Até onde é que vão os seus conhecimentos sobre menstruação?

O básico (58%) ou muito pouco (13%). É isso que a maioria dos homens considera saber sobre a menstruação. Esta é uma das conclusões de um estudo da marca sueca Intimina dedicada aos cuidados da saúde íntima feminina que, em Abril, ouviu 547 homens (entre os 18 e os 65 anos) sobre o tema.

E ainda que 49% saiba que a menstruação dura entre 2 e 7 dias, muitos confundem ciclo menstrual com período. «Há muito desconhecimento e confusão. A anatomia feminina é complicada. É quase tudo escondido», comentou esta manhã, durante uma mesa-redonda de apresentação do estudo, Ana Alexandra Carvalheira, psicóloga clínica e investigadora do ISPA-Instituto Universitário.

Os homens portugueses revelaram estar cientes das dores menstruais que muitas mulheres sofrem, uma vez que 84% respondeu saber que algumas mulheres sofrem com cólicas. Este processo pode, também, desencadear alterações a nível comportamental e 73% dos homens reconhece notar uma diferença de humor da companheira quando está menstruada, mas a grande maioria refere que não faz comentários em relação a estas alterações. A psicóloga salienta que é importante que as mulheres valorizem o seu corpo e ouçam as suas necessidades, frisando que as mulheres não são todas iguais e que os seus corpos não têm as mesmas necessidades durante todo o tempo de vida. Há mulheres que nunca têm dores, outras têm dores abdominais, enxaquecas, alterações de humor e sangramento desmesurado. O motivo? As alterações hormonais. Daí que a profissional insista na necessidade de se falar abertamente sobre este tema com os parceiros e em sociedade. «Um órgão gerador de vida devia ser mais respeitado.»

E num momento em que o debate sobre novas medidas de saúde menstrual tem estado na ordem do dia devido à aprovação, em Espanha, do projecto de lei que prevê licença de até três dias para mulheres que sofrem de menstruação severa e dores intensas, Ricardo Pereira, director-geral da Magg e mais conhecido por “O Arrumadinho”, salienta que, em Portugal, essa seria uma lei que chegaria à frente do tempo. «Se hoje se tentasse implementar uma lei assim em Portugal isso iria jogar contra as mulheres. Um homem que tem o poder de decisão e que ainda não fez o seu caminho de encontro em relação à igualdade de género, que ainda tem preconceitos machistas, no momento de decidir contratar, provavelmente vai privilegiar um homem que vai estar disponível todos os dias.» No fundo, muito aquilo que já se viu em relação a mulheres em idade fértil ou com filhos pequenos. Aliás, acrescenta Paulo Fernandes, locutor da M80, isso ainda é visto nos anúncios de emprego em que se pede “disponibilidade total”. Mas não tem dúvidas de que «toda esta discussão é mais um passo neste caminho da igualdade».

A pesquisa da Intimina permitiu concluir que a menstruação pode ter uma grande influência nas relações íntimas de um casal. Mais de metade (54%) dos homens refere que é uma opção conjunta do casal não ter relações sexuais durante a menstruação, 10% indica que até gostaria de ter relações sexuais durante a menstruação, mas que não o faz porque a companheira não se sente confortável e 4% aponta o inverso, que é ele que não se sente confortável, apesar de a mulher até gostar. E quanto a este tema, Paulo e Ricardo não podiam estar mais de acordo: «Se houver vontade dos dois, não há preconceitos.» Mas não é o caso em todos os casais. E para responder àqueles que encaram o sangramento como algo a evitar nas relações sexuais, a Intimina tem no mercado, a partir de hoje, o Ziggy Cup 2 um disco menstrual desenhado para poder ser usado durante relações sexuais (mas, atenção, não é contraceptivo!)

Relativamente aos produtos de higiene e saúde feminina, o estudo revela que estes já não são completamente desconhecidos da população masculina. Mais de metade já sabe o que é e como funciona o copo menstrual, com 68% a indicar inclusivamente ser um produto reutilizável e mais amigo do ambiente.

A psicóloga clínica e investigadora do ISPA-Instituto Universitário reforça que «há falta de conhecimento dos homens sobre o ciclo menstrual das mulheres, o que não é surpreendente já que a menstruação tem sido um tema algo escondido e associado a emoções negativas, de vergonha, por exemplo». A responsável confessa que «o uso destes copos vaginais como o Ziggy Cup 2 também permite desmistificar crenças disfuncionais relativas à menstruação que ainda persistem, tanto no universo masculino como no feminino, porque trazem informação e comunicação sobre o ciclo menstrual e até mesmo sobre a genitália feminina. O sangue menstrual não é “sujo”, como muitas das gerações mais novas foram ensinadas. Muito pelo contrário: está ligado à capacidade do útero de gerar vida, a vida de um ser humano». Estes produtos são, também, uma ferramenta para as mulheres descobrirem como é a sua vagina.

Ana Alexandra Carvalheira é de opinião de que «este tipo de estudo e debates é fundamental para o crescente conhecimento por parte da população, ainda mais numa altura em que novas medidas de saúde feminina estão a ser discutidas, ou até mesmo validadas como é o caso do país vizinho, onde a baixa por dores menstruais severas foi aprovada».

E se chegou até aqui, deixo-lhe um dado curioso. Sabia que o Dia da Menstruação se assinala a 28/05? O dia 28 foi escolhido por ser, em média, a duração do ciclo menstrual e o 5 por ser, em média, o número de dias de período.

Texto de Maria João Lima

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