O Portugal dos Vencedores

A revista Marketeer convidou-me para fazer um resumo com o melhor do Festival de Cannes 2016.

Mas isso vai ter que esperar.

Há um assunto mais importante: falar sobre todos os prémios que ganhei no Festival de Cannes 2016 para além do shortlist com a “Charlie Hebdo Box” criada para o Público.

Este ano ganhei muito mais do que isso – voltei de Cannes com um Leão de Ouro (Escritório), com quatro Leões de Prata (Escritório, Young & Rubicam e Leo Lisboa) e três Leões de Bronze (BBDO Portugal).

Estupidez comemorar assim as vitórias da concorrência? Prefiro concordar com a frase do mítico Nizan Guanaes, um dos publicitários mais famosos do mundo, que diz algo mais ou menos assim – “A minha concorrência é quem faz mau trabalho – as agências criativas e competentes só me ajudam”.

E várias agências portuguesas ajudaram a mim e ao mercado este ano e mostraram no maior festival de criatividade do mundo que, sim, estamos a jogar muito à bola.

Esta injecção de autoestima vem em boa hora, porque muita da nossa media especializada insiste em promover o sucesso dos “Portugueses que se deram bem lá fora”, repetindo subtilmente que os grandes talentos de Portugal só florescem quando agarram no passaporte e no portfólio e se metem num avião para o estrangeiro.

Este mantra é repetido tantas vezes que muita gente começa a acreditar e a repetir esta cantilena nos cafés, nas festas do CCP e pelos recantos do Facebook.

Portugueses pelo mundo, não me levem a mal – torço pelo vosso sucesso. Sério. Mas cantar os vossos feitos não pode continuar a servir de desculpas para este “complexo de vira-lata” (como diria o escritor brasileiro Nelson Rodrigues) que alguns querem vender à força toda ao mercado português.

Uma novidade para essa malta: podemos continuar a celebrar os golos do Cristiano Ronaldo no Real Madrid. Mas os golos do Cristiano Ronaldo no Real Madrid não contam para a Selecção Portuguesa.

E em Cannes ficou provado que há muita gente boa a jogar em Portugal.

Somos o país que produziu as hospedeiras da Emirates e do Benfica (grande golo do Jerónimo, do Tiago e dos seus rapazes), do “Smart Effect”(palmas para a BBDO e pra Jack the Maker), das campanhas do Jornal I (do mestre Pedro Ferreira, que nunca desistiu da média impressa), sem falar das campanhas premiadas da Leo Burnett e da FCB Lisboa, que entrou no shortlist do Lions Health.

Então, parabéns a todos.

Parabéns, não: Obrigado.

Espero retribuir o favor em 2017.

Texto de Marcelo Lourenço, director criativo da Fuel

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