Imagine ficar sem rede

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Ainda se lembram como éramos antes das redes? Como falávamos, partilhávamos, comunicávamos e nos conhecíamos? Como só íamos sabendo partes da parte real da vida?

Não sendo este espaço um muro de lamentações, arrisco em partilhar momentos dos meus dois últimos anos: perdi três tios e um primo, terminei um casamento de 21 anos, partilhei angústias de um, dois, três cancros daquela amiga de sempre, vi a filha ir estudar para outro país e a casa ficar vazia. Quem me acompanha nas redes sociais sabe que estou (quase) sempre a sorrir. Ou a rir. Porque é como gosto. Só que quem apenas me vê por lá não percebe ou não conhece o resto, o outro lado de mim.

Não são isso as redes? O que mostramos ou queremos? Apenas um ou outro pedaço de nós?

Agora, pense nas marcas. Cresce o número das que se constroem por ali, das que desenham e contam histórias, das que nos compram e se vendem. Nas redes, produtos e marcas ganham vida, uma outra vida. Nas redes, o que vemos no feed é mais que o vestido da semana, o vinho da partilha, o prato do chef. Nas redes, tudo é imagem e tentação. Vontades que se afinam e quereres que se incitam.

Então, agora, imagine se ficássemos sem rede, sem estas redes! Se o desligar de horas se prolongasse por dias ou semanas. Conseguiriam rede que aguentasse o tombo? Depois do mais recente apagão que nos deixou sem Facebook, WhatsApp e Instagram durante umas longas e penosas horas, quisemos perceber a dependência (ou não) do social digital. Por isso, fomos falar com marcas de diferentes sectores e, todas elas, com forte presença online. Para já, garantem-nos que a queda não obrigou a assistência médica. Mas terão aprendido que o velho ditado “não pôr todos os ovos no mesmo cesto” continua a ser válido como ontem? Ou vão continuar a repetir o erro até ao dia em que já não tenham tratamento?

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 304 de Novembro de 2021

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