As empresas e a inovação. Fazer a coisa certa pode não chegar para ter sucesso…

Por Ana Cecília, especialista em Comunicação e Impressão, revista IG e Grandes Formatos

O mundo mudou tanto que hoje fazer o certo já não chega. Fazer sempre igual pode ser o maior erro. Esperar que outros não vejam onde está o buraco no sistema é apenas uma ilusão e acreditar que a inovação só mudará e impactará o negócio dos outros, é proceder como as avestruzes que escondem a cabeça na areia e ficam com o rabo de fora…

Este não é um artigo sobre aquilo que o marketing tem para mostrar de novo aos seus clientes. Este é um artigo para todos os que trabalham na área da comunicação e marketing e querem oferecer mais, fazer diferente, estar mais preparado e seguir na frente, acompanhando a inovação que, qual carrocel de feira, não para de girar e vai aumentando de velocidade a cada nova volta.

Hoje todas as grandes ou pequenas decisões dos profissionais de marketing não podem estar dissociadas da evolução tecnológica, não podem basear-se apenas em acções isoladas e não encadeadas.

Se há alguns anos era possível ser um “aluno” desatento e desligado de tudo o que ia surgindo em termos de novidades que as empresas fornecedoras de produtos, serviços e materiais iam fazendo, cruzando as pernas na secretária e esperando que os tipos das gráficas, os profissionais de produção e até mesmo alguns designers mostrassem as novidades, actualmente isso é apenas um “tiro no pé”.

Imagine que tem uma grande conta de uma empresa/marca, cujo produto vive em grande parte do impacto causado pela embalagem. Acha que não precisa de saber mais sobre embalagens inteligentes, como por exemplo, aquelas que a indústria farmacêutica já usa e que apitam a avisar sobre a hora de tomar o medicamento? Ou mesmo aquelas cuja impressão da caixa ou rótulo desvanece para alertar que o consumo do produto já não é válido?

Está seguro do quanto a criatividade aliada a novas possibilidades oferecidas pela tecnologia marcarão a diferença em tudo o que faz e pensa? Repense a sua forma de trabalhar quando hoje a palavra de ordem passa por sustentabilidade, inovação, personalização e eficácia. De nada adianta desenvolver uma campanha que repete o mesmo método, que recorre ao mesmo processo e cujo feedback será, quanto muito igual ao dos seus vizinhos.

Acha que não é mais do que hora de propor novas soluções, substratos e materiais inovadores que causem o efeito “uauuu” no seu cliente?

Já pensou no quanto está a perder por fazer e apresentar aos seus clientes, “mais do mesmo”, o “ramram” do dia-a-dia, sem ponderar todas as possibilidades de se destacar mostrando que aquilo que faz e aquilo que projecta o distanciará da concorrência e o pode levar a ser o “Ronaldo” da sua área de negócio?

Ao longo de 25 anos de experiência na área da comunicação, o que posso dizer com toda a certeza, é que já não é possível estar fora, estar desligado e fingir que a essência do seu negócio não passa por pesquisar, estudar e testar novos materiais, novos equipamentos, novas abordagens e novas formas de comunicar.

Se a área de embalagem cresce desmesuradamente, a impressão 3D segue-lhe as pisadas e para além da área da impressão tradicional expandiu-se já para a área da medicina com a produção de próteses, de órgãos para uso em humanos e animais, de peças para dentistas, para o fabrico especializado na aeronáutica e até para a impressão de casas. Se tudo isto já não fosse suficiente, pense em telas preparadas para espaços interiores que transformam dióxido de carbono em oxigénio, em livros interactivos, numa impressão que da web vai para o print e o contrário, com o já conhecido prin- to-web.

No Egipto, uma editora fez uma parceria com a Universidade do Cairo e começou a desenvolver livros escolares que remetem os alunos do papel para a web, como forma de levar as crianças a interagir com o papel, propondo exercícios que podem ser complementados de ambas as formas.

Na Coreia do Sul dois estudantes viram uma oportunidade na personalização e estabeleceram um acordo com as escolas “primárias”, oferecendo aos pais a digitalização de todos os trabalhos feitos pelos seus filhos na sala de aula e produziram livros únicos e personalizados, de capa dura, com imensa qualidade. A realidade é que não venderam um livro a cada pai ou mãe, mas sim dois, três ou quatro de acordo com os número de avós ou tios que também fazem questão de guardar a peça como recordação.

Hoje os livros não estão em declínio. Nunca se imprimiram tantos títulos como agora. A única diferença de há alguns anos para cá, é que há mais gente a escrever e as tiragens de cada produção diminuíam, mas no geral a soma total dá um valor global muito maior, o que indica que o livro não morreu.

Acha que as empresas já não querem ter um livro que conte a sua história? Um livro de qualidade, com bom texto e boas imagens?

Numa altura em que as redes sociais estão cheias de ruído, ter a história de uma empresa conta em papel, cria um prestígio e distinção que o online não oferece.

Outra área onde a importância dos produtos físicos faz toda a diferença é no ponto de venda. Feche os olhos e imagine um centro comercial ou uma grande superfície sem nenhuma gôndola, nenhum expositor, sem comunicação em telas, cartão ou mesmo através do uso de Leds, sem embalagens atractivas, apenas com venda a granel…

Se tiver a sorte de visitar o Japão vai perceber de que forma a comunicação outdoor e mesmo indoor é importante, como o chamado cross selling faz a venda, como a realidade aumentada está a ser usada para atrair o olho humano em muitos produtos mas sobretudo em rótulos de bebidas, de que modo os QR Codes estão a ter um uso fora das lojas e sobretudo como até os gifts voltaram a ter um papel crucial no “reminder” junto do cliente.

O mundo é digital, o pensamento é global mas a acção é local. Se quem decide campanhas, acções, eventos e projectos, tem de escolher formas de chegar até aos seus clientes, até ao consumidor final, não tiver na sua frente um “catálogo” de opções altamente inovadoras, se não tiver informação sobre aquilo que outros países e mercados estão a seguir, dificilmente, poderá, por muito genial que seja, oferecer um trabalho inovador e capaz de cumprir objectivos, diga-se, cada vez mais exigentes.

Por último, quero apenas que pensem que, a tudo isto terão de juntar a palavra “sustentabilidade”, o santo graal das estratégias actuais de pequenas, médias e grandes empresas.

Não é à toa que até os Governos estabelecem metas, destinam verbas e obrigam a cumprir critérios em todas as áreas de forma a que o impacto ambiental seja o menor possível. Para quem acha que será possível passar ao lado de um trabalho que implique “sustentabilidade, inovação, digitalização e personalização”, desejo apenas boa sorte porque “crocodilo que dorme, vira carteira…”

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