Delta Cafés: Seis décadas de dedicação ao café

A história da Delta Cafés deve começar a ser contada ainda antes da sua fundação. Isto porque a família Nabeiro já tinha um histórico anterior na torrefacção de café, com início nos anos 1930. Foi esse know-how e essa experiência, nomeadamente da parte de um tio, que inspirou Manuel Rui Azinhais Nabeiro a fundar a Delta, em Fevereiro de 1961, tendo como primeira morada um pequeno armazém de 50 m2 em Campo Maior, terra à qual continua umbilicalmente ligada.

Sendo à época uma microempresa com apenas três colaboradores e capacidade para torrar 30 kg de café por dia – em nada comparável ao volume actual -, esse momento inicial foi determinante para lançar as bases sólidas da marca e perceber, ao mesmo tempo, que havia terreno fértil para crescer. «O mundo dos negócios, de uma forma geral, e o segmento dos cafés, em particular, eram muito diferentes do que são hoje. Era um mercado que ainda estava a começar a crescer, num país em que a economia iniciava a sua aposta na industrialização», recorda Marco Nanita, director de Marketing da Delta Cafés.

Mas a ambição global, essa esteve sempre presente, desde o início. «Os objectivos dessa época, sendo semelhantes àqueles que a Delta tem na actualidade, assentavam já nas premissas da afirmação em território nacional e a expansão para lá das nossas fronteiras », sublinha o responsável. Vinte e cinco anos depois da fundação, em 1986, a Delta inicia o seu plano de internacionalização e começa a exportar café para o país vizinho, com a criação do primeiro departamento comercial em Badajoz, na região da Extremadura, bem perto de Campo Maior.

A expansão internacional viria mesmo a revelar-se determinante para a evolução da Delta Cafés. De uma forma natural, o crescimento para mercados externos fez-se com a multiplicação de departamentos comerciais em Espanha, abrangendo toda a geografia do país vizinho. A partir daí foi também natural a chegada, com operação própria, a outros pontos do continente europeu e do mundo, com os quais a empresa já tinha relações comerciais, nomeadamente França, Luxemburgo, Brasil e Angola – a que se juntam, mais tarde, departamentos comerciais na Suíça, China e Dubai. Além destas operações directas, a Delta Cafés conta actualmente com parceiros de distribuição nos cinco continentes, com destaque para 23 países na Europa, seis em África, três na América do Norte, outros três na Ásia e Austrália.

Sessenta anos volvidos, os cerca de 4000 colaboradores, perto de 400 milhões de euros de facturação (em 2019) e 100 toneladas de café torrado por dia são outros indicadores que explicam a dimensão da Delta Cafés.

Décadas de crescimento

Mas se hoje a Delta Cafés é uma embaixadora de Portugal no mundo, este é o resultado de um trabalho que começou a ser fomentado desde uma fase prematura na vida da empresa. Logo em 1962, apenas no seu segundo ano de actividade, a Delta lançou no mercado o seu primeiro lote de café, o Delta Popular, que era vendido numa lata pintada com as cores da bandeira nacional. Um sinal claro de que a empresa quis, desde o início, posicionar-se como um símbolo de Portugal e da portugalidade. «A Delta Cafés é, efectivamente, uma das marcas que melhor corporizam a noção de portugalidade. A lata do Delta Popular, um dos mais icónicos objectos na história da marca, foi apenas o primeiro de muitos passos na nossa afirmação como símbolo de Portugal», refere Marco Nanita.

Retomando o fio à meada, é sobretudo a partir da segunda metade da década de 1970 que a Delta Cafés entra numa fase de expansão. Para tal, revelou-se decisiva a chegada de um novo ciclo ao nosso País, com a gradual melhoria das condições económicas e sociais da população, em resultado da qual se verificou um acentuado crescimento nos negócios em todos os sectores de actividade.

Os anos 1980 representaram a consolidação desse crescimento, potenciado com a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, em 1986, que se revelou um passo determinante para desbravar o caminho da Delta na expansão para os mercados internacionais. Antes, em 1984, foi criada a Novadelta, em Campo Maior, afirmando-se como a maior fábrica ibérica de café.

As décadas seguintes ficariam marcadas pela reestruturação do negócio, culminando em 1998 na criação do Grupo Nabeiro, como «consequência lógica e natural da diversificação » do negócio, ainda que mantendo o café como core business. Hoje, o grupo agrega cerca de 25 empresas de sectores tão distintos como Alimentação e Bebidas, Imobiliário, Indústria e Serviços, Distribuição e Turismo e Restauração. «Esta segmentação por empresas e unidades de negócio revelou-se decisiva para a modernização da marca, porque nos permitiu estar cada vez mais focados no negócio do café e nas tendências do mercado», lembra Marco Nanita.

ADN de inovação

Recuperar a história da Delta é recordar também seis décadas de inovação no mercado do café. «Atrevo-me a dizer que a primeira grande inovação da Delta terá sido o seu próprio modelo de negócio, baseado na proximidade. O facto de termos dado a importância substancial que demos e que continuamos a dar à proximidade da marca e dos nossos colaboradores, seja com as comunidades em que estamos presentes, seja com os nossos clientes e parceiros, foi algo verdadeiramente inovador, a meu ver. A descentralização do negócio, que materializamos através dos nossos departamentos comerciais, era inédita e totalmente inesperada até à altura, e não temos qualquer dúvida que foi um factor crítico para o sucesso, crescimento e confiança que é hoje inerente à marca Delta Cafés», refere Marco Nanita.

Outro dado que atesta a importância da inovação no seio do Grupo Nabeiro é o facto de a unidade fabril Novadelta ser, nos últimos anos, uma das empresas a nível nacional com maior número de pedidos de registo de patentes. Além da criação do sistema de cápsulas Delta Q, em 2007, destaca-se, mais recentemente, o sistema proprietário RISE, que permite a extracção de um expresso invertido. Estas inovações têm contado com o contributo decisivo da Diverge, a unidade de inovação do Grupo Nabeiro.

A expansão internacional e a inovação são apenas alguns dos eixos que explicam a longevidade e o sucesso da Delta Cafés em Portugal e no mundo. Mas não são os únicos. «Ambos os factores são indissociáveis do facto dos nossos produtos terem ido sempre ao encontro dos desejos e necessidades do mercado, revelando igualmente a capacidade para antecipar tendências», afirma Marco Nanita. Além disso, «a manutenção da estrutura familiar como sistema de governança tem sido um dos factores críticos de sucesso para a marca e para o Grupo Nabeiro, que confere autenticidade, verdade e distinção, quer no negócio, quer no discurso da marca», frisa o director de Marketing da Delta Cafés.

De resto, é do domínio público que já houve tentativas para comprar o grupo à família Nabeiro, nomeadamente por parte de multinacionais do ramo alimentar, mas todas foram rejeitadas. Pelo que é seguro dizer que a Delta continuará a ter tanto de familiar, quanto de portuguesa. Ou não tivesse o comendador Rui Nabeiro já proferido em diversas ocasiões a célebre frase: «A Delta é como um filho e os filhos não se vendem, criam-se.» E que bem que ela cresceu.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empresas 100% Portuguesas”, publicado na edição de Abril (n.º 297) da Marketeer.

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