M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
No dia em que escrevo este Editorial, Joana Marques – a humorista e radialista da Renascença – enfrenta um processo interposto pelos Anjos que, caso perca, a levará a pagar a módica quantia de 1 milhão de euros. Um caso único, até à data, em Portugal!
O humor é arte. Fazer rir alguém, ou toda uma plateia; saber ler para além do óbvio; ter capacidade de trabalhar a ironia, não é de todos. Só que o humor também é arte desequilibrada, de que se gosta ou não, que se paga para ver ou nem tanto, que se aplaude muito ou pouco, que se partilha ou se cala.
Em Portugal – País em que, de Gil Vicente a Ricardo Araújo Pereira, o riso tem servido como catarse colectiva e mecanismo de resistência –, este não é o primeiro caso de processo contra um momento de riso público. Há uns anos, muitos recordarão o cartoon de António, publicado no jornal “Expresso”, que gerou polémica imensa por apresentar o Papa João Paulo II com um preservativo no nariz e, claro, acabou censurado. A imagem, publicada em 1992, fazia referência a declarações do Papa sobre o uso de preservativos em África, numa altura em que estava em cima da mesa o tema do combate à SIDA. Os anos passaram e, em Dezembro de 2024, eis senão quando o então Papa Francisco abria publicamente a Igreja ao humor e lembrava, em artigo escrito no “The New York Times”, que “a ironia é um remédio, não só para elevar e alegrar os outros, mas também a nós mesmos”.
Remédio ou arte, a verdade é que o humor falado em português tem ganho novos palcos e novas vozes, e tornou-se, também ele, terreno fértil para as marcas. Ou não pudesse ser ferramenta poderosa, geradora de empatia e construtora de relevância. Pelo meio, a dúvida é apenas e só uma: qual o limite e, já agora, qual o preço do humor?
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 347 de Junho de 2025