O caso Conguito e o cartão amarelo das marcas

Por Marta Araújo, Consultora de Comunicação da LikeBrands

Amazon, Gant, Asus, Axe, Disney Plus, NOS Portugal, Crunch, Vans, J&B, Telepizza, Pull&Bear são algumas das marcas que Fábio Lopes, mais conhecido por Conguito, levou a jogo nos últimos meses. Um verdadeiro 11 de luxo que ilustra, a par de outras chancelas, o universo que faz parte do colectivo de activações no seu Instagram e que impactam os mais de 60 mil seguidores que tem naquela rede social. No Twitter são mais de 114 mil, aos quais se somam ainda 40 mil no Youtube, 20 mil no Facebook e mais uns quantos no TikTok (aqui ainda com pouca expressão).

Dentro das quatro linhas do seu métier digital, que é fortemente exponenciado pela MegaHits, rádio na qual tem um programa, e também na RTP, onde é repórter no programa The Voice, gravitam ainda uma série de outras marcas, quer online quer offline e que atingem também a sua grande área de influência. O paralelismo com o futebol é inevitável, até porque Conguito, nesta sua atribulada aventura enquanto dirigente desportivo, que as recentes notícias trouxeram a público, poderá ter recebido um cartão amarelo no contacto com o mundo das marcas enquanto influencer e figura pública.

Fábio Lopes continua ainda em jogo e tem duas hipóteses: ou acaba a partida sem prevaricar, protegendo ao máximo a reputação e as marcas parceiras, ou, caso não o faça, poderá acabar por levar um segundo amarelo e ser “expulso”. Até lá, e durante este tempo em que dura a partida e não surge o apito final, as marcas têm-no debaixo de olho. Devem manter a calma, isto é, congelar eventuais activações que, entretanto, estejam contratualizadas para o curto prazo e analisar se as mesmas, a médio prazo, fazem sentido. Tudo isto, enquanto Conguito, no papel de Presidente do Villa Athletic Club, se deve posicionar de forma clara, transparente e correcta.

Mais do que, alegadamente, ter errado, o que vai contar é a forma como gere, de forma prática, esta polémica. Ele e o clube que representa. Não se podem resolver problemas organizacionais complexos apenas com comunicação. Para lá dos comunicados on e offline e das palavras que tentam humanizar, explicar o sonho e, eventualmente, desculpabilizar, será importante, para lá da resistência perante o furacão de críticas que lhe são dirigidas, encontrar forma, directa ou indirectamente de ser parte da solução e de ser realmente empático com os prejudicados na alegada situação.

A maior vulnerabilidade é a descrença, pelo que o desafio passa por gerar confiança: de todos em sua volta. Tem aqui a oportunidade de dar a táctica para voltar à boa forma e, com a sua equipa técnica (fora e dentro do clube), fazer com que tanto a vertente operacional (problemas concretos) como a comunicação estejam completamente alinhadas de forma coerente e verdadeira.

O Conguito influencer não está condenado à expulsão. Precisa de tempo e de dar o seu melhor até ao final da partida. E de ter a consciência de que as próximas faltas, se acontecerem, vão estar debaixo de mega holofotes, com uma equipa de arbitragem tendencialmente muito rígida e com via aberta para o escrutínio do VAR.

Pode uma crise pessoal (ou profissional) afectar a persona digital de um influencer? Pode. Isso implica que as marcas deixem de apostar nele? Depende. Tudo depende da forma como esta crise acabar por ser gerida. Mais do que notoriedade, está aqui em jogo a reputação e esse é um indicador fundamental que mexe com uma opinião pública favorável ou desfavorável. Como dizia um antigo futebolista português, “prognósticos só no final do jogo” e esta partida ainda não terminou.

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