ISAG: Vamos (re)construir as marcas para o Turismo 4.0?

Uma hecatombe abateu-se sobre o turismo em Portugal por causa do coronavírus, sendo previsível que os seus efeitos mais nefastos se manifestem, pelo menos, até ao próximo ano. O turismo, tal como o conhecemos, acabou, o modelo de negócio adoptado morreu, e não regressará com sucesso.

Neste cenário de crise e dos novos desafios do Turismo 4.0 (com a necessidade de aceleração da transição da actividade turística para a economia digital, a promoção do empreendedorismo, a criação de startups de turismo, bem como a aposta na inovação de serviços de valor acrescentado), urge implementar estratégias que permitam que o sector nacional se renove e inicie uma dinâmica de crescimento virtuoso e sustentável.

Como resposta imediata, o Turismo de Portugal adoptou a estratégia da criação do selo “Clean & Safe”. Esta solução está a revelar- se eficaz em termos de se (re)conquistar a confiança dos consumidores a curto prazo. Contudo, sendo uma solução necessária, não será suficiente nem de longo prazo, face ao desafio hercúleo que representa a visão estratégica para o sector, tal como consta na Estratégia Turismo 2027, que ambiciona posicionar Portugal “como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo”.

Num palco de low touch economy, tal implicará a reinvenção dos modelos de negócio e criação de novas vantagens competitivas sustentáveis, assentes numa política de (re)construção das marcas do sector, e focados nos novos valores-chave dos consumidores: atenção ao propósito das marcas, prioridade ao básico e ao que os fazem felizes, entretenimento, sustentabilidade, compras online, segurança, transparência e preferência por produtos reciclados ou ecológicos.

Os turistas irão preferir as marcas que forneçam experiências únicas e consistentes, e apresentem riscos mínimos de segurança. Para aumentar os sentimentos positivos dos consumidores, será importante proporcionar- lhes experiências relevantes, lembradas com emoção, felicidade, diversão e alegria. Os pontos de contacto das marcas não deverão concentrar-se nos seus atributos, mas terão também de evidenciar razões (e.g, segurança, cuidado, amor, facilidade). Tal será traduzido para o consumidor em termos de experiência percebida, através dos seus sentidos: visual, olfactivo, paladar, auditivo e táctil.

Em suma, as marcas de sucesso da nova geração deverão assentar numa estratégia digital inovadora, criativa e perspectiva optimista, exprimir-se com tons compassivos e apostar em soluções de fortalecimento de comunidades interpessoais, proporcionando experiências de marca hiperpersonalizadas, e investindo com consistência na sua reputação e presença (tendo em conta a introdução em Portugal da tecnologia 5G, que irá aumentar a potência e rapidez da comunicação e streaming de conteúdos, assim como a exploração das potencialidades das realidades aumentada e virtual, SMS 5G, etc.). Tais estratégias exigirão resiliência, foco e comprometimento ao longo do tempo, pessoas qualificadas, recursos e mudanças nas políticas, cultura e mentalidades dos agentes do sector.

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