Este Paço (também) é para rainhas
O chef António Latas já esteve no Bica do Sapato e foi quem abriu o La Caffé. Agora, e desde Junho, tem estado a reinventar o Paço da Rainha. Propostas onde a frescura dos ingredientes se destaca e onde o sabor é rei
Texto de M.ª João Vieira Pinto
Não, o chef não é estrela Michelin. Nem o espaço está numa cosmopolita rua do centro de Lisboa. Mas que vale a pena ir até ao Paço da Rainha, em frente ao Palácio da Bemposta, vale. Não estava no seu radar? Acompanhe a experiência da Marketeer e talvez mude de ideias.
A cozinha é conduzida pelo chef António Latas. Com mais de 20 anos a trabalhar na área, esteve no Vila Vita, nas Pousadas de Portugal, no Bica do Sapato e foi o grande responsável pelo sucesso dos chás da tarde no LA Caffé, em Lisboa. De todos os espaços por onde passou trouxe conhecimentos, influências, inspirações e aromas. Exigente, na confecção e na escolha dos ingredientes – «o queijo tem que ser comprado na Azóia» -, foi aliciado há uns meses a desenhar uma nova carta e conceito para o agora reaberto Paço da Rainha. Sim, reaberto, que o restaurante já existia mas sob outra gerência e com outras ementas.
António Latas assim o fez. No dia em que a Marketeer lá almoçou, começou por experimentar uma cavala marinada sobre uma base de focaccia (também ela receita do chef) que chega à mesa decorada com pequenas begónias comestíveis. Neste caso, uma cavala fresquíssima, no ponto de sal.
Seguiu-se um tártaro de atum (dos Açores) com manga e sal de wasabi. Se a manga lhe traz o doce, o wasabi corta a intensidade e o atum destaca-se. E, a fechar o trio, um estaladiço de queijo de Azóia com compota do chef. Sim, pode pensar que já há doce a mais e ainda só está nos primeiros aconchegos de estômago, mas a verdade é que ele não se sobrepõe. Até porque há uma atenção do chef à quantidade de açúcar, que não quer elevada.
Para prato principal, um bacalhau fresco em risotto de tomate e coentros. E, a fechar, um pudim de gemas dos frades de Alcobaça com xantana de laranja.
António Latas não se demora em explicações. Prefere que nos entreguemos à arte de saborear. Nós assim fizemos e não demos o tempo por mal entregue. A qualidade dos ingredientes sobressai pelo sabor. A confecção, sem sobreposições nem atropelos, destaca os elementos que compõem cada prato. Pelo meio, há uma preocupação no empratamento. Até porque “os olhos também comem”.
E se é de quem tem saudades do Chá das Cinco, pode sempre procurar o Paço da Rainha aos sábados, perder-se nos chás, nos scones caseiros, nos vários doces, macarons ou chocolate quente.
Sim, o Paço da Rainha esteve para fechar depois de 30 anos a servir refeições em frente ao Palácio da Bemposta, outrora residência da Rainha Catarina de Bragança. Foi no momento certo que cinco amigos que o frequentavam com regularidade se juntaram, meteram mãos a obras e o recuperaram, trazendo ainda para o núcleo de sócios o gerente do restaurante de todos os tempos, e também ele já um amigo, Guilherme Farinha. Os actuais responsáveis pelo espaço são amantes da boa gastronomia. Gostam de conversar e contar a história. Mas, na altura de dar nomes e rostos ao novo projecto, preferem que seja o chef, a sua equipa e os pratos por eles desenhados a fazer as honras da casa.
O antigo Paço da Rainha servia comida portuguesa tradicional, de tacho. A nova gerência seguiu novo caminho. Quem vai e prova também aprova.