Da grandeza

TiagoViegas

(Em minha defesa gostaria de lembrar que este texto foi escrito em plena silly season, o que servirá de desculpa se porventura o acharem um pouco mais silly que o habitual. Por outro lado, se não acharem, então é o prefácio que acaba por ser meio silly; o que, em princípio, também funciona.)

No outro dia fui visitar um grande amigo a uma agência grande. Dois passos lá dentro e vejo uma menina sorridente a dizer-me adeus. “Que charmoso que eu devo estar hoje”, pensei logo.

Enfim, pensei mais ou menos.

Aproximo-me e começo logo a levar. “Com que então anda a escrever que os accounts não servem para nada? Sim senhor, muito obrigado, pela parte que me toca” – disse ela.

Ao que eu, para começar, retorqui logo com um mui amarelo e embaraçado sorriso. E depois, para rematar, me apercebi de duas coisas: que afinal não era só a minha mãe(zinha) que lia os meus artigos; e que, claramente, não me devia andar a explicar bem.

(Pese embora na altura o meu ego de publicitário não ter achado logo que eu andaria a explicar- me mal, mas antes que as meninas sorridentes não andariam a interpretar-me bem.)

Passados uns dias a minha pequena agência foi convidada por essa tal agência grande a fazer um pitch em conjunto, coisa que me deixou particularmente contente na medida em que nela trabalha uma série de pessoas de quem gosto e cujo trabalho admiro. Até que alguém se lembrou e disse “mas esse não é o tipo que diz que as agências grandes são uma merda? Para que é que nós queremos associar- nos a um gajo desses?”. Ao que eu, para começar, não retorqui puto – até porque não estava presente. E depois, para rematar, me apercebi de mais duas coisas: primeira, que talvez eu pudesse, de facto, escrever menos asneiras e explicar-me melhor. E segunda, que a malta da indústria afinal até lê os meus disparates, mas muito por alto e na diagonal (o que, verdade seja dita, faz bastante mais sentido e é até capaz de fazer da sua leitura uma experiência menos desagradável).

Ou seja, e a ver se nos entendemos: aquilo que eu disse – e perdoem-me, mas continuarei a dizer – é que as agências grandes não são necessariamente grandes agências. Que a sua grandeza vem – e virá sempre – não de serem 100 ou 200 ou 400, mas antes de serem bons no que fazem e na forma como o fazem (e tanto que haveria a dizer sobre esta última parte). Que é como quem diz, que a grandeza das agências não se mede nos números, mas antes nas pessoas que lá têm a trabalhar. Pessoas, pessoas, pessoas. Percebem?
Vá lá, não é complicado. Aquilo que eu disse é que uma grande agência é-o sempre na medida da qualidade técnica e humana da equipa que lá tem. E que uma network, por melhor que seja, não vale a ponta de um corno se quem cá estiver não valer… enfim, a mesma ponta do mesmo corno. Faço-me entender? Melhor?

Sim, é verdade, disse também que o mercado mudou muito, e que o tamanho é cada vez menos (se é que é de todo) um factor necessário para garantir a qualidade do trabalho. E é mentira, querem ver? Sim, é verdade que disse também que as agências grandes têm que se adaptar, mudar modelos de negócio e o diabo a quatro. E também é mentira, querem ver? E sim, disse – e vou dizer até chegar mais ou menos aos 2000 caracteres (com espaços), que é o tamanho médio desta coluna – que o que importa são e serão sempre as pessoas e a sua qualidade, sejam accounts ou arte-finalistas, trabalhem numa agência de duas ou de 100. E é mentira, querem ver?

Reparem, seria estúpido dizer que o tamanho, por si só, é sinónimo de falta de qualidade. Depois pensava na Ogilvy São Paulo, que tem 800 pessoas e este ano ganhou mais leões do que o Sporting tem sócios e fazia figura de otário. Mas não seria menos estúpido não reconhecer que o negócio mudou muito, mais ainda num mercado como o nosso, que é uma espécie de bidé (mais no sentido em que é pequeno, menos no sentido em que por ele passa uma considerável quantidade de merda; ainda que, agora que penso nisso, esta última imagem não seja totalmente descabida). Até porque depois pensava na Droga5, que é para aí 16 vezes mais pequena que a Ogilvy São Paulo e se for preciso ganha o mesmo número de leões para o ano, e voltava a fazer figura de otário.

Ou seja, aquilo que eu disse, meninas sorridentes e leitores afins, é que o que importa são as pessoas – e que é isso que faz de uma agência grande (ou pequena) uma grande agência.

E agora vá, enfiem lá esta carapuça e não pensem mais nisso.

Texto Tiago Viegas

Fotografia  Paulo Alexandrino

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