Viver o último trimestre de gravidez

O corpo da mulher grávida sofre alterações significativas, que permitem acolher o bebé no seu ventre, que cresce a um ritmo vertiginoso, principalmente nos últimos meses de gravidez. Estes ajustes biológicos acarretam muitas vezes desconfortos inerentes à falta de espaço que vai existindo. O estômago é um órgão que fica reduzido na sua capacidade, existindo muitas vezes a sensação de enfartamento e azia. Para atenuar estes sintomas, importa fazer refeições poli-fraccionadas, em que a quantidade de alimentos seja menor e a última refeição seja próxima da hora de deitar; pode também fazer uma caminhada no fim do dia e dormir com a cabeceira mais elevada. A ingestão de amêndoas com casca ao longo do dia também ajuda a diminuir a sensação de ardor, provocada pela azia.

As dores articulares e nas costas podem também acentuar-se, não só pelo aumento de peso, mas também pela influência da relaxina, hormona responsável pelo relaxamento dos ligamentos, fundamental para a mobilidade da bacia. Assim, é importante manter a actividade física. Mas para quem não tem este hábito, a actividade pode ser apenas na forma de caminhadas diárias. A utilização de uma cinta de grávida também é uma opção, pois ajuda no suporte pélvico e lombar.

Outro dos desconfortos que comummente surge é o inchaço dos membros inferiores, principalmente dos tornozelos. Este sintoma é comum no fim do dia, após algumas horas de pé. Assim, ao final do dia pode tomar um duche, incidindo o chuveiro nas pernas com jactos de água morna intercalados com água fria, para estimular a circulação. Uma massagem no sentido ascendente, pés-coxas, resulta muito bem para a diminuição do inchaço, mas também da dor associada. Se o inchaço aparecer subitamente nas mãos ou face, ou mesmo nos pés, mas logo ao acordar, deverá comunicar ao seu médico/enfermeiro assistente, pois pode estar associado a elevações da tensão arterial, que é um sintoma de alerta na gravidez.

O sono também sofre alterações no último trimestre da gravidez, seja pela falta de posição confortável na cama, seja pela pressão exercida pelo bebé na bexiga, que diminui a sua capacidade, resultando em idas mais frequentes à casa de banho. Em relação a este último ponto, deve ingerir mais líquidos durante o dia, reduzindo a sua ingestão após as 18h00, para assim diminuir a quantidade de urina produzida durante a noite; dormir com as luzes apagadas, sem grande claridade, também ajuda, pois com a escuridão é estimulada uma hormona responsável pela concentração e redução do volume da urina, ajudando assim na diminuição das idas à casa de banho. O desconforto na posição para dormir pode ser amenizado com a utilização de almofadas, colocadas entre as pernas e nas costas.

Plano de Parto

O Plano de Parto é um plano, mais ou menos formal, onde cada mulher, individualmente ou em casal, regista as decisões tomadas para o nascimento do filho. A elaboração de um Plano de Parto pressupõe a informação e formação, por parte de um profissional de saúde à grávida/ /casal, sobre gravidez, trabalho de parto, parto, pós-parto, cuidados ao recém- nascido, entre outros assuntos. Só pode decidir conscientemente, se antes for informada e esclarecida em todas as suas dúvidas. Assim, procure quem a possa acompanhar e transmitir informações actuais e credíveis, antes da sua elaboração. Importa também referir que o Plano de Parto deve ser sempre construído de modo individual, pois cada mulher tem a uma situação clínica, assim como desejos e expectativas, o que torna cada documento único e intransmissível.

Assim, o seu Plano de Parto pode conter decisões como a instituição da sua preferência para o nascimento, o acompanhante que gostaria que estivesse consigo, o tipo de parto, as medidas de alívio da dor, sejam elas farmacológicas, como a epidural, ou não farmacológicas, como a deambulação, bola de pilatos, massagem, imersão em água ou utilização de chuveiro, entre outras… Pode também incluir resoluções como a colheita de células estaminais, a clampagem tardia do cordão, o contacto imediato pele com pele com o recém-nascido e a amamentação exclusiva.

A flexibilidade é um ponto importante na sua execução, pois qualquer plano deve ser flexível e, quando falamos no parto, em que muitas vezes não conseguimos controlar todas as variáveis, é importante ter balizas, mas mantendo sempre a possibilidade de haver outros caminhos. E não falamos apenas na flexibilidade das mulheres/casais, mas também da flexibilidade nos profissionais de saúde que é fundamental para permitir a existência de mais Planos de Parto em Portugal. Após a sua elaboração, deve informar-se, na instituição que escolheu para o nascimento, quais os procedimentos a seguir.

Texto da autoria de Vanessa Costa, enfermeira especialista em saúde materna e obstetrícia

Artigos relacionados