Opinião de Gonçalo Rebelo de Almeida (Vila Galé Hotéis): Preocupante apatia
Por Gonçalo Rebelo de Almeida, Administrador/Board member da Vila Galé Hotéis
Em Dezembro de 2019, escrevia nesta mesma coluna sobre o excelente momento que o sector do turismo atravessava num ciclo de três anos de resultados positivos, justificados por um trabalho consistente dos players privados e públicos, que tinham contribuído para a melhoria do produto e da comunicação de Portugal.
A melhoria das infra-estruturas, o aumento de ligações aéreas, o aparecimento de empresas jovens e dinâmicas de animação turística, a requalificação dos recursos humanos, a inovação na gastronomia, o desenvolvimento de modelos e soluções de alojamento, o clima, a cultura e as paisagens naturais justificavam o sucesso de Portugal enquanto destino turístico e permitiam com alguma segurança afirmar que esse sucesso não era um fenómeno de moda mas, sim, o resultado de um trabalho estrutural que garantia a sua continuidade.
Por essa razão, as perspectivas para 2020 eram promissoras e, de facto, Janeiro e Fevereiro estavam novamente a comprovar essa tendência até ao surgimento da pandemia em Março de 2020. Com excepção do mês de Agosto de 2020 e do período entre Agosto e Novembro de 2021, onde algumas regiões do país registaram um movimento turístico do mercado nacional, o sector tem estado praticamente parado nestes quase dois anos, registando perdas incalculáveis para as empresas e para o PIB nacional.
Os avanços e recuos da situação pandémica, para além das óbvias perdas financeiras, têm provocado um clima de incerteza e insegurança, gerador de uma apatia preocupante e que é necessário inverter com a máxima urgência.
A criatividade, inovação e dinamismo, que sempre caracterizaram o sector, foram claramente afectados e as associações de promoção, as empresas e os seus recursos humanos continuam em modo “stand by”, adiando as campanhas de comunicação, a realização de eventos e o desenvolvimento de novos produtos.
Estamos novamente a atravessar um momento em que existem algumas perspectivas positivas de que nos próximos dois meses a actividade possa retomar alguma normalidade, mas esse regresso só acontecerá se voltarmos ao ritmo que caracterizava o sector.
Embora Portugal mantenha todas as características em termos de produto que justificaram o seu sucesso no passado, vamos ter que pôr em prática um ambicioso plano de comunicação e marketing, para que os milhões de consumidores no mundo inteiro possam voltar a considerar o nosso destino como prioritário, no momento de regresso das viagens internacionais.
Vamos assistir a uma competitiva disputa do mercado pelos vários destinos turísticos, e se ficarmos calmamente à espera de que tudo volte simplesmente a ser o que era, pode acontecer que o resultado não seja o mesmo. Está na hora de sair do estado de hibernação, apelar novamente à criatividade e inovação das equipas, e iniciar um plano de acções de marketing e comunicação que permita voltar a posicionar Portugal no mapa e no panorama turístico mundial.
Artigo publicado na revista Marketeer n.º 307 de Fevereiro de 2022