TIP on Experiences

António Victorino de Almeida e Fernando Nogueira foram os convidados da mais recente TIP Talk organizada pela Marketeer, um evento que acontece ao final da tarde, no Jardim de Inverno do Edifício Fidelidade (ex-Mundial Confiança), no Chiado, e que pretende ser ponto de encontro para a troca de ideias e partilha de informações junto de um grupo restrito de convidados.

Acompanhe a conversa!

António Victorino de Almeida (AVA) – Penso que os países [Portugal e Áustria] não são assim tão diferentes. Há o problema da língua, mas quando se começa a entrar um bocadinho mais dentro do país, vemos que na verdade somos muito mais parecidos do que possa parecer. O que há são hábitos muito diferentes. Trabalhei com uma grande actriz e cantora austríaca, a Erika Pluhar. Não fazia ideia nenhuma, no começo, que viríamos a fazer 752 concertos juntos! Lembrei-me agora, que estávamos aqui os dois [António Victorino de Almeida e Fernando Nogueira] sentados, à espera que a audiência ocupasse os seus lugares, que o primeiro concerto que fiz com a Erika Pluhar. Ela estava um bocadinho nervosa, porque como actriz tinha muita experiência, mas a cantar era uma experiência nova. Teve a ideia e pediu-nos se podíamos entrar para o palco antes do público entrar na sala. Explicava: «Assim é o público que fica nervoso!» Na verdade as reacções foram muito engraçadas. As pessoas olhavam, alguns escondiam-se, outros esboçavam um aplauso. Foi uma experiência engraçada.

Fernando Nogueira (FN) – Eu aceitei [participar na TIP Talk] porque vinha o maestro. Gosto muito de ouvir as histórias dele. A minha experiência de saída do País foi aos 51 anos. Fui desafiado a ir para França e para o Luxemburgo e não hesitei. Porque tenho quatro filhos e eduquei-os com a minha mulher na perspectiva de que tinham de ter uma formação académica superior, tinham que ser fluentes em inglês e muito bons a informática. E para isso eu havia de arranjar dinheiro para os ajudar. Não contem com fortunas, nem com prédios ou heranças. Sempre disse «vocês devem ir lá fora». Talvez influenciado por um ensaio que eu tinha lido antes de ir para França intitulado “Do Sedentarismo ao Nomadismo”. A teoria é que durante centenas de milhares de anos as pessoas tentaram passar do nomadismo para o sedentarismo e só o conseguiram quando dominaram as técnicas de produção agrícola, quando eram capazes de se abrigar das intempéries sem ser em grutas. Hoje o que se está a passar é o movimento inverso. As distâncias mudaram radicalmente, estamos num mundo carregado de mobilidade. Foi no fundo também para dar o exemplo aos meus filhos que aceitei quando o Millennium bcp me fez o convite. Neste momento dois filhos trabalham em Portugal e os outros dois em Londres. Estive em Harvard a fazer um curso de Management durante quatro meses e havia professores fantásticos! Falava-se muito de economia e bastante dos EUA. Sempre que há crises nos EUA e em que há perdas de postos de trabalho, em dois terços dos casos as pessoas têm de mudar de estado para arranjar novo trabalho. Muitas vezes de costa para costa. Nós aqui ficamos muito aflitos quando se diz a um professor que tem de mudar para uma escola a 100 quilómetros de casa, havendo auto-estradas, meios de transporte que praticamente são instantâneos. Quem vem da margem Sul para Lisboa demora mais tempo, se calhar, do que quem tem que dar aulas em Rio Maior. Gostei da minha experiência. Como diz o maestro não há diferenças abismais, sobretudo na Europa, já em Luanda é um pouco diferente. É uma cultura africana que tem os seus encantos. Houve momentos em que me diverti, outros em que sofri muito, porque montar um banco em Angola, com um cabo submarino a ser cortado constantemente, sem informática durante sete dias, tendo um quadro de pessoal em que 90% tinha menos de seis meses de experiência bancária, podem imaginar o que terá sido… Para França ia com alguma apreensão por causa das entidades de supervisão. São muito rigorosos e ainda mais com alguém que vem do Sul… Tive experiências fantásticas. Reconhecem o trabalho, a disciplina e a honestidade. A partir de determinado momento, eu tinha tudo quanto queria do Banco de França e do Banco do Luxemburgo. Abri o jogo. Disse a verdade toda. Quanto aos franceses… há algo que me chocou. Gostei de alguns. Na província são espectaculares. Acho que são um povo um bocado bipolar… metade deles é citoyen, aguerrida, ao passo que a outra metade tem um saudosismo pelo império extraordinário. Não há cidades no mundo que tenham tantos dourados, como em França. Eles adoram aquilo! Como fazem a compatibilização daquilo na cabeça deles, não sei!

Para ler o texto na íntegra, consulte a edição de Janeiro de 2014 da revista Marketeer.

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