Paulo Cardoso (Comic Con Portugal): «Muito ou pouco, todos somos fãs deste imenso mundo do entretenimento»

Corria o ano de 2014 quando Portugal recebia um evento bem conhecido dos fãs da cultura pop: a Comic Con. Era uma marca já estabelecida além-fronteiras, especialmente nos Estados Unidos, enquanto iniciativa que agrega entusiastas de séries e filmes, literatura, gaming e cosplay, levando a palco os nomes mais badalados destas áreas.

Em terras lusas, a Exponor foi o primeiro local a acolher a novidade e assim continuou até 2017. Mas ao longo da última década, a Comic Con Portugal já percorreu diversos locais – do Porto seguiu para o Passeio Marítimo de Algés e depois para o Altice Arena (actualmente MEO Arena) e já experimentou alturas diferente do ano para celebrar o mundo do entretenimento – do frio de Dezembro ao soalheiro Setembro.

Ao leme da organização praticamente desde o início está Paulo Cardoso e, com a celebração do 10.º aniversário, o CEO do evento não só faz uma retrospectiva de anos passados, como deixa antever o que está programado para o futuro depois de alcançarem o marco de “maior evento de cultura pop da Península Ibérica”.

São já nove edições da Comic Con em Portugal, sendo que o Paulo Cardoso esteve ao leme da iniciativa desde o início. Que retrospectiva faz desta década de um evento que celebra a cultura pop no nosso País?

Tem sido uma aventura bastante desafiante. O projecto que abraçámos em 2014, apesar de já existir num formato semelhante noutros países, era único no nosso País. Não foi apenas a construção de um evento físico, foi a criação de relações e de um mercado juntamente com marcas e indústria, nacional e internacional. Dez anos ensinaram-nos muito sobre o que podemos ou não fazer e qual o melhor rumo a seguir. Algo que nos orgulha é que temos marcas e parceiros que estão connosco desde a primeira edição e conquistámos um posicionamento bastante positivo a nível internacional. O nosso mercado é pequeno comparativamente ao mercado global, no entanto, conseguimos agora alcançar o que em 2014 se demonstrava uma grande jornada.

Este ano, o evento regressa ao local que começou por o acolher, em 2014: a Exponor. Porquê voltar ao Norte e apostar noutro período do ano para realizar a convenção?

Voltar à Exponor para a edição dos dez anos sempre foi uma decisão bastante óbvia para nós. A Comic Con Portugal nasceu em Matosinhos e queríamos celebrar essa origem com o nosso público na “casa” que nos viu crescer. As parcerias institucionais com as Câmaras de Porto, Matosinhos e Gaia concretizaram esta vontade. Foi um alinhamento total de todas as partes.

As primeiras edições do evento aconteceram no Norte e, em certa parte, havia um receio de não conseguirmos captar a atenção das marcas, mais centralizadas na capital. Hoje, sabemos que é um factor diferenciador do evento, algo que os nossos parceiros abraçam e uma oportunidade única de chegar a um público alargado fora de Lisboa. Além disso, para um festival do tamanho da Comic Con Portugal, com quase 200 marcas a activar e mais de 400 horas de conteúdo em palco, a Exponor oferece as condições necessárias para fazermos acontecer.

A realização do evento em Março surge do alinhamento entre a disponibilidade de agenda da Exponor e da nossa vontade em querer explorar a potencialidade de uma data diferente, numa época do ano diferente de Setembro ou Dezembro (datas essas nas quais já realizámos eventos). É uma altura do ano em que a meteorologia se demonstra mais amena, coincide com as férias escolares do período da Páscoa e antecede aos grandes festivais de Verão. Para a indústria também é uma altura interessante, visto que é possível abordar os lançamentos para o resto do ano, em especial do Verão. Desta forma, a Comic Con Portugal acaba por ser o evento que dá o pontapé de saída para os restantes assuntos relacionados com a indústria do entretenimento. Contudo, a mesma maneira que o evento não está preso a um local, também não está a um período do ano.

Foi feita uma “junção” dos municípios do Porto, Matosinhos e Gaia. Com que propósito? Significa que a convenção se manterá no Norte nos próximos anos?

A parceria institucional com a Frente Atlântica (Porto, Matosinhos e Gaia) surgiu de um alinhamento de vontades, daquilo que consideramos serem as condições fundamentais para a realização do melhor evento possível, e o desejo dos municípios, ao acreditarem no projecto para a região e na descentralização deste tipo de eventos.

Não só o nosso evento tem o apoio institucional das três Câmaras, como a comunidade teve contacto com a marca Comic Con Portugal para lá do evento de Março. Felizmente, para nós e para os fãs, as oportunidades para celebrar estes universos foram e são infinitas. Desde o início da parceria (estabelecida em 2023) e até Março deste ano, já realizámos uma dezena de iniciativas e temos mais projectos programados para os meses seguintes. Nestas iniciativas estão connosco marcas que nos acompanham no evento Comic Con Portugal e outras marcas que estão connosco pela primeira vez, mas que conseguem um valor acrescentado que existe na aproximação da cultura pop à população.

Quanto ao futuro e à continuidade do evento no Norte, a nossa posição mantém-se: a Comic Con Portugal estará onde se reunirem as melhores condições para oferecermos a melhor experiência possível. A Comic Con Portugal é de todos para todos.

Estão anunciados mais metros quadrados (total de 200 mil) destinados ao evento de 2024, que será “o maior de sempre”. O que poderão os participantes encontrar de novo e de diferente este ano?

Em território nacional, não há outro local com espaço coberto da magnitude da Exponor. A nossa intenção é aproveitar a Exponor na sua plenitude, não só indoor, como outdoor. Quem já nos visitou nas primeiras edições vai sentir a familiaridade do espaço, mas com algumas mudanças. A principal alteração que o público vai sentir é o modo como os diferentes universos da Cultura Pop estão interligados, ou seja, no mesmo pavilhão poderão estar experiências de gaming, cosplay, banda desenhada, literatura, música, cinema, televisão, alimentação e retalho.

Mais área significa também mais espaço e liberdade para as marcas e experiências activarem e estabelecerem um contacto muito directo com o target. Um dos focos desta edição, a pensar nas mais de 200 marcas envolvidas com a Comic Con Portugal, é uma área reservada ao networking e uma outra área onde poderão ser realizadas talks entre as marcas.

A Comic Con Portugal tem apostado, nos meses que antecedem a 9.ª edição, em diversas iniciativas, como exposições (cosplay no Ubbo, Funko Pop! no Almada Fórum) e a parceria com a Porto Editora em escolas. Qual foi o objectivo desta estratégia? Esperam levar mais pessoas ao evento?

Uma das nossas missões é transmitir ao público que tudo é Cultura Pop e que, muito ou pouco, todos somos fãs deste imenso mundo do entretenimento. Os eventos de menor escala espalhados pelo País servem não só criar uma proximidade com as pessoas que muitas vezes não têm acesso ao evento, mas também para “despertar” o público para o seu lado mais geek.

Sabemos que 93% da população portuguesa reconhece a marca Comic Con Portugal, mas a percepção do que acontece nos dias do evento pode ficar dissipada e, por vezes, nem têm o conhecimento que é um evento efectivamente para todas as gerações. Reconhecem as várias áreas, mas podem não estar conscientes da imensidão de actividades e experiências que podem vivenciar. Nestes eventos de menor escala o público tem uma pequena amostra do que pode encontrar na Comic Con Portugal.

Em 2023 organizámos projectos digitais e físicos dos quais nos orgulhamos e que demonstram que há uma vontade do público em aderir. É natural para nós marcar presença simultaneamente em todos os pontos do País, de Norte a Sul e até Ilhas. A criação da The Popculture Agency permite ainda que o talento associado à Comic Con Portugal possa associar-se com outras marcas para benefício mútuo. Assim como não há fronteiras físicas e temporais para a Cultura Pop, a nossa marca fará por celebrar as suas diferentes áreas sem limites físicos e temporais.

O evento anual iniciou a viagem, mas não é o limite máximo do que podemos atingir. Estas iniciativas irão continuar e ser uma constante ao longo do ano.

O que pretende fazer pela cultura pop no futuro? São actualmente “o maior evento de cultura pop” da Península Ibérica. O que se segue?

O nosso trabalho, na verdade, não parará e a intenção é escalar e crescer. Devido ao tamanho do mercado português, a relação com as marcas e indústria é um desafio que tem de ser constantemente desenvolvido, contudo, acreditamos que é possível fazer mais e diferente e envolver ainda mais marcas de áreas do cinema, televisão, gaming, banda desenhada, literatura, entre outras.

Esta década demonstrou que as circunstâncias globais têm um impacto muito directo no evento. Desde que começámos em 2014, as próprias tendências do mundo digital, tecnológico, da indústria/mercado e do comportamento do consumo de entretenimento tiveram uma transformação drástica. O nosso desafio é conseguir antecipar e adaptar aos desafios. Queremos estar presentes para todos os públicos, ao longo de todo o ano, trabalhando lado a lado com as marcas.

A enorme vantagem é que ao nos propormos a quebrar barreiras, qualquer vitória é uma vitória e não descartamos nenhuma possibilidade. Estamos abertos a todas as possibilidades e oportunidades. Como uma referência bastante reconhecida no nosso universo, “To Infinity and Beyond!”.

Artigos relacionados