Friends of Glass: A era do vidro: um material de embalagem intrinsecamente sustentável

A Friends of Glass acredita que as embalagens de vidro são a melhor escolha, quando se fala de sustentabilidade, por três razões fundamentais: a saúde, o sabor e a protecção do meio ambiente. Criada em 2009 pela Federação Europeia de Vidro de Embalagem (FEVE), esta organização centra-se na consciencialização e transmissão de mensagens pró-vidro, sempre numa vertente sustentável. Beatriz Freitas, secretária-geral da Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem (AIVE), explica à Marketeer por que o vidro é uma opção sustentável.

De que forma a Friends of Glass aborda o tema da sustentabilidade do ponto de vista das embalagens?

Se pensarmos que tudo o que consumimos vem dentro de uma embalagem, é importante ter consciência do impacto destes materiais, tanto na nossa saúde como no planeta, e saber escolher a melhor opção.

A plataforma Friends of Glass procura que a preferência por embalagens de vidro seja transferida da intenção para o acto, através de três estratégias que se complementam: influenciar as decisões de compra, com a escolha de produtos embalados em vidro (B2C), através da Friends of Glass; assegurar que as marcas permanecem favoráveis às embalagens de vidro e se tornam prescritores do material (B2B), através da AIVE (Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem); influenciar o comportamento dos consumidores e empresas para a reciclagem, de forma a atingir as metas do país para 2025, em particular junto do consumidor final e do canal Horeca, onde reside a maior oportunidade incremental.

Que acções foram desenvolvidas este ano neste âmbito?

Este ano foi particularmente especial para o sector do Vidro, já que as Nações Unidas consagraram oficialmente 2022 como o Ano Internacional do Vidro. Esta celebração foi apoiada por 1140 entidades, entre elas sociedades científicas e artísticas, fabricantes e fornecedores de vidro, universidades e centros de investigação e museus de 90 países de todo o mundo, incluindo Portugal.

A inauguração oficial do Ano Internacional do Vidro (IYOG), a nível ibérico, decorreu em Madrid, a que se seguiu uma série de actividades para promover a importância tecnológica, científica, cultural e económica do material mais puro e 100% reciclável do planeta. As acções em torno do Ano Internacional do Vidro visaram reforçar a sua importância no nosso quotidiano, nos mais diversos momentos, seja, por exemplo, na conectividade ao mundo com os ecrãs, na nossa protecção, na indústria farmacêutica, na decoração, nos mais diversos campos da inovação científica e, claro, na alimentação, com a indústria de embalagem.

A nível europeu, a FEVE lançou uma campanha sob o mote “Glass Makes the Moments That Matter” para celebrar o passado, presente e futuro das embalagens de vidro, que contou com presença em TV (em Portugal) e canais digitais nos vários países europeus. Das várias iniciativas nacionais, podemos ainda referir, por exemplo, o lançamento da campanha rádio e TV “O Planeta é a nossa Casa”, com a participação da food stylist Maria João Clavel e do apresentador João Montez.

O ano ficou ainda marcado pelo lançamento da plataforma Vidro+, uma iniciativa colaborativa que tem como objectivo criar um compromisso entre os diferentes agentes da cadeia de valor do vidro de embalagem que actuam no mercado nacional, incluindo Entidades Governamentais, Universidades e Centros de Investigação e Organizações Não Gover mentais, para promover o aumento da taxa de reciclagem do vidro em Portugal. A Plataforma Vidro+ tem como objectivo alcançar 90% de recolha de embalagens de vidro para reciclagem até ao ano 2030.

Que mensagens pretendem transmitir quando investem neste tipo de iniciativas?

Reforçar a importância de optar por produtos embalados em vidro, não descurando a sua posterior reciclagem, é a principal mensagem da Friends of Glass, com foco nos principais benefícios do vidro:

• Capacidade de preservar 100% do valor nutricional dos alimentos: ao ser inerte, natural e sem aditivos, o vidro garante todas as qualidades originais dos alimentos, sem conferir qualquer sabor ou odor.

• Maior segurança em termos alimentares: as embalagens de vidro apresentam um menor risco de migração de químicos para os alimentos, entre todas as opções de embalagem disponíveis, de acordo com um estudo da Food & Science Research. O vidro pode estar em contacto directo e seguro com os alimentos ou bebidas de toda família.

• 100% natural: a composição do vidro é 100% natural (areia, carbonato de sódio e calcário, sem qualquer aditivo nocivo), o que garante a máxima qualidade, tanto da embalagem como do seu conteúdo.

• 100% reciclável: quando recicladas, as embalagens de vidro regressam ao mesmo ciclo de produção, para se tornarem novamente uma embalagem 100% reciclável. A reciclagem do vidro economiza energia, reduz as emissões atmosféricas e poupa recursos naturais, cumprindo assim os objectivos da economia circular.

Quais são os principais desafios?

O principal desafio está associado aos níveis de recolha de embalagens de vidro usadas para reciclagem, insuficientes para suprir as necessidades. Quanto mais embalagens de vidro usadas forem recolhidas selectivamente, maior será a sua incorporação no processo produtivo de novas embalagens, uma vez que todas as embalagens de vidro no mercado poderiam ser recicladas.

Mas sendo o vidro um material infinitamente reciclável, o que ainda está a faltar para as embalagens usadas deste material não acabarem no lixo comum?

Nos últimos 10 anos, Portugal registou um boom turístico, principalmente nos maiores centros urbanos. Infelizmente, as infra-estruturas de apoio à recolha selectiva das embalagens de vidro para reciclagem não conseguiram responder às necessidades dos estabelecimentos Horeca (hotéis, restaurantes e cafés). É precisamente neste canal que as taxas de separação das embalagens de vidro usadas são mais baixas. A abertura de um vidrão típico foi desenvolvida para a colocação de uma garrafa de cada vez, adequado para um consumidor doméstico. Para um estabelecimento Horeca, que gera mais quantidades, não faz sentido colocar uma unidade de cada vez.

Assim, estão já identificadas duas áreas de actuação necessárias: a nível do serviço de recolha com foco na proximidade, taxa de cobertura, optimização da frequência de recolha, limpeza, manutenção dos contentores e fiscalização; e a nível da comunicação e sensibilização no canal Horeca.

Sendo o vidro um material milenar, a percepção pública desta indústria em Portugal não está ainda conotada com a inovação como outros sectores. Essa é uma falsa percepção?

Completamente. A indústria vidreira tem necessidade de uma aposta contínua na inovação, reinventando-se, quer ao nível do produto, quer ao nível do processo.

Na inovação do produto podemos destacar as embalagens de vidro diferenciadoras, o eco-design e a redução de peso, naturalmente sem afectar a performance no seu ciclo de vida.

A nível do processo, a inovação tecnológica tem permitido tornar a indústria mais eficaz, através da eliminação de desperdícios, e de forma a ser mais competitiva, tanto no mercado externo, como com os outros materiais, desafiando-se no desenvolvimento de soluções mais eficientes do ponto de vista ambiental e da sua pegada ecológica.

A vertente da Responsabilidade Social e Corporativa, no meio em que se insere e na relação e apoio às comunidades locais e projectos de integração social, é também hoje uma realidade em todas as empresas do sector.

Quais as aplicações práticas dessa inovação e como contribuem para a sustentabilidade ambiental?

A indústria do vidro de embalagem tem vindo a demonstrar uma melhoria do seu desempenho ambiental, com reduções notáveis por tonelada de vidro fundido, nos últimos 20 anos:

• -66% do consumo específico de água (m3 consumidos por tonelada de vidro fundido);

• -92% da emissão de partículas expelidas nas chaminés (ton/ton vidro fundido), devido à instalação de electrofiltros a jusante de todas as chaminés;

• -30% de emissão específica de SO2 , com a total reconversão energética, de fuel para gás natural;

• -28% de emissão específica de CO2 (GEE).

E quais são os grandes desafios que se colocam às empresas?

Os principais desafios da indústria passam pela criação de soluções tecnológicas para o uso de energias alternativas aos combustíveis fósseis, nomeadamente o hidrogénio, não só nos fornos, mas nos demais equipamentos do processo.

As alternativas ao gás natural, que passam pela maior utilização de electricidade de fontes renováveis e o hidrogénio, terão que ser economicamente viáveis e disponíveis a uma escala industrial, o que ainda não acontece.

Como se caracteriza a indústria do vidro de embalagem no nosso país?

A indústria do vidro de embalagem é um sector que gera cerca de 3500 empregos em Portugal e que tem um peso importante para a balança comercial do País, uma vez que mais de 50% das embalagens de vidro fabricadas são enviadas directamente para empresas produtoras de alimentos e bebidas noutros países. Portugal é, assim, o maior produtor, per capita, de embalagens de vidro do continente europeu, com cerca de 6 mil milhões de embalagens produzidas anualmente para a indústria alimentar.

Todas as fábricas portuguesas utilizam as melhores técnicas disponíveis para o fabrico do vidro de embalagem, podendo afirmar-se como um sector de vanguarda tecnológica. Hoje é possível encontrar uma garrafa produzida em Portugal, em qualquer uma das grandes empresas multinacionais europeias do sector da alimentação. Quando um qualquer embalador multinacional dá preferência à embalagem de vidro para embalar os seus produtos, sabe que a qualidade do seu produto junto do consumidor final nunca será posta em causa.

Trata-se, portanto, de um sector inovador, competitivo e com uma forte componente exportadora, comprometido com a inovação, descarbonização, eficiência e, naturalmente, com as necessidades do mercado.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 317) da Marketeer.

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