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A associação portuguesa das agências de viagens e turismo realiza, em 2019, o seu congresso anual na ilha da madeira

Ao longo dos últimos 67 anos, a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do turismo nacional. Tendo no debate de ideias um dos seus alicerces, a APAVT realiza este ano o seu congresso anual na ilha da Madeira, como revela em entrevista o seu presidente, Pedro Costa Ferreira.

Este ano o congresso da APAVT acontece na Madeira. Porquê esta escolha?

Desde logo, e como primeira razão, pela extraordinária importância da Madeira, quer para o mercado emissor português, quer enquanto destino turístico mundial. Mas também por sentirmos que o destino atravessa um momento particularmente delicado, vítima de uma série de falências de companhias aéreas, da desvalorização da libra face ao euro, e de um aeroporto que coloca a ilha em sérios riscos de ser carimbada como “não credível”, do ponto de vista das operações de risco.

Finalmente, porque fazemos uma avaliação muito positiva do trabalho da Associação de Promoção da Madeira.

Como avalia o papel e o peso das agências de viagens e operadores turísticos no desenvolvimento do turismo da Madeira?

O sector das agências de viagens tem sido historicamente fundamental; no presente, é simplesmente e tão-só o mais importante veículo de vendas do destino.

Analisando o turismo da ilha nos últimos 10 anos, há muitas diferenças na forma como o destino é vendido/distribuído?

Do ponto de vista da abordagem do negócio, o desenvolvimento das low cost e a digitalização da economia mudaram os modelos de distribuição, afastando-os da comercialização charter mais tradicional. Por outro lado, claro que também notamos no próprio destino importantes linhas de modernização, do lado da oferta. Digamos que identificamos uma óbvia evolução na área da promoção, mais profissional, mais moderna, e vectores de caracterização do destino que vão ao encontro das actuais tendências da procura.

São muitas as vozes que referem que o aeroporto da Madeira tem constituído um entrave ao crescimento do turismo e do investimento na ilha. Concorda?

Completamente. Vivemos uma situação perfeitamente anacrónica, que urge resolver. Temos os mesmos ventos, temos uma pista maior, temos melhor tecnologia a bordo das aeronaves e no aeroporto, e, acima de tudo isto, tivemos um enorme crescimento das incidências, que atingiram níveis insuportáveis, do ponto de vista da rentabilidade das operações. O destino corre simplesmente o risco de ser carimbado como “não credível”.

Será este o maior desafio que se coloca ao turismo da Madeira?

Não será o único, mas não podemos negar que torna outros mais difíceis de ultrapassar. A Madeira sofreu as consequências da falência de uma série de companhias de aviação. Todas estas falências significam uma quebra de procura, que demorará tempo a ser substituída. E aqui entronca o problema do aeroporto. Se for rotulado de “pouco seguro”, do ponto de vista da capacidade de realização normal de operações, mais difícil será substituir as operações agora perdidas.

Mas, é evidente, que existem mais desafios. Entre outros, o facto de termos um crescimento importante de camas, justamente numa altura em que há menos voos, ou a eventual necessidade de promovermos a Madeira em novos mercados, como os EUA ou o Brasil, agora que ficou clara a dependência perigosa do mercado do Reino Unido.

Relativamente a Portugal continental, fala-se do abrandamento do turismo para 2019, isso mesmo referiu ao falar em fim de ciclo no congresso de 2018. De que forma pode o sector combater esta tendência?

Falei em fim de ciclo, e, hoje, não vejo absolutamente ninguém capaz de desmentir este facto. Quando hoje caracterizamos Portugal enquanto destino turístico, somos obrigados a falar de um óbvio abrandamento do crescimento, o que, aliado ao crescimento da oferta hoteleira, não pode deixar de ser considerado sensível.

Curiosamente, quando falei em fim de ciclo, no último congresso da APAVT, também expliquei que não via nada de decididamente desagradável ou extraordinariamente preocupante. E também admiti como absolutamente viável a possibilidade de o novo ciclo ser de consolidação e não de decrescimento, que é o mesmo que parece estar a acontecer, com um abrandamento, mas, ainda assim, um crescimento das receitas. Portanto, respondendo à sua pergunta, não sei se temos que combater uma tendência, que é de consolidação, em cima de um extraordinário crescimento.

Na sua perspectiva, quais os maiores desafios que se colocam a Portugal enquanto destino turístico?

Temos de resolver o problema dos aeroportos (Lisboa, Madeira e Faro têm problemas diferentes), uma vez que os turistas entram por via aérea. Temos de apostar na formação, porque não possuímos mão-de-obra capaz de dar resposta ao crescimento recente e temos, óbvias, deficiências ao nível do serviço.

Precisamos de integrar mais território do ponto de vista turístico, porque é este o único modo de diminuirmos assimetrias, de combatermos a sazonalidade e de aumentarmos a estada média dos turistas.

Temos de manter os esforços de ordenamento do território e de defesa da autenticidade, ao mesmo tempo que precisamos de desenvolver políticas específicas direccionadas ao MI – Meetings & Incentives, o que implicará pensarmos não apenas em centros e congressos, mas também em melhor mobilidade nas cidades, mais hotéis de referência, apenas para dar alguns exemplos. Mas, evidentemente, a lista não fica por aqui, pois há ainda tanto para fazer!

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