Há um mundo de sabor no Attla, em Lisboa

Há um novo chef na cidade que vai dar que falar, mas ainda poucos sabem quem é. Eu também não conhecia, admito. Mas soubesse o que sei hoje e já teria repetido. Talvez seja o que lhe vai acontecer.

Se disser que o chef é André Fernandes, talvez o nome não faça mesmo soar campainhas. Mas acredito que não tardará a fazer. Porque criatividade, técnica e bom gosto andam de mãos dadas nos pratos surpreendentes que apresenta no Attla. Ali, em Alcântara (Lisboa), num espaço que foi já padaria mas que André e Rita – a namorada de há anos e cúmplice de sempre neste projecto – reformularam de forma a que quem chegue se sinta… como em casa!

E, sim, conforto é apenas parte do que se recebe por lá. Porque há também aconchego de estômago e felicidade no que se prova. Como quando o chef nos faz comer à mão («nada de garfos e facas, por favor») a massa confitada com cacau, sapateira, sour cream e flor de chagas. “Combinação improvável ou estranha” é o que está a pensar, certo? Pois, é precisamente este prato, o primeiro a chegar à mesa, que me vai fazer voltar. É de fazer “hummmm”, comer todos os pedacinhos até ao fim e desejar que não acabe ou se possa repetir.

Numa verdadeira cozinha de fusão, moldada, claro, por viagens e experiências em destinos como a Ásia ou a Costa Rica, há uma mão cheia de surpresas que vão desfilando. Outra a reter é o topinambur grelhado. Confesso que não sabia o que era topinambur. Perdoem a ignorância. Ainda achei que fosse um peixe, mas não. É um tubérculo e, acredite, vai fazer com que também queira limpar o prato.

Sim, André joga várias cartas altas e, acima de tudo, que conquistam quem vai sem saber bem ao que vai. Procurando sempre uma cozinha sem desperdício, partilha sabores e o seu saber – de resto, a cozinha é aberta para a sala por uma grande janela sem vidro – com toda a humildade de quem se diz um «desconhecido» nestas coisas de chefs em Portugal.

André Fernandes, o chef, e Rita Chantre, fotógrafa, são um repositório de muitas e diferentes viagens De resto, André saiu cedo de casa dos pais, aos 16, para ir aprender aquilo de que verdadeiramente gosta: cozinhar. Foi até à Bretanha, França, onde começou a trabalhar numa creperia e de onde saltou para o estrela Michelin da região, o La Mare Aux Oiseaux. Haveria de chegar até Alain Ducasse, com quem trabalhou no Plaza Athenée, em Paris. Passou ainda pela La Maison Blanche, dos irmãos Pourcell, até que decidiu partir rumo às Caraíbas, para o Le Toiny, da cadeia Relais & Chateaux. Seguiu-se novamente Paris, Barcelona, Bora Bora, Rio de Janeiro e… Portugal. É quando conhece Rita, a fotógrafa com quem viria a partilhar a vida e os projectos. Partem para a Tailândia, a que acrescentam Vietname, Indonésia e Papua Ocidental. A seguir, mudam para a América Central, nomeadamente Peru e Costa Rica, onde montam a sua última aventura gastronómica, o “private chef”, organizando jantares no meio da selva. Há cerca de um ano, regressam a casa e sonham com o Attla. O espaço que, como o próprio nome indica, é “palco” do mundo por onde passaram.

Por lá, há lugares sentados para 25, sendo que na base de tudo está a sazonalidade e a sustentabilidade. A ementa muda de 15 em 15 dias e os produtos chegam de pequenos produtores, próximos – de Torres Vedras, Peniche, Azeitão… – que dão a base para fazer “o que a natureza permite”. Tanto a carta de cocktails como a de cozinha seguem o objectivo do Zero Waste. «Não tardará a não haver ementa escrita», confirma o chef.

Morada: R. Gilberto Rôla, nº 65, Lisboa

Horário: de terça-feira a sábado, das 19h às 23h30

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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