O futuro vai acelerar

Por Paulo Campos Costa, EDP

 

Devido à pandemia, vivemos tempos de transformação e adaptação, tanto por parte das empresas como das pessoas. E quando sairmos destes tempos mais críticos, algo terá mudado para sempre. Só mesmo os mais ingénuos, ou em estado de negação, acreditam que o mundo será igual ao que era antes de 2020. Lembram-se da discussão sobre se o novo milénio começava em 2000 ou 2001? Pois é, notícia de última hora: só agora começou! E vem com muita pressa.

No que diz respeito ao trabalho, há transformações que vieram para ficar, como a transição digital e o trabalho remoto. O 1.º Relatório Anual do Estado do Trabalho Remoto em Portugal, apresentado pela Remote Portugal, indica que 85% das pessoas dizem estar satisfeitas com a situação de teletrabalho, e o Barómetro da Vida Digital dos Portugueses, realizado pela seguradora francesa Celside Insurance, concluiu que 81% dos portugueses gostaria de continuar em trabalho remoto após a pandemia. E até há estudos que indicam que a produtividade terá aumentado.

Mas, apesar de parecer que, afinal, está tudo a correr sobre rodas, por vezes esquecemo- nos de um importante pormenor: e o lado emocional das relações laborais? Passarmos tanto tempo sozinhos no escritório de casa pode fazer-nos sentir como se estivéssemos em “loop” nas nossas próprias cabeças. Somos seres sociais, mas contactamos cada vez menos com os nossos colegas, temos menos ligações pessoais, corremos o risco de perder alguma inteligência emocional e estamos a ficar “destreinados” socialmente. E, obviamente, tudo isto tem um preço para a nossa saúde mental.

Do lado das empresas, vivemos também tempos extraordinários. Estamos no início de uma das maiores mudanças culturais de sempre, e ela está a acontecer nas nossas casas através dos nossos dispositivos electrónicos. A luta pela atenção dos consumidores é a batalha que qualquer empresa quer vencer. Nestes tempos mais velozes, de fenómenos tão fugazes que, por vezes, não duram mais de um dia, o desafio não está em conquistar a atenção imediata, mas em saber manter o interesse.

Esta é uma década de possibilidades infinitas que está a gerar novas maneiras de nos conectarmos, socializar, aprender, criar, ouvir música, experimentar a arte, consumir e muito mais. Mudanças nos espaços que ocupamos, nos lugares que escolhemos visitar e viver e na forma como nos envolvemos. A presença física e a mental não são mais a mesma coisa.

A cultura do consumo está a mudar diante dos nossos olhos. Basta olharmos para a Geração Z, os futuros principais consumidores. Um estudo nos Estados Unidos da América concluiu que apenas 40% dos adolescentes continuam a achar “cool” ir ao shopping, a eventos desportivos, cinemas ou cadeias de fast food. Já 50% dizem usar o Fortnite, principalmente, para socializar com os seus amigos. Ou seja, fenómenos que sempre caracterizaram a cultura jovem estão a perder rapidamente relevância. Qual o impacto desta mudança? De acordo com o mesmo estudo, “apenas” 600 mil milhões de dólares.

A pandemia veio funcionar como um acelerador de futuros, que irá rever valores e mudar hábitos, transformar as nossas vidas. Estaremos preparados para esta revolução?

 

Artigo publicado na edição n.º 299 de Junho de 2021

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