Como lidar com a ansiedade de separação

Para todos os seres humanos, a ansiedade é um processo natural que nos prepara para enfrentar potenciais situações de ameaça e perigo. Isto porque concentra todos os recursos do organismo humano na tarefa de evitar colocar a vida em perigo. Também o medo de perder alguém é natural no ser humano, algo que se revela desde cedo; estima-se que os bebés, por volta dos quatro meses, são já capazes de diferenciar a sua existência dos outros, ou seja, distinguem a mãe das restantes pessoas e de si próprios. Por esta razão, choram quando a mãe se afasta ou está ausente durante algum tempo.

Como não podia deixar de ser, esta sensação de perda provoca tristeza e mal- -estar na criança que experiencia sentimentos de solidão e de vazio, ao concretizar que pode perder as suas figuras próximas de referência. Ainda que este seja um sinal de que a criança está a desenvolver a sua maturidade emocional de forma saudável, por vezes a ansiedade de separação pode revelar-se de uma forma mais intensa. E existem razões para isso.

As causas

Se a criança estiver inserida num ambiente instável, é natural que não sinta segurança suficiente e mostre ansiedade. Mudanças repentinas ou constantes de casa ou escola podem perturbar a estabilidade da criança, se não forem convenientemente explicadas e se não for dado tempo para a criança assimilar e aceitar a mudança. Por outro lado, se um dos cuidadores se caracterizar por ser uma pessoa mais ansiosa, a criança pode absorver esse comportamento, até porque será alvo de superprotecção ou expectativa elevada do seu desempenho, por parte do cuidador. Por vezes, a criança também pode revelar-se mais ansiosa depois de ter sofrido uma perda, seja de um familiar, animal de estimação ou brinquedo. Mais uma vez, há que dar tempo à criança para assimilar a perda e mostrar empatia pelo seu sentimento.

Quais são os sintomas?

A ansiedade de separação pode condicionar o desenvolvimento da criança, uma vez que os sentimentos negativos sobre a perda vão reflectir-se no seu comportamento e afectar as mais diversas áreas funcionais da vida do mais pequeno. Quando está a passar por um episódio de ansiedade, frequentemente a criança mostra medo de dormir sozinha, não quer ir para a creche/ /escola e mostra uma preocupação enorme com o bem-estar dos cuidadores mais próximos.

Também é frequente existirem sintomas físicos, como vómitos, dores de cabeça e náuseas no momento exactamente antes da separação; por exemplo de manhã quando os pais vão trabalhar. Nos casos mais extremos de ansiedade, é necessário o acompanhamento especializado para que a criança ultrapasse a situação. Aqui, a colaboração de toda a família é crucial no processo de recuperação.

Empatia e comunicação

No entanto, na maior parte dos casos é possível diminuir os níveis de ansiedade infantil com a colocação em prática de algumas estratégias e comportamentos. Em primeiro lugar, fazer uso da empatia. O adulto deve colocar-se no lugar da criança para compreender os sentimentos de perda que esta está a experienciar e ajudá-la a ultrapassar a situação, com mais eficácia. Se a criança se sentir ouvida e compreendida, terá maior disponibilidade para ouvir e seguir as sugestões para se sentir melhor. Também a comunicação é crucial. Devem ser proporcionados à criança vários momentos para que esta possa expressar os seus sentimentos. Lembre-se que, por vezes, as crianças hesitam em partilhar as suas preocupações por vergonha.

Permitir que a criança verbalize os seus receios tem duas vantagens: em primeiro lugar, faz com que a criança não se sinta sozinha no processo de enfrentar e ultrapassar o motivo causador da ansiedade e, em segundo lugar, permite que o cuidador perceba exactamente o que se está a passar, pelas palavras da criança.

Recordamos que sentir ansiedade é uma parte integrante do processo de crescimento e, quando doseada na medida certa, prepara os mais novos para a autoprotecção. Mas se a criança manifesta ansiedade de uma forma constante e durante um longo período de tempo, é necessária a intervenção especializada, uma vez que tal pode afectar o processo de desenvolvimento e a vida funcional da criança, assim como reflectir-se no comportamento da própria na sua vida adulta.

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