Opinião de Paulo Tomé (novobanco): Verão quente ou processo de transformação em curso?

Por Paulo Tomé, Director de Comunicação e Marca – novobanco

Nos últimos meses temos assistido a uma relevante tentativa de transformação e alargamento da base de negócios dos media. A mais surpreendente foi a recente proposta de aquisição pelo grupo detentor da TVI e CNN, a Media Capital, que apresentou uma proposta de compra pela operadora de telecomunicações Nowo. Apesar da proposta não ter sido bem-sucedida (estou a escrever no dia 2 de Agosto), a iniciativa do grupo liderado por Mário Ferreira vem sinalizar que o sector dos media tem de se reinventar para sobreviver e criar novas fontes de receita.

Curiosamente também a SIC, do Grupo Impresa, anunciou a entrada num negócio fora da criação de conteúdos, com a aquisição de uma participação na Etnaga, detentora da bilheteira online BOL.

Estes movimentos juntam-se a outros que tentam captar novas receitas e alavancar os conteúdos existentes e os canais por cabo que possuem com acordos de distribuição pelas operadoras: a SIC, a par da forte aposta na plataforma Opto, parece estudar o lançamento de um novo canal temático no cabo dedicado à ficção, ao mesmo tempo que a TVI tinha anunciado que estaria a transformar o seu canal TVI Ficção numa plataforma de conteúdos mais generalista – a V+TVI (com estreia a 9 de Agosto), tentando fazer frente aos projectos do Grupo Medialivre CMTV e Now.

Estas tentativas de criação de novas fontes de receita entendem-se bem olhando para a evolução recente do mercado publicitário. Apesar do mercado estar a crescer uns robustos 10% até Maio com o digital a sustentar (últimos dados com fonte da APAN), a receita dos canais de sinal aberto (FTA) progridem apenas uns residuais 1%, enquanto o cabo reforça o seu bolo com mais 16%, apesar de, em termos de valor, o pay TV ainda valer menos de metade dos canais em FTA.

Também a rádio está a protagonizar um forte reforço de investimento, um aumento de 34% até Maio, depois de uma estagnação no ano anterior, ajudando a consolidar o projecto do Observador, e criando argumentos positivos para a clarificação accionista do grupo que detém a TSF. E também nesta área, estamos à espera que o Grupo Medialivre avance com o projecto de rádio, após o anúncio da compra das rádios SBSR e Festival do Norte.

O alargamento da oferta de conteúdos terá de ser acompanhado por uma selectiva análise dos públicos-alvo para que, como todos prometem, sejam verdadeiras alternativas à oferta existente e diferenciadora face à concorrência, e assim alavancas de crescimento de receita. Veremos!

Artigo publicado na revista Marketeer n.º 337 de Agosto de 2024

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