«Responsabilidade social não tem de ser dispendiosa. Tem de ser adaptada ao que a comunidade precisa»

Um centro comercial pode ser apenas um local onde estão reunidas lojas de diferentes marcas, restaurantes ou outros serviços. Mas também pode ser um motor de sustentabilidade, seja ela ambiental ou social. Isso mesmo quer provar a Klépierre Portugal, responsável pelas gestão do Aqua Portimão (Portimão), Espaço Guimarães (Guimarães) e Parque Nascente (Porto).

«Tentamos sempre que as iniciativas possam ter colaboração activa dos nossos clientes, assim conseguimos criar e potenciar um sentimento de pertença», explica Sónia Duarte, responsável de Comunicação e Marketing da Klépierre Portugal.

Em entrevista à Marketeer, conta que os centros comerciais geridos pela empresa são espaços importante para a comunidade e que, por isso, faz sentido apostar em projectos que dinamizem, promovam e desenvolvam essa mesma comunidade. De acordo com a também responsável técnica pelas áreas de Act4Good e Act4Planet da Klépierre Portugal, a aposta tem dado frutos, tanto em termos de motivação das equipas como de reforço da imagem dos centros comerciais.

Sónia Duarte explica ainda qual é o impacto da pandemia nesta estratégia e como é que os planos tiveram de ser ajustados em virtude das várias limitações impostas a este tipo de espaços.

Como se trabalha a sustentabilidade em tempo de pandemia?

Na Klépierre temos muito bem desenvolvido o nosso pilar ActForGood, que tem três áreas principais de actuação: o Act for the Planet, Act for Territories e Act for People. E, por isso, independentemente da situação actual, continuamos a trabalhar para satisfazer as necessidades e os desafios destas três áreas.

Em 2008, assumimos compromissos em cada uma das áreas. Depois de alguns anos de trabalho, muitas iniciativas já foram desenvolvidas e o objectivo é chegar a 2022 com 100% destes compromissos atingidos.

Na verdade, para nós trabalhar sustentabilidade é algo completamente natural, faz parte do nosso ADN e tudo o que fazemos tem que ter impacto positivo nas comunidades, mas também na nossa pegada ecológica.

Por exemplo, hoje temos 100% dos activos, que são mais de 160 em toda a Europa, com certificação Breeam In Use e com a ISO 14001 implementada. Em 2020, fomos reconhecidos como número um nas categorias “Global Retail Listed Leader”, “Europe Listed Leader” e “Europe Retail Leader” pela GRESB, organização internacional que avalia o desempenho em sustentabilidade nas empresas do sector imobiliário.

No ano passado, recebemos também o selo de Carbon Free, ou seja, a Klépierre Portugal apostou num programa de compensação de emissões de carbono, neutralizando as emissões de 2019 tanto na sua sede central, como nos Centros Comerciais Aqua Portimão, Espaço Guimarães, Parque Nascente, revertendo para um projecto 100% português.

Estes feitos não se conquistam sem compromissos bem definidos e um posterior rigor na execução, pelo que para a Klépierre nenhuma situação pode afectar os compromissos que temos a longo termo com o Planeta.

Mas foi preciso mudar alguma coisa? Houve algum projecto ou medida que parasse?

Como a política de Responsabilidade Social e Corporativa faz parte do ADN da Klépierre, não cancelámos nenhuma acção, embora tivéssemos de realizar ajustes para cumprir com as normas em vigor. Diria que por estarmos focados na nossa comunidade, não podemos parar os projectos, pois temos um compromisso sério com a mesma.

A nível central, continuámos a apoiar mensalmente a Associação Ajude que se insere no Município de Oeiras, onde estamos sediados. A nível local, cada um dos centros comerciais continuou a desenvolver as suas próprias acções. Adaptámos sempre as iniciativas às necessidades, pois para que as mesmas resultem têm de estar enquadradas num contexto. Em Março de 2020, quando atravessávamos um período de profunda escassez de EPIs nos hospitais portugueses, o Parque Nascente prontamente doou 1.800 máscaras FFP2 ao Hospital São João no Porto.

Hoje, doamos bens alimentares e não alimentares a algumas instituições de cada uma das regiões. Estamos também a trabalhar a par com instituições no desenvolvimento de projectos co-criados, dando continuidade ao que já realizámos em anos anteriores, como foi o exemplo da iniciativa “Corações sem Barreiras” do Espaço Guimarães, ou o projecto “Sonhos de Natal” do Aqua Portimão que ajudou inúmeras famílias a ter um Natal mais feliz.

Que projectos estão a decorrer neste momento?

Continuamos a levar a cabo todos os projectos transversais e que são comuns a todos os activos da Klépierre, principalmente os relacionados com eficiência energética.

A nível local, estamos a desenvolver iniciativas diferenciadoras de actuação local. Por exemplo, este ano no Espaço Guimarães, estamos muito focados em iniciativas que impactem ambientalmente a cidade, promovendo espaços mais sustentáveis, a utilização de meios de transporte alternativos ou até explorando a utilização de novos materiais e produtos, com tecnologia inovadora, que nos permite ajudar o ambiente em permanência, como é o caso da recente empena no centro da cidade que tem nanopartículas activadas por fotocatálise, eliminando poluentes na atmosfera.

No Aqua Portimão, estamos a desenvolver um projecto muito interessante, que visa valorizar e potenciar a cultura da cidade e a sua história relacionada com a actividade piscatória. A região do Algarve é muito rica e deve ser explorada também por esta via. O projecto que iremos apresentar foca-se no estímulo do conhecimento das técnicas da indústria conserveira e em dar a conhecer as pessoas que fizeram parte dessa história.

Já no Parque Nascente, queremos apostar numa maior exploração do conceito de economia circular. Aqui vamos trabalhar em estreita parceria com a Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, que irá ajudar-nos principalmente com o know-how das suas equipas. Vamos também apostar num projecto colaborativo, onde vamos querer envolver a comunidade local do centro comercial para criar algo icónico e que valorize a zona dos antigos elevadores do centro comercial.

De que forma envolvem os visitantes e público em geral nesta aposta na sustentabilidade?

Tentamos sempre que as iniciativas possam ter colaboração activa dos nossos clientes, assim conseguimos criar e potenciar um sentimento de pertença. Somos espaços muito importantes para a nossa comunidade e, por isso, faz sentido apostar em projectos que possam dinamizar, promover e desenvolvê-la na mesma proporção.

Todos os projectos pretendem mostrar aos nossos clientes que é simples ajudar. Pedimos constantemente colaboração à comunidade e esta responde sempre de forma muito positiva. Porquê? Porque sabe que estamos a criar algo maior, com valor, e por isso querem também fazer parte deste projecto e das histórias que contamos.

A mais recente iniciativa foi no Parque Nascente, onde criámos, em parceria com a Auchan e a Câmara Municipal de Gondomar, a campanha “Cabaz Solidário”: pedimos a todos os nossos clientes para colaborar e comprar vouchers virtuais nas caixas do hipermercado. Com esta iniciativa, ajudámos mais de 60 famílias do concelho, previamente identificadas pela câmara.

Além da pandemia actualmente, quais são os principais desafios à implementação deste tipo de projectos?

Para nós o principal objectivo é e será sempre encontrar o projecto que impacte positivamente a nossa comunidade. Na nossa óptica, os projectos têm mesmo de ter um propósito e os nossos visam o desenvolvimento das áreas em que nos inserimos.

Temos vindo a desenvolver todas as iniciativas com as quais nos tínhamos comprometido, levando-as, nesta fase, para um ambiente mais digital. E os resultados têm sido impressionantes, pois através dos canais digitais chegamos obviamente a muito mais pessoas. Sabemos que, por termos levado os nossos projectos para o digital, muitos habitantes das cidades e regiões onde nos inserimos estão hoje a tomar consciência de todas as nossas iniciativas de responsabilidade social.

Que consequências/resultados tem esta aposta para a empresa?

Um dos aspectos que mais destaco é a motivação das equipas internas Klépierre. Estes projectos são colaborativos e multidisciplinares, ou seja, contam com a participação dos colaboradores das mais diferentes áreas e que aportam um valor inestimável ao que criamos.

Estes projectos ajudaram-nos também a potenciar a imagem dos nossos centros comerciais. Por exemplo, foi através da iniciativa “Mãos com Vida” do Parque Nascente que, em 2019, ganhámos dois Prémios Eficácia Prata, nas categorias “A Força do Bem” e “Low Budget”.

Estes prémios reflectem também que as iniciativas de responsabilidade social não têm de ser dispendiosas, têm sim que ser estudadas, adaptadas e implementadas de acordo com o que a comunidade precisa.

Têm novos projectos em vista?

Claro! Estamos muito focados em dar de volta tudo aquilo que o Planeta nos dá. Por isso, os projectos deste ano, embora diferentes no Aqua Portimão, Espaço Guimarães e Parque Nascente, vão certamente ajudar a reduzir a nossa pegada ecológica, e também a dos nossos visitantes. Irão promover um maior conhecimento ambiental e continuarão a ajudar no desenvolvimento, tão importante, das nossas comunidades.

Texto de Filipa Almeida

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