destacámos a média (numa escala de 0 a 20) de alunos que emprestam apontamentos aos colegas. Num inquérito aos estudantes, onde obtivemos mais de 300 respostas, apurámos que, em média, 19,75 em 20 dos alunos emprestam apontamentos aos colegas. Penso que só este indicador traduz a cultura de colaboração que se vive no ISEG.

Como é que o ISEG aborda iniciativas específicas para promover a diversidade e a igualdade de oportunidades?

Existe essa preocupação tanto a nível dos programas de formação como na participação em eventos e outras iniciativas. Essa é, aliás, uma das dimensões avaliadas nos indicadores de rankings e acreditações internacionais onde estamos. Temos uma Comissão para a Igualdade de Género, Diversidade e Inclusão, responsável pela implementação de um plano abrangente destinado a promover a igualdade de género e a diversidade e garantir a inclusão no ISEG.

Além disso, temos vários docentes a desenvolver investigação na área da igualdade e inclusão, tendo o ISEG contribuído com apresentação de alguns estudos relevantes nessa área e participado em organizações como a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género ou o IGen.

No passado mês de Novembro tivemos ainda como exemplo o trabalho de Claudia Goldin, prémio Nobel da Economia que se destacou pelo estudo do papel das mulheres no mercado de trabalho, em discussão no ISEG.

Como é que o ISEG se está a envolver com a comunidade local, e quais são os critérios para seleccionar parcerias que promovam a responsabilidade social?

Procuramos desenvolver acções de promoção da responsabilidade social junto da comunidade, quer pela associação a iniciativas promovidas por organizações sem fins lucrativos, quer pela prática que procuramos oferecer aos nossos estudantes. Este ano lectivo, por exemplo, os novos estudantes foram convidados a participar no Mural do Clima, uma iniciativa de sensibilização para as causas, consequências e efeitos colaterais das alterações climáticas, baseado no trabalho do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, da ONU.

Na semana de recepção, os alunos tiveram ainda a oportunidade de participar numa acção de voluntariado ambiental com o Centro de Interpretação de Monsanto, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, para recolha de espécies invasoras no Parque Florestal de Monsanto.

Também este ano o ISEG, através de parceiros privados (como por exemplo, o Santander, KPMG, Fundação Económicas e Career Partners), apoiou 78 alunos com bolsas de mérito para o primeiro ano da licenciatura. O programa de Bolsas é uma forma de premiar o talento, mas simultaneamente ajudar as famílias portuguesas que possam ter dificuldades em apoiar os seus filhos no percurso escolar.

Em termos de infra-estruturas e operações diárias, como é que o ISEG aborda a eficiência energética e a gestão de resíduos no campus?

Nessa área temos, de facto, dado passos importantes e decisivos, tendo inclusivamente sido integrado na nossa missão e valores o desenvolvimento sustentável, juntamente com a ética e a responsabilidade social, como um dos pilares fundamentais da nossa actuação.

Em 2021, definimos a nossa Estratégia de Sustentabilidade 2030, um plano ambicioso que reflecte o nosso compromisso de contribuir para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com as práticas sustentáveis e uma visão para o futuro; em 2022 calculámos a nossa pegada de carbono, o que nos permitiu identificar as principais fontes de emissões e desenvolver estratégias adequadas para a redução do nosso impacto ambiental, com o objectivo de nos tornarmos neutros em carbono até 2030.

Desde 2022 monitorizamos os consumos energéticos de 15 em 15 minutos, permitindo-nos uma rápida detecção de anomalias e um consumo de energia mais eficiente. Implementámos várias melhorias no campus, incluindo a substituição de lâmpadas por LED, a troca progressiva dos sistemas de ar condicionado por máquinas mais eficientes, e a instalação de sensores de presença em locais de baixa circulação, representando uma redução significativa do nosso consumo energético.

Ainda no que diz respeito ao campus, estamos também a melhorar o acesso para bicicletas, incluindo a instalação de um novo parque para este tipo de veículos com equipamentos de carregamento eléctrico.

Também este ano o ISEG lançou o processo participativo para a criação e manutenção de uma minifloresta urbana no seu campus, um empreendimento ecológico que pretende ser um laboratório vivo e participativo desde o planeamento e projecto, até à implementação, cuidado e fruição.

No que toca à gestão de resíduos tomámos medidas como aumentar o número de recipientes para recolha de lixo com separadores de resíduos e realizamos campanhas de consciencialização sobre a importância da separação dos resíduos. Ao nível interno estamos a investir na desmaterialização de processos. Damos especial atenção à gestão dos resíduos internos, como papel, plástico e lixo electrónico. Com estas medidas, temos conseguido melhorar a nossa eficiência operacional, reduzimos o impacto ambiental e estabelecemos um padrão de educação e prática sustentável dentro da nossa comunidade.

Existem metas específicas para a redução do consumo de energia e minimização de resíduos?

No ISEG, estabelecemos metas ambiciosas, alinhadas com o Programa ECO.AP, que reflecte o nosso empenho em práticas sustentáveis e responsabilidade ambiental. Comprometemo-nos a reduzir em 40% os consumos de energia primária através da melhoria da eficiência energética e esperamos aumentar a aquisição de energia de fontes mais limpas nos próximos anos. Além disso, o nosso plano é assegurar que 10% da energia que consumimos seja produzida directamente nas nossas instalações, recorrendo aos painéis solares.

No que diz respeito à água, temos como objectivo a redução do consumo em 20%, através da identificação de fugas e a utilização de torneiras e descargas mais eficientes. Planeamos também reduzir o uso de materiais em 20% e atingir uma taxa de 5% de renovação energética e hídrica nos edifícios.

Disponibilizámos fontes de água potável pelo campus para diminuir o uso das garrafas de plástico e adoptámos uma política de compras sustentáveis, que se foca na redução progressiva de aquisição de plástico de utilização única, para termos um campus Plastic Free até 2030.

De que forma a sustentabilidade está a ser integrada nos cursos e actividades de pesquisa no ISEG?

Podemos apresentar aqui alguns exemplos de projectos, como o “Eground Water”, que se foca no uso eficiente das águas subterrâneas na região do Algarve e do Mediterrâneo. O “Sust In Africa”, um projecto ambicioso que visa capacitar pequenos agricultores e PME agrícolas no oeste e norte da África para adoptarem práticas de agricultura intensiva e sustentável. Outro projecto de destaque é o “Biomass”, um consórcio entre o ISEG e o Natural Resources Institute Finland (LUKE), com foco nas centrais de valorização de biomassa, explorando formas sustentáveis de aproveitar recursos naturais para a produção de energia. E, por fim, o “Projecto TiTuSS”, que investiga os impactos socioeconómicos e territoriais da expansão da rede de vias rápidas em Portugal, através da análise de como isso influencia a localização da população, das empresas, do emprego e, consequentemente, o sistema de mobilidade.

Temos também uma semana dedicada aos ODS, a Up Skill Week ODS, e ainda oito programas educacionais dedicados aos ODS e à sustentabilidade. Podemos destacar o Master in Management, um programa que tem sido um grande sucesso, com uma abordagem focada nos ODS, que capacita uma nova geração de líderes com uma visão mais alargada do desenvolvimento e da gestão. O novo Master in Innovation and Research for Sustainability, com um apelo à sustentabilidade para desenvolver conhecimentos e soluções. Ainda temos as formações executivas, como o programa Sustainability, a corporate journey em parceria com o Grace e o Sustainable Finance, Green and Climate Finance, um dos principais temas da actualidade na agenda do sector financeiro e, mais recentemente, a formação ESG Reporting Corporativo e não Financeiro.

E quais os objectivos para o futuro?

O principal objectivo é o ISEG ser “carbon neutral” em 2030, com um campus “plastic free” que promova o bem-estar da sua comunidade.

O nosso relatório de sustentabilidade permite-nos ter uma visão do progresso que fizemos nestas áreas, de forma abrangente nas diversas actividades relacionadas com a sustentabilidade dentro da escola, do campus, na investigação, educação, relação com a comunidade e a transparência. Temos um sistema de Business Intelligence que nos permite obter alguns indicadores de desempenho que definimos para esta área. Sabemos, por exemplo, que as publicações de artigos científicos apresentam uma contribuição significativa para o ODS 9 da inovação, o ODS 10 da desigualdade e o ODS 12 do consumo e produção sustentável.

Pela primeira vez este ano fizemos parte do Positive Impact Rating. Este rating tem por objectivo medir a percepção dos estudantes da nossa comunidade académica em relação ao impacto na sustentabilidade. Alcançámos uma classificação 4 numa escala até 5, que ref lecte a forma como estamos a ser percepcionados pelos nossos alunos em relação aos esforços para a sustentabilidade e os ODS.

Acreditamos, assim, que estamos no caminho certo. Para o futuro, o objectivo é melhorar ainda mais esta monitorização, para fazermos cada vez mais e melhor. O papel da universidade, como um laboratório de ideias, é avançar e replicar boas práticas em sustentabilidade, e educar futuros líderes, gestores e economistas para contribuírem significativamente para um futuro mais sustentável. O ISEG está empenhado em liderar pelo exemplo, demonstrando que a sustentabilidade pode e deve ser uma parte integral da educação superior.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 329) da Marketeer.

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