Optimistas procuram-se!!!
No primeiro almoço do ano do Conselho Editorial da Marketeer, o qual aceitei integrar, apesar de ter referido no convite que a minha vivência profissional me formou num generalista nas diversas temáticas da gestão e não num especialista de Marketing, abordou-se “a crise” e a falta de confiança que está a gerar nos portugueses, no País, nas nossas capacidades… A esse propósito referi, focando-me no negócio de bebidas, que é o que melhor conheço e acompanho, que o ano de 2010, associado ao facto de termos tido um bom Verão, tinha sido bastante bom até final de Setembro, mas que o último trimestre tinha sido fraco, acentuando a tendência da retracção do consumo “fora de casa”. A minha percepção é a de que esta quebra tem a ver com a expectativa psicológica dos consumidores acerca das medidas anunciadas e o seu impacto no rendimento familiar, ou seja, é uma antecipação do que se vai passar a breve prazo.
Sem querer escamotear esta realidade e sem querer entrar nas razões que a provocaram, e com todo o respeito e solidariedade por todos os que já sofrem ou irão sofrer situações difíceis de trabalho ou falta dele, gostaria de alertar para a necessidade de valorizarmos, mas nossas organizações, os colaboradores capazes de mobilizarem os demais e com o perfil de Optimistas que possam assumir o papel de dinamizadores/motivadores que possam ter no clima psicológico das mesmas, nesta conjuntura negativa, certamente transitória, mas que se poderá prolongar por mais algum tempo. Não estou a falar de Optimistas inconscientes, sem credibilidade e irresponsáveis, que escondem a realidade e que nos mantêm num equívoco permanente, como assistimos pelos media… Refiro-me aos Optimistas, conscientes e realistas da situação global. Mas que conseguem ver o copo “meio-cheio”, mantendo atitude positiva, disponíveis para “ir à luta”, em vez de ficarem a assistir à derrocada, cruzando os braços e anunciando a desgraça, ou seja, identificando segmentos de oportunidade, incorporando inovação, conseguindo ver na ameaça, o desafio, a melhor forma de “darmos a volta”.
As características de Optimista deveriam passar a constar do perfil dos gestores, deveria ser condição “sine qua non” dos departamentos de RH, quer na sua vertente de recrutadores, quer na vertente que tantas vezes é deixada para trás, de formadores dos colaboradores, numa lógica de continuidade da aprendizagem e da capacitação e adequação profissional aos constantes novos paradigmas que se colocam na realidade empresarial, sem o que não é possível manter-se competitivo.Também os “Opinion Makers”, onde se incluem os jornalistas, poderiam fazer este esforço, pois cada vez mais a predominância de notícias negativas todos os dias nos meios de comunicação é avassaladora e consigo arrasta o pouco ânimo deste povo, que já de si tem uma tendência natural para o fado. Não é por acaso, com uma dinâmica e forma de estar bem diferente da nossa, os nossos vizinhos espanhóis nos chamam “los tristes de los portugueses”…
A este propósito menciono a recente entrevista de Clara Ferreira Alves, ao cessante embaixador do Reino Unido em Portugal, Alexander Ellis, publicada na revista do “Expresso”, “única”, em 30 de Dezembro pp., com o título “Vocês não gostam do que têm de bom”. Diz este diplomata, embaixador de 43 anos e que fala perfeitamente o português, que Portugal é um dos países mais tolerantes do Mundo, que a nossa sociedade é bastante mais aberta que a inglesa, que absorvemos com facilidade várias culturas, que o nosso modelo é o da família alargada, na qual se sentiu muito bem, e que no sistema de alocação de diplomatas britânicos, o maior número de pedidos é para o posto de Lisboa, mais do que Roma, mais do que qualquer outro posto no estrangeiro ou ainda em Londres. Por que será? Certamente só poderá ser por boas razões!!
E no entanto, continuamos pessimistas!
Apesar de tudo o que temos de Bom: da nossa capacidade de resolução de problemas de improviso, dos bons frutos que o investimento nas renováveis tem dado na redução da dependência de combustíveis fósseis, do bom desempenho que as exportações têm tido, mas também, e talvez mais importante, na subida na cadeia de valor dos bens e serviços exportados e ainda no seu acréscimo para fora da zona Euro, do crescente número de prémios internacionais que estão a ser ganhos por investigadores, da taxa de mortalidade infantil de 3.6% em 2009, que foi considerada de referência por ser uma das menores na Europa, da reconhecida solidariedade dos portugueses que nas horas difíceis são capazes de se mobilizar e dar mais a quem ainda tem menos, como foi o exemplo recente da última campanha do Banco Alimentar, só para citar alguns exemplos. Temos a competência e a capacidade para fazer as coisas – sabemos fazer bem e depressa, temos o enquadramento adequado: abertura ao mundo, espírito acolhedor e solidário, o engenho e a proactividade (“desenrascamos” problemas, onde outros ficam sem iniciativa…), só nos falta… Acreditar! – Querer é Poder! Então – mãos à obra – Vamos lá pessoal!!!
Artigo publicado na edição Fevereiro 2011 da Revista Marketeer