Preparem-se
Por Francisco Viana, director central da Direcção de Comunicação e Marca da CGD
Quando se fala de Globalização, sinto o orgulho português de ter dado mundos ao mundo. Os autores não estão todos de acordo, mas a Globalização 1.0 começou com os Descobrimentos. Os produtos eram raros, e os países que tinham uma frota de navios fizeram a diferença. Depois, temos a Globalização 2.0, que se iniciou com a Revolução Industrial e com as inovações como o barco a vapor, a ferrovia e os sistemas de refrigeração para conservação das mercadorias, mas a grande explosão do comércio internacional acontece depois da II Guerra Mundial, com os acordos de comércio e a regulamentação das relações globais. Dá-se então a massificação de novas tecnologias, como o uso dos aviões, e assiste- -se ao aumento do consumo em massa de bens que são produzidos num determinado lugar e consumidos noutro.
É consensual que a Globalização 3.0 se iniciou na década de 1990, com a revolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Cabos de fibra óptica, telemóveis, internet, computação em nuvem ou serviços de banda larga permitiram que as pessoas partilhassem ideias, documentos e descobertas, mesmo quando estavam geograficamente distantes, o que levou a tipos e níveis de comércio completamente novos. O melhor exemplo é o iPhone projectado na Califórnia e produzido na China. Temos mais serviços, capital, know-how e recursos humanos.
Na Globalização 2.0 e 3.0 destacam-se os países ricos em recursos naturais e humanos, e é evidente nas três eras de Globalização a desigualdade entre países ricos e países pobres.
Com a megatendência tecnológica, estamos a entrar na Globalização 4.0 e a alterar a organização da vida humana, incluindo os negócios e o comércio. A conectividade global e sem precedentes (5G) de dados e o potencial de Big Data cruzado com a Inteligência Artificial e a Robótica Avançada, que já são hoje uma realidade, podem ser o início de uma nova era. O professor Luís Cabral advoga que nesta nova era, em que teremos uma economia de espaço livre, como, por exemplo, uma cirurgia em que o cirurgião está num determinado país e o paciente noutro a ser operado, vamos ter mais e mais informação e necessitar de menos recursos humanos em algumas áreas. Será uma era em que os skills individuais irão fazer a diferença e em que a desigualdade, em vez de ser entre países pobres e países ricos, será entre pessoas, ricas e pobres.
A boa notícia é que temos uma geração de portugueses muito melhor preparada do que as anteriores. Se considerarmos a “Geração Ultramar” (1935-1955), a “Geração Liberdade” (1955-1980), a “Geração Euro” (1980-2000) e agora a “Geração Millennials” (2000-?), esta última tem um nível de educação muito superior. Até meados dos anos 90 nem 100 mil estudantes universitários tínhamos por ano. Neste milénio temos tido cerca de 400 mil praticamente todos os anos. A diferença é enorme. Os melhor sucedidos serão aqueles que pratiquem a ideia de educação permanente ao longo da vida, mas também os que desenvolverem os soft skils: colaboração, comunicação, interacção, negociação, empatia, gestão de pessoas, orientação de serviço, pensamento, criatividade, curiosidade, flexibilidade, resolução de problemas, tomada de decisão, pensamento analítico, etc.
Preparem-se.
Nota: Texto motivado por uma sessão do prof. Luís Cabral sobre as Grandes Tendências Económicas do Séc. XXI, a que assisti recentemente.
Artigo publicado na edição n.º 298 de Maio de 2021