Portugal lidera o consumo de pescado per capita na Europa, mas apenas 3% conta com a certificação MSC

Os portugueses estão a mudar os seus hábitos alimentares e estão cada vez mais atentos às questões ambientais. E sendo Portugal um país com elevada tradição no consumo dos produtos do mar – liderando o consumo per capita de pescado na Europa, não é de estranhar que a quase generalidade da população (97%) esteja preocupada com os oceanos, sendo a poluição e a sobrepesca as questões de maior preocupação. 73% dos portugueses sentem-se mais capacitados para fazer mudanças activas através das suas escolhas de produtos do mar, estando 50% dos inquiridos dispostos a comprar pescado de uma fonte sustentável.

No meio da avalanche de prémios, selos e greenwashing, a questão a que muitos não sabem responder é como ter garantias de que aquilo que estão a comprar são produtos, mesmo, certificados. O Marine Stewardship Council (MSC) é uma ONG sem fins lucrativos e responsável pelo selo ecológico mais utilizado no mundo para identificar os produtos do mar proveniente de pesca sustentável.

O seu programa de certificação é voluntário e actua em dois níveis: nas pescarias, garantindo que estas causam um impacto mínimo nos ecossistemas matinhos; e nas cadeias de custódia, garantindo o bom manuseamento dos produtos do mar de origem sustentável, até às mesas, sem que estes tenham contacto com produtos do mar que não cumprem estes requisitos.

Actualmente, em Portugal, os consumidores têm à sua disposição 420 produtos certificados com o Selo Azul do MSC, em vários estabelecimentos comerciais, representando 3% do pescado consumido em Portugal. Parece pouco e a verdade é que há muito caminho para percorrer, mas saiba que entre os certificados há marcas com as quais se cruza em cada uma das suas idas às compras: Lidl, Continente, Aldi, Iglo e Riberalves.

Rodrigo Sengo, responsável do MSC em Portugal, em conversa com a Marketeer explica como funciona o processo de certificação, as auditorias anuais e como tem evoluído o consumo e os hábitos nos anos mais recentes.

Hoje, o ambiente é uma das principais preocupações entre a população mundial. De que maneira os portugueses estão (ou não) em linha com as preocupações globais?

Rodrigo Sengo, responsável do MSC em Portugal

A cada dois anos, o MSC encarrega à GlobeScan um dos maiores estudos a nível global de percepção do consumidor, entrevistando mais de 25 mil consumidores em 23 países e este ano vamos lançar os dados de 2024. Em 2022, o estudo MSC Consumer Insights 2022, revelou que quase metade (44%) das pessoas mudaram a sua alimentação nos últimos dois anos por diversas razões ambientais. Entre elas, comer alimentos de fontes mais sustentáveis (23%), reduzir o impacto das alterações climáticas (23%) e proteger os oceanos (12%) – vindo a confirmar o aumento de interesse pela sustentabilidade junto dos consumidores.

Os portugueses estão a mudar os seus hábitos alimentares e acompanham esta tendência global. No que ao consumo de pescado diz respeito estão cada vez mais atentos às questões ambientais, não fosse Portugal uma nação com elevada tradição no consumo dos produtos do mar – liderando o consumo per capita de pescado na Europa com 59,9 kg (EUMOFA 2020). Em Portugal, o estudo revelou consumidores (97%) preocupados com os oceanos, sendo a poluição e a sobrepesca as questões de maior preocupação. Dizem estar divididos no que toca ao futuro ser positivo ou negativo, mas sentem-se cada vez mais capacitados (73%) para fazer mudanças activas através das suas escolhas de produtos do mar. 50% dos inquiridos está disposto a comprar pescado de uma fonte sustentável, com quase um terço a dizer já ter feito esta mudança no último ano. Ao mesmo tempo, 84% dos consumidores portugueses quer que as empresas descrevam mais sobre a sustentabilidade dos seus produtos.

O greenwashing tem sido um dos principais inimigos do ambiente. De que forma se consegue minimizar os estragos causados pelas mensagens não verdadeiras que algumas empresas insistem em passar aos consumidores?

O greenwashing é um problema global que afecta os consumidores que desejam fazer escolhas sustentáveis. Muitas vezes, acabam por ser alvo de práticas enganosas, onde alegações ecológicas não são fundamentadas. Estima-se que 53% dessas alegações contenham informações vagas, enganosas ou infundadas, e 40% não têm provas de apoio.

A União Europeia está a abordar este problema através de medidas legislativas. A “Directiva Green Claims”, apresentada em Março de 2023, exige que as empresas fundamentem as suas alegações ambientais com uma metodologia padronizada. O Parlamento Europeu também apoiou essas medidas, pedindo orientações claras para as alegações ecológicas. Os consumidores podem esperar dados ambientais confiáveis, acessíveis a todos, para prevenir o greenwashing. Etiquetas e alegações ambientais credíveis capacitam os consumidores a tomar decisões informadas e contribuir para uma transição verde. Para as empresas, isso pode significar um aumento da credibilidade, competitividade e demanda por produtos sustentáveis.

Na nossa perspectiva, a proposta da Comissão Europeia de uma directiva relativa às alegações ecológicas é extremamente positiva, pois mais esforço é necessário para garantir que as alegações ambientais nos produtos sejam legítimas, claras e fundamentadas. Como programa de certificação na área da pesca, o MSC tem o dever de elevar e manter o padrão de sustentabilidade. O selo azul do MSC proporciona segurança aos consumidores, assegurando que o pescado é proveniente de uma pesca certificada de forma independente em conformidade com os nossos padrões de sustentabilidade. Além disso, todos os intermediários seguem uma cadeia de custódia para garantir que o produto certificado não é misturado com produtos não certificados.

Os portugueses já despertaram para as questões da sustentabilidade nas suas escolhas de consumo?

Os portugueses demonstram uma consciência crescente sobre questões de sustentabilidade. Apesar do cenário complexo que Portugal enfrenta, com desafios tanto económicos quanto sociais, a população está atenta aos desafios económicos e sociais, incluindo a necessidade de adoptar práticas mais sustentáveis – adaptando-se às novas circunstâncias, mantendo-se atentos às mudanças e preparados para o futuro. Ainda assim, as pressões a longo prazo, com impacto nas suas vidas e hábitos, moldaram os gastos de forma calculada e racional, à medida que os consumidores têm ajustado os seus comportamentos em resposta à desaceleração recente da inflação. Ainda assim, mesmo com estes desafios, a oferta de produtos do mar com o selo azul em Portugal continua a crescer, assim como o compromisso dos diversos stakeholders a favor da pesca sustentável.

O nosso estudo de 2022 indica a maioria dos consumidores compra pescado frequentemente (94%) e que as questões ambientais de maior preocupação para os portugueses (mantêm-se desde 2020): alterações climáticas (52%); a saúde dos oceanos e o declínio da vida marinha (41%). Grande parte acredita que só devemos consumir produtos do mar sustentáveis e quando preguntamos aos consumidores de pescado, que acções tomaram para proteger a vida nos oceanos, 1 em cada 4 afirma estar disposto a comprar produtos mais sustentáveis. 29% indica que tenta compra pescado mais sustentável e 20% compra pescado com um selo ecológico. Existe, portanto, uma tendência crescente e positiva dos consumidores quanto à sustentabilidade, particularmente com questões relacionadas com os oceanos. Em 2022 o MSC encargou novamente o mesmo estudo de percepções do consumidor português, e em breve publicaremos os resultados.

Sabemos que no que toca ao peixe e marisco, os consumidores associam o pescado à saúde e ao bem-estar (o principal motivo de compra segundo o nosso estudo), seguido da segurança alimentar e da frescura. E que o preço e a origem sustentável do produto estão equiparados na intenção de compra – ainda que no momento da compra possa haver maior distanciamento destes dois factores, a tendência e maior preocupação ambiental parece ser cada vez mais um critério relevante para os portugueses. É também interessante notar que um dos factores que mais motiva os consumidores a mudarem os seus estilos de vida e de consumo é a relação que estes comportamentos têm na vida dos seus filhos. A nossa percepção é que à medida que a consciencialização sobre a importância da sustentabilidade aumenta, os consumidores estão a fazer escolhas mais informadas, procurando produtos e soluções que minimizem o impacto ambiental e contribuam para uma transição azul.

O que é que as empresas, as entidades públicas e as ONG estão a fazer para que o consumidor faça escolhas mais conscientes e sustentáveis?

A colaboração entre empresas, entidades públicas, ONGs e os próprios consumidores é essencial para criar um ambiente mais sustentável e consciente em Portugal. Existem várias medidas em curso para incentivar o consumo mais responsável, nas diversas áreas e tipologia de produto ou bem, mas que acabam por seguir os mesmos eixos estratégicos de forma generalizada. Muitas empresas estão a adoptar rótulos e certificações que indicam práticas sustentáveis nos seus produtos. Nos últimos anos notamos uma crescente procura por parte das empresas de retalho e transformação, na adopção de rótulos e certificações que indicam práticas sustentáveis nos produtos alimentares. Existem mais campanhas de sensibilização para educar os consumidores sobre a importância da sustentabilidade e uma maior promoção da educação ambiental nas escolas e comunidades, como programas sobre conservação dos recursos naturais, biodiversidade e alterações climáticas.

Contundo, promover escolhas conscientes é um processo multifacetado e contínuo. Para uma resposta mais eficaz dos consumidores, as empresas devem ser transparentes sobre as suas práticas de produção e abastecimento. Isso permite que os consumidores façam escolhas informadas, apoiando produtos e marcas alinhados com os seus valores. Por outro lado, ao impulsionar a colaboração entre sectores, com uma abordagem holística, permitirá maior partilha de conhecimentos, recursos e melhores práticas.

É importante referir que Portugal está comprometido com os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e que para alcançar estes objectivos é necessário um empenho multissectorial. O sector da pesca tem um papel importante a desempenhar na consecução dos ODS das Nações Unidas, em especial o ODS 14, Proteger a Vida Marinha. Sabemos que as organizações, incluindo pescarias, governos e empresas, que se envolvem com o programa MSC estão a ajudar a alcançar pelo menos 34 metas em cinco ODS. Os seus compromissos com a certificação MSC apoiam a sustentabilidade ambiental, social e económica. Os dados do programa MSC já são reconhecidos pela ONU como um indicador para medir acções para salvaguardar o oceano e a biodiversidade, e estão à disposição da comunidade internacional, para acompanhar e evidenciar de forma credível os esforços para concretizar os ODS.

De que maneira é que a existência de selos de certificação ajuda a tomada de decisão por parte dos consumidores no ponto de venda?

Os selos de certificação são fundamentais para auxiliar os consumidores na tomada de decisão no ponto de venda. Estes selos fornecem informações valiosas sobre a qualidade, origem e práticas sustentáveis dos produtos. Em particular os selos emitidos por organizações independentes transmitem maior a credibilidade e confiança à marca e produto. Por outro lado, a existência ou não de selos, tende a permitir maior facilidade e rapidez na comparação de produtos, influenciando a decisão final.

Uma das principais formas que os consumidores utilizam para identificar produtos como “amigos do ambiente”, é através da presença de certificações e de rótulos que atestem a sustentabilidade do produto. No caso do MSC, um dos objectivos e desafios passa pela capacidade em conseguir resumir informação complexa, apresentando-a ao consumidor de forma clara e concisa. Promovemos o empoderamento e educação do consumidor para práticas mais sustentáveis. O Selo Azul do MSC vem facilitar a escolha para um consumo responsável de pescado e uma oportunidade única de premiar e recompensar as pescarias que operam ao mais elevado nível de desempenho ambiental. Para nós é essencial que o consumidor passe a ser parte activa do movimento por uma pesca sustentável, aproximando esta procura à fileira da pesca. O nosso selo só é concedido ao pescado selvagem proveniente de pescarias que tenham sido certificadas de acordo com os 28 critérios de base científica estabelecidos para uma pesca sustentável. Entendemos que é uma ferramenta que está acessível ao consumidor e assegura uma forma fácil de poder identificar a origem sustentável e certificada dos produtos de consume.

Que custos para as empresas que queiram passar pelo processo de certificação da MSC?

Contextualizando, o programa de certificação do MSC engloba dois padrões de certificação, o Padrão de Pesca MSC (dirigido a pescarias) e o Padrão de Cadeia da Custódia MSC. As empresas na cadeia de abastecimento devem possuir um certificado da Cadeia da Custódia MSC válido para processar, transformar, manipular, vender e rotular produtos com o selo MSC. Ambos processos de certificação são conduzidos por certificadores independentes acreditados, com auditorias anuais de seguimento ao cumprimento dos critérios exigidos. De referir que o MSC não recebe qualquer pagamento relacionado com o processo de avaliação ou certificação. As pescarias e empresas contratam um organismo de certificação independente e acreditado para realizar uma avaliação da actividade, a fim de determinar se esta cumpre ou não os Padrões do MSC.  Este aspecto é importante para garantir a independência do MSC em relação à avaliação e certificação de pescarias e empresas.

Respondendo à pergunta, o tempo e o custo da certificação variam consoante a tipologia, complexidade e a dimensão das empresas. O custo, processo de auditoria, e emissão de certificados é da responsabilidade dos organismos de certificação. Neste processo, a complexidade e dificuldade da avaliação e certificação é mais elevada para as pescarias, que necessitam demonstrar o seu desempenho ambiental relativamente aos indicadores de sustentabilidade das pescas definidos pelo MSC.

Quais os critérios mais relevantes nesse processo de certificação?

O MSC nasce com o propósito de contribuir para a manutenção de oceanos cheios de vida, salvaguardando o abastecimento de produtos do mar, tanto para as gerações actuais como para as gerações futuras. Como tal, o MSC desenvolveu critérios ambientais que as pescarias devem cumprir para alcançar o nível das melhores práticas exigidas pelo Padrão de Pesca do MSC. Para o cumprimento com este padrão, as pescarias devem passar por um processo de avaliação independente e demonstrar que satisfazem 28 indicadores de base científica agrupados em 3 princípios, nomeadamente, stocks de peixes saudáveis; minimização do impacto na vida marinha e meio marinho e uma gestão pesqueira eficaz e robusta.

Para além de certificar as práticas de pesca, certificamos também como o pescado certificado é manuseado por cada empresa, desde a captura até à venda. O Padrão da Cadeia de Custódia do MSC garante que o pescado com o selo azul provém de pescarias sustentáveis certificadas. Ao utilizar o selo azul do MSC, as empresas e marcas podem ter confiança de que o seu peixe e marisco provêm de uma fonte sustentável. Cada empresa é auditada independentemente a cada ano para garantir que cumprem os requisitos do Padrão da Cadeia de Custódia do MSC e que aplicam correctamente o nosso selo. Todas as empresas na cadeia de fornecimento devem comprovar que o pescado é adquirido a um fornecedor certificado MSC e registar onde foi vendido. Em cada etapa, os produtos do mar certificados MSC devem ser claramente identificados e separados de qualquer produto não certificado.

Somos o único programa que fornece pescado capturado de forma selvagem, de acordo com os requisitos das melhores práticas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), pela Iniciativa Global para o Marisco Sustentável (GSSI) e pelo organismo de verificação de padrões de sustentabilidade, ISEAL.

Quais aqueles que mais determinam a não atribuição do selo?

No caso das empresas da Cadeia de Custódia, os auditores podem levantar uma não conformidade quando encontram um desvio de qualquer um dos requisitos do Padrão da Cadeia de Custódia. Ser-lhe-á dado um prazo específico para rever as conclusões e decidir como as abordar. Este sistema de não conformidade alerta as empresas para implementarem melhorias e evitarem a suspensão do certificado. Se houver violações da integridade do produto ou da cadeia de custódia, o certificado pode ser suspenso imediatamente. Isso pode ocorrer por quebras na cadeia de custódia, venda de produtos não certificados com certificados, falta de comprovação da certificação, não resolução de não conformidades significativas ou recusa em participar nas auditorias. A suspensão impede a venda de produtos como certificados, sendo necessário informar os clientes por escrito. Para levantar a suspensão, é necessário implementar um plano de acção correctiva aceite pelo organismo de certificação, abordando o problema.

Adicionalmente, o MSC condena o uso do trabalho forçado ou infantil e reconhece a importância das questões sociais ao considerar a sustentabilidade. Desde o dia 1 de Maio de 2023, estão em vigor novos requisitos “Requisitos Laborais Elegíveis do MSC” para as empresas de cadeias de abastecimento com certificados MSC ou requerentes, que tenham de passar por uma certificação, recertificação ou auditorias de seguimento. O não cumprimento destes requisitos, pode impedir o acesso à certificação ou desencadear uma não conformidade e à suspensão do certificado.

Depois de chumbar um processo de certificação, ao fim de quanto tempo a mesma empresa pode dar início a novo processo com o mesmo produto?

No caso das empresas da Cadeia de Custódia, quando o processo de auditoria inicial não é bem-sucedido, levando à não atribuição do certificado, as empresas podem desenvolver e implementar as acções correctivas necessárias e solicitar aos organismos de certificação uma nova auditoria inicial para a obtenção da certificação. No caso de se tratar de uma empresa já certificada, o certificado pode ser suspenso por um desvio detectado numa auditoria de seguimento ou expeditiva – a suspensão do certificado impede a venda de produtos como certificados. A suspensão pode ser levantada em 30 dias, sendo necessário implementar um plano de acção correctiva aceite pelo organismo de certificação, abordando a causa raiz do problema.

O MSC, disponibiliza recursos e guias de apoio às empresas para preparem a suas auditorias, com o intuito de melhor preparar e informar as empresas e os seus colaboradores, sobre os critérios do Padrão da Cadeia de Custódia do MSC, para o momento das auditorias e manutenção dos seus certificados. Cerca de 47 800 empresas estão certificadas de acordo com o Padrão da Cadeia de Custódia MSC em todo o mundo e existem actualmente mais de 20 000 produtos com o selo azul em mais de 66 países em todo o mundo.

Como tem evoluído a procura por parte das empresas a actuar no mercado português relativamente ao Selo Azul do MSC?

No MSC, de forma geral, notamos que são cada vez mais as empresas a actualizar as suas políticas de compra de pescado com o objectivo de um fornecimento de pescado mais sustentável aos seus clientes e consumidores finais. A realidade é que a pandemia da Covid-19 e o contexto actual de Guerra e inflação na Europa tem afectado todos os aspectos da indústria dos produtos do mar. No entanto, em vez de recuarem no seu compromisso com os produtos do mar sustentáveis, as pescarias, as empresas da cadeia de abastecimento e os retalhistas deram provas de uma notável resiliência e de um empenho mais profundo em contribuir para a saúde dos nossos oceanos.

O mercado português acompanha esta tendência. Portugal conta com 68 empresas nacionais com a certificação do MSC, incluindo empresas do sector da transformação nas áreas dos congelados e conservas e ainda nas áreas do retalho e restauração, onde destacamos as peixarias certificadas dos hipermercados Continente, os restaurantes IKEA, McDonalds e Restaurante Luz do Hotel Iberostar Lisboa. Recentemente, felicitámos a Iglo Portugal ao tornar-se primeira marca na Península Ibérica a alcançar o marco histórico de 100% de productos certificados MSC na sua gama de pescado selvagem. O Lidl Portugal, que desde 2016 comercializa 100% do seu bacalhau com o Selo Azul tem vindo a liderar com compromisso de abastecimento de produtos do mar sustentáveis em Portugal. Já o Aldi Portugal com a actualização na sua política de compra de pescado, é hoje o único retalhista em Portugal a operar com 100% do seu bacalhau e pescada MSC e o primeiro a comercializar duas referências de conserva de atum MSC com sua marca própria. A Poveira é a primeira e única marca portuguesa a lançar uma gama de conservas produzida 100% com peixe com certificação MSC. Por último, destaco a empresa Riberalves, especializada em bacalhau, que desde cedo implementou na sua política o apoio ao programa do MSC e tem vindo a reforçar a sensibilização junto consumidor final através do alinhamento da sua marca com o Selo Azul, sendo líder mundial com volume comercializo de bacalhau MSC.

Todos estes progressos são um reflexo da importância que o sector empresarial nacional está a dar a estas questões. O número de produtos com o Selo Azul do MSC em Portugal tem registado por isso uma evolução muito positiva onde mais de 420 produtos do mar já estão disponíveis nos vários pontos de venda nacionais. Ainda assim, os desafios são imensos, Portugal lidera o consumo de pescado per capita na Europa (59,9 kg, EUMOFA 2020) e actualmente apenas cerca de 3% do pescado consumido per capita em Portugal conta com a certificação MSC.

Evolução dos produtos com selo azul no mercado nacional (420 produtos):

Quais as empresas em Portugal com mais referências certificadas com o Selo Azul do MSC?

Ao aumentarem o mercado de produtos do mar certificados, os nossos parceiros incentivam a pesca sustentável e contribuem para um consumo responsável de pescado. Em Portugal, vários retalhistas e marcas de produtos do mar aumentaram a sua oferta com o selo do MSC. O Lidl, líder de mercado MSC, conta agora com 79 produtos de marca própria com certificação do MSC e o Continente com 45. As marcas Iglo e Riberalves oferecem, cada uma, mais de 50 produtos com o selo do MSC. Por sua vez, o Aldi conta com mais de 30 referências. No gráfico abaixo partilhamos as marcas que estão a liderar o número de referências MSC em Portugal.

Qual o impacto em termos de volume de vendas nas empresas que obtêm a certificação?

A nível global, existem actualmente mais de 20 mil produtos com o selo azul nas prateleiras de mais de 66 países em todo o mundo, representando mais de 1,2 milhões de toneladas ou 11 700 mil milhões de euros em vendas a retalho. Tal como em todo o sector dos produtos do mar, a rápida inflação alimentar e a concorrência de outras proteínas afectaram as vendas de produtos do mar com o selo do MSC no ano passado. O volume diminuiu 2%, mas o valor de venda por grosso cresceu 11,5%.

A nível regional, estamos particularmente satisfeitos pelo forte crescimento do volume em Portugal nos últimos anos. Portugal registou um aumento de 22% (exercício económico de 1 de Abril 2022 a 31 de Março 2023) no volume de vendas de produtos comercializados no mercado nacional com o selo MSC. Mas os benefícios para as empresas portuguesas transcendem o mercado nacional, com a certificação MSC a permitir a manutenção, mas também acesso a novos mercados de exportação. Actualmente as empresas portuguesas certificadas exportam para mais de 34 países, com um volume de negócios na ordem dos 50 milhões de euros, mais 42% do que no exercício económico anterior.

Texto de Maria João Lima

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