O marketing ou o espelho de nós
Quanto mais trabalho em marketing mais acredito que o sucesso nesta área está em passarmos algum tempo a observarmo-nos. Sinto muitas vezes neste universo das marcas, e também na vida, que temos repetidamente a tendência de fazer aquilo que é suposto ser feito. Vamos usando as mesmas receitas e normalizando os nossos insucessos pela curva de experiência do sector. Se começarmos por olhar para nós próprios, percebemos por exemplo que aquilo que realmente queremos e desejamos mais do que tudo na vida é sermos felizes.
Contemplemos então os nossos próprios processos e vejamos que, talvez no marketing, também não sejam diferentes.
(Só) queremos ser felizes
Comecemos por perceber e assumir que cada vez menos compramos por “necessidade”. Escolhemos os produtos com base nas nossas emoções e a seguir compomos o leque de argumentos racionais que atestam a nossa sanidade. Só por aqui percebemos que podemos ter um papel fundamental a prosseguir – o de procurar contribuir para a felicidade das pessoas, seja proporcionando novas experiências ou facilitando as antigas, libertando desta forma um espaço importante a ser aproveitado para a descoberta. Preocupemo-nos então em fazer as pessoas felizes, que o resto acontece de uma forma natural.
Queremos ser melhores
Queremos ser melhores, procurar coisas novas, viver experiências que nos permitam perceber que estamos hoje melhores que ontem. Por isto, questionamos, procuramos novos caminhos, experimentamos novas soluções. O marketing, fazendo jus ao seu próprio conceito, é por excelência a alavanca desta expedição. Acredito na inovação, no acordar do nosso mundo dormente, aquele que é despertado por constantes estímulos que, por nos fazerem felizes, transformamos em necessidades. Nas empresas ou nas nossas vidas, a inovação é, não só uma forma de crescimento como uma fórmula garantida de subsistência no longo prazo. Não é à sombra da antiguidade que mantemos as nossas instituições, como também não é com diuturnidades que compensamos as nossas relações.
Queremos ser parte num projecto
Também não posso deixar de apontar o fascínio que sinto quando vejo um conceito tão simples como o da família ser sabiamente aproveitado para o universo das marcas e do marketing. A criação de descendentes que vão sendo apresentados ao mercado e que subtilmente reforçam o conceito de clã. Um enorme endosso de sucesso, num quase garantido êxito de bilheteira. A instituição mais antiga a que pertencemos a “bem-fadar” com o seu dialecto próprio todo este processo.
Não queremos estar fechados
Como princípio básico de vida, acredito que uma fechadura na porta não impede ninguém de sair, razão pela qual não acredito em “acções de retenção”. Só o nome me arrepia. Focados na árdua missão de blindarmos as saídas, descuidamos o investimento natural que deveríamos estar a fazer em nós próprios, na estrutura, nos nossos clientes. Pior, temos ainda a desvantagem adicional de desincentivar a entrada, o que leva a que as novidades fiquem à porta, mantendo-nos ilusoriamente num mundo que necessariamente não é o nosso.
Temos que aceitar a renovação como um processo natural.
É preciso aceitar que não vamos ter sempre os mesmos clientes.
Também não queremos.
É mau para nós, é mau para eles. Presos a uma relação que a determinado ponto contende a vida de ambos. A do cliente, quando por esta via não tem oportunidade de outras experiências, a nossa, enquanto empresas porque não temos oportunidade de satisfazer outro tipo de clientes e, pela diversidade ou pelo desafio, conseguir aprovar e evoluir.
Aceitemos, então, a renovação como um processo natural.
Também o sol todos os dias se põe para, sem nunca ter morrido, voltar a nascer!
Artigo publicado na edição de Setembro 2010 da Revista Marketeer