Black Friday: Que mais dias “negros” virão?

Por Marta Bicho, directora do IPAM Lisboa

“Sexta-feira negra”, que começou por ser um dia no calendário, dedicado a promoções, e que antecede e inaugura a época de compras natalícia, é hoje uma tradição, que se estende para além de um dia, podendo prolongar-se pelo período de quase um mês.

Surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 90 e marca o calendário realizar-se um dia depois do Dia de Acção de Graças nos Estados Unidos, na quarta sexta-feira do mês de Novembro. Rapidamente este dia se estendeu mundialmente e o que começou por ser promoções que incidiam sobretudo em produtos, de lojas retalhistas e grandes armazéns, actualmente abrange quase todos os sectores, incluindo todo o tipo de serviços, tal como o sector da saúde.

Ou te juntas ou ficas de fora? Para as marcas, ficar fora deste dia – que já se tornou uma tradição – é quase um risco. A Black Friday constitui-se como uma efeméride que o consumidor faz questão de usufruir. Por exemplo, um estudo realizado em 2011 a consumidores demonstrou que as actividades de compras da Black Friday constituem um ritual de consumo colectivo, que é praticado e compartilhado por múltiplas gerações de familiares e amigos próximos (Thomas & Peters, 2011). Por sua vez, para as marcas, um outro estudo demonstrou a Black Friday como um ritual de comunicação, que possibilita estratégias de marketing mais eficazes, pois explora o significado de participar de um ritual para os consumidores (Bell et al., 2014). Sendo assim, o nível de fasquia da Black Friday sobe a partir do momento em que se torna um “ritual”, tanto para os consumidores como para as marcas e que vai para além de “compras” e “vendas”.

Uma das principais estratégias que as marcas utilizam na Black Friday é o FOMO (Fear Of Missing Out ou medo de ficar de fora) como principal incentivo para o consumidor aproveitar as melhores ofertas e promoções, o que levou a alguns comportamentos de risco por parte de consumidores no ponto de venda, tais como comportamentos violentos e negativos, que colocaram em causa a segurança de outros consumidores e lojistas. No entanto, estes riscos têm vindo a ser mitigados, por exemplo, com o alargamento do período da Black Friday. Por outro lado, com base na experiência acumulada, cada vez mais as marcas impõem um conjunto de regras e normas que regem as compras da Black Friday, assim como uma selecção de produtos que se incluem nesta comemoração.

O que se que torna evidente é que a Black Friday é uma oportunidade e uma estratégia para as marcas para escoar stocks, renovar produtos e gamas para o período do Natal e constitui-se, para além de um ritual, como uma acção de vendas agressiva, com descontos que podem chegar a 80%. Por sua vez, existem alguns riscos para as marcas, tal como a depreciação de vendas pós Black Friday. O mais importante é não colocar todos os trunfos, em termos de produto, preço e não só, à volta desta época.

Por fim, a Black Friday tem vindo a evoluir e a delimitar as suas oportunidades e fronteiras e, por isso, à Black Friday já se juntou o Cyber Monday. Que mais dias “negros” virão?

Referências:

Thomas, J. B., & Peters, C. (2011). An exploratory investigation of Black Friday consumption rituals. International Journal of Retail & Distribution Management, 39 (7), 522-537.

Bell, G. C., Weathers, M. R., Hastings, S. O., & Peterson, E. B. (2014). Investigating the celebration of Black Friday as a communication ritual. Journal of Creative Communications, 9(3), 235-251.

Artigos relacionados