Águas do Tejo Atlântico: Contribuir para a viragem das mentalidades

Se no passado havia Estações de Tratamento de Água Residual de onde se extraiam resíduos, hoje, há Fábricas de Água onde a água é tratada como uma matéria-prima plena de recursos para usar, reutilizar, reciclar e valorizar. E esta é já uma realidade como o provam a cerveja portuguesa Vira, o sistema de rega no Parque das Nações (Lisboa) e o arrefecimento da climatização no IKEA de Loures. Conheça os projectos na conversa com Marcos Batista, da direção de Comunicação e Desenvolvimento da Águas do Tejo Atlântico.

A economia circular é um pilar basilar da actuação da Águas do Tejo Atlântico. Como é que este conceito tem vindo a nortear a operação da empresa?

O crescimento do consumo de bens que se verifica actualmente no planeta, a escassez de alguns e as perspectivas de futuro demonstram que não é possível continuar nesta trajectória linear da economia. A sociedade necessita de uma mudança individual, mas também corporativa.

A estratégia da Tejo Atlântico assenta nesta filosofia, com um compromisso sustentável muito grande e transversal, nomeadamente, na redução do consumo de matérias-primas, na reciclagem e na reutilização. E fazemo-lo a todos os níveis e nas várias actividades da empresa.

As novas tecnologias e boas práticas complementam o conjunto de medidas alinhadas com a economia circular. Se antes tínhamos Estações de Tratamento de Água Residual de onde se extraiam resíduos, hoje, temos Fábricas de Água onde a água é tratada como uma matéria-prima plena de recursos para usar, reutilizar, reciclar e valorizar.

Neste âmbito, a Águas do Tejo Atlântico criou o conceito de Fábrica de Água. Em que consiste e que impacto tem?

O conceito de Fábrica de Água é uma das componentes que deriva directamente da economia circular. Se analisarmos a função de uma instalação de tratamento, facilmente comprovamos que há entrada de “matéria-prima” (água residual) e que no final da linha, há saída de subprodutos como água+, biolamas e biogás.

Os subprodutos são depois reintegrados em novas cadeias de produção de valor como são os exemplos da água+ (água para reutilização) com potencial de utilização em rega de espaços verdes e lavagem de ruas e equipamentos urbanos, as biolamas que têm aptidão para utilização agrícola como fertilizante orgânico e o biogás para produzir energia verde.

A actividade da Tejo Atlântico, além de dar um grande contributo para as questões da qualidade das águas balneares e da qualidade de vida das pessoas é um impulsionador da sustentabilidade do ponto de vista socioeconómico nas regiões que serve.

Como surgiu o projecto da Cerveja Vira e com que objectivos?

O projecto nasce da necessidade da Tejo Atlântico contribuir para a “democratização” da utilização de água+, através de uma campanha de comunicação. A Vira é a primeira cerveja portuguesa sustentável, produzida com água reciclada, com tratamento adicional por ozonização e osmose inversa. Pretende informar sobre uma fonte alternativa e sustentável de água.

As Fábricas de Água do Tejo Atlântico (ETAR) tratam cerca de 194 milhões de m3 de águas residuais por ano. Uma parte desse volume de água pode e deve ter outras aplicações após tratamento adequado para usos compatíveis.

O projecto Vira pretende atrair “fãs”, numa abordagem criativa, divulgando informação e apoiando a população e os decisores na mudança de mentalidades, na implementação de boas prácticas ambientais e no uso racional da água.

Através da produção de uma cerveja artesanal de elevada qualidade, demonstramos que é possível utilizar água reciclada em diversas aplicações, ajustando a sua qualidade de acordo com a utilização a que se destina.

A tecnologia permite transformar águas residuais em água potável, também permite dar um tratamento adequado para vários outros fins, como lavar ruas, regar espaços verdes, indústria ou mesmo sistemas de ar condicionado em áreas industriais.

As alterações climáticas, as secas prolongadas e intensas e a escassez hídrica trazem para a agenda a necessidade de “virar” mentalidades, conceitos e hábitos, de forma a contribuir para a necessária mudança na percepção e, principalmente, no comportamento das pessoas.

A Cerveja Vira venceu o Water Reuse Europe 2021 Innovation Prize. Qual a importância desta distinção?

O “Prémio Inovação 2021” atribuído à Vira pela organização Water Reuse Europe reflecte o compromisso estratégico da Tejo Atlântico na promoção da economia circular no ciclo urbano da água. É a primeira vez que este prémio é atribuído a um projecto português. Desenvolvido em parceria com a cervejeira Cerlinx e a Moinhos Água e Ambiente, empresa tecnológica responsável pela osmose inversa utilizada no tratamento das águas residuais, a Vira é produzida com água+, água 100% reciclada e 100% segura. Uma cerveja sustentável! Vira.

Ainda existe um preconceito em relação à utilização de água reciclada? Que acções de pedagogia é que a Águas do Tejo Atlântico tem realizado para mudar essa mentalidade?

No estudo de mercado realizado pelo Instituto de Marketing Resarch, realizado em Março de 2018, constata-se que 95,8% da população portuguesa se encontra disposta para aceitar água reciclada para consumos não potáveis.

A campanha da cerveja Vira faz parte de um conjunto de iniciativas para contribuir para a efectiva reutilização da água através da viragem das mentalidades. Além dessa iniciativa, está a ser efectuado um grande trabalho ao nível institucional de envolvimento dos parceiros municipais para promover a utilização da água+ na rega de espaços verdes, lavagem de ruas e equipamentos, bem como na indústria e agricultura.

Que outras aplicações tem tido a água reciclada da empresa (água+)? Em que áreas de actividade e com que benefícios?

A Tejo Atlântico está a trabalhar em parceria com os municípios servidos por este sistema por forma aumentar o volume e abrangência na utilização da água+. Um dos primeiros licenciamentos de acordo com a actual legislação é a parceria com a Câmara Municipal de Lisboa para rega de zonas verdes da cidade de Lisboa. Esta parceria resultou na rega da zona norte do Parque das Nações com cerca de 1.200m3/dia, numa área de 295 000m2.

O IKEA de Loures também é uma boa referência ao utilizar água+ da Fábrica de Água de Frielas nos chilers de climatização da loja, para aquecimento no Inverno e arrefecimento no Verão.

A Águas do Tejo Atlântico esteve no festival Ocean Spirit com a Oficina “REplastificAR+. Que impacto da iniciativa?

Actualmente, o mundo produz mais plástico do que nunca. Dos cerca de 500 milhões de toneladas de objectos de plásticos produzidos, muitos são plásticos de uso único, que, se não forem encaminhados para reciclarem ou para destino final adequado, vão parar ao mar.

Por isso, é necessário que haja uma crescente consciencialização das consequências de nossos actos, adoptando comportamentos mais sustentáveis, primeiro reduzindo o consumo de plástico, reutilizando-o sempre que possível e, por fim, depois de usá-lo encaminhá-lo para reciclagem.

A participação no Ocean Spirit com a Oficina “REplastificAR+ tem como objectivo aproveitar e dar nova vida aos detritos plásticos que se encontram nos areais das nossas praias. Esta acção pretende, assim, sensibilizar para a adopção de comportamentos ambientalmente sustentáveis: para a redução do consumo de embalagens e o seu encaminhamento para reciclagem, evitando que acabem na rede de saneamento ou no mar. Os participantes recolheram plásticos nas praias e, no workshop, reciclaram as embalagens em pequenos flocos e produzirem peças e objectos simbólicos.

Que outras medidas têm sido promovidas para contribuir para o combate ao problema dos plásticos nos oceanos?

A Tejo Atlântico, na sua actividade de recolha e tratamento das águas residuais, depara-se também com a questão dos plásticos, que são muitas vezes a causa de obstruções das redes de saneamento e que, por essa razão, têm de ser removidos antes do processo de tratamento da água residual.

Em 2021, cerca de 163 mil toneladas de resíduos (gradados, areias, gorduras e lamas) foram removidos nos processos de tratamento de águas residuais nas Fábricas de Água da Tejo Atlântico, evitando que vão parar ao oceano, reduzindo a poluição do mar e contribuindo para a qualidade da água das praias e a conquista de bandeiras azuis e de ouro nas praias.

Junto do consumidor final, que acções de sensibilização têm sido realizadas no sentido de incentivar à poupança de água?

A actividade da Tejo Atlântico não inclui o abastecimento de água. No entanto, a preocupação da empresa envolve todo o ciclo urbano da água e, nesse sentido, regularmente organizamos campanhas de informação em parceria com os municípios, ONG, grupo Águas de Portugal e outras entidades onde são abordadas as boas práticas que passam pelo conceito dos R’s, Reduzir, Reciclar e Reutilizar, adaptado às várias faixas etárias da sociedade, com recurso a mupis e outros suportes, acções de campo e através das iniciativas organizadas no Centro de Educação Ambiental da empresa. O que pretendemos é a mudança de mentalidade e atitude, tal como a Vira.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marketing de Águas e Sumos”, publicado na edição de Setembro (n.º 314) da Marketeer.

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