Generis: Há 20 anos a criar genéricos

Actualmente parte do Grupo Aurobindo, a Generis iniciou a sua actividade comercial no mercado de medicamentos genéricos em 2003. Em 2006, adquiriu e equipou a primeira instalação fabril, com o objectivo de implementar uma estratégia de crescimento consolidada, e hoje fabrica mais de 600 referências para o mercado nacional e internacional. Nesta entrevista à Marketeer, Luís Abrantes, CEO e administrador delegado da Generis Grupo Aurobindo, traça o percurso dos 20 anos da empresa, fala sobre a evolução do mercado e as grandes apostas da Generis, sempre privilegiando os pacientes portugueses e com os olhos postos no futuro.

A Generis celebra 20 anos de existência. Que balanço fazem deste percurso no mercado dos genéricos?

A Generis iniciou a sua actividade comercial em 2003, tornando- se uma empresa líder em Portugal no mercado de medicamentos genéricos. A Generis nasceu para trilhar um novo caminho para a saúde em Portugal: o acesso a terapêuticas seguras, eficazes e mais sustentáveis. Hoje, é a empresa que mais doentes trata em Portugal. Em 2006, foi adquirida e totalmente equipada a primeira instalação fabril, com o objectivo de implementar uma estratégia de crescimento sólida e sustentada, algo que tem vindo a ser construído e fomentado desde o primeiro momento. A empresa fabrica mais de 600 referências de produto acabado, cujo destino principal é o mercado nacional, mas apresenta um crescimento assinalável no número de produtos para diversos países. Mensalmente, são libertados mais de 150 lotes e saem das instalações Generis cerca de 750 paletes de produto acabado, a que correspondem sensivelmente 2,5 milhões de embalagens/mês (30 milhões anualmente).

Hoje, está presente em mais de 20 países, verticalmente integrado, desde a I&D à comercialização. O grupo detém 25 fábricas e exporta para mais de 150 países. Mas o caminho não está todo feito e é necessário continuar a investir fortemente na inovação, prosseguindo um exigente e rigoroso trabalho. A inovação é, justamente, um dos nossos pilares.

Como tem sido a evolução da Generis no mercado de ambulatório e hospitalar?

O lançamento da Generis, enquanto projecto, pressupunha, desde logo, um objectivo de liderança, liderança essa que foi sendo perseguida desde sempre. Assim, numa primeira fase, o mercado ambulatório foi a prioridade, já que o segmento hospitalar se encontrava assegurado por uma outra entidade do grupo, a Farma APS. O rápido lançamento de novas moléculas de medicamentos genéricos foi a estratégia que permitiu manter a empresa nos lugares cimeiros do mercado. Contudo, foi a partir de 2020 que a liderança do mercado ambulatório de medicamentos genéricos foi alcançada em volume. Cerca de um ano mais tarde, no último trimestre de 2021, a Generis alcançou igualmente a liderança do mercado em valor, posições que ainda hoje mantém de forma sustentada nos rankings da HMR Health e IQVIA. Em paralelo, o crescimento dos últimos anos guindou a Generis para a liderança do mercado ambulatório total em volume, algo que nunca tinha acontecido antes.

No que diz respeito ao segmento hospitalar, a Generis assumiu o legado da Farma APS, o que lhe permitiu ocupar uma posição de liderança desde 2018. Líder incontestada em volume no mercado hospitalar total, é também líder em valor e volume no mercado hospitalar de medicamentos genéricos.

A saúde dos portugueses está intimamente ligada à disponibilidade das soluções terapêuticas da Generis, fonte de orgulho mas, sobretudo, de enorme responsabilidade. O compromisso para com os pacientes portugueses e para com os profissionais de saúde é inquestionável para nós.

Qual é a relação da Generis com as farmácias e como é assegurado o acesso ao medicamento?

A relação da Generis com as farmácias é uma peça fundamental na nossa estratégia. Prova disso são os contactos diários que a nossa equipa comercial faz com as farmácias no continente e nos arquipélagos da Madeira e Açores. Acreditamos que o contacto de proximidade é um factor diferenciador.

Trabalhar com 2500 farmácias, através dos acordos que temos com farmácias independentes, grupos familiares e os grandes grupos, é um desafio diário, mas que tem um objectivo claro: assegurar o acesso ao medicamento por parte de todos os utentes. Este circuito só é possível e tem resultados positivos porque construímos com farmácias e distribuidores parcerias sólidas, com visões a longo prazo e que se tornam sustentáveis.

Como está distribuído o peso do volume de vendas dos medicamentos da Generis e quais os grupos a que pertencem?

O grande peso do nosso portefólio está concentrado em quatro grandes áreas terapêuticas: sistema nervoso central, sistema cardiovascular, sistema digestivo e metabolismo, e no sistema músculo- esquelético, representando mais de 80% das nossas vendas, muito em linha com o peso que representam para o mercado de medicamentos genéricos. O crescimento destas áreas foi significativo versus 2022, resultado do crescimento de mercado mas também do lançamento de novas moléculas nas áreas terapêuticas do sistema digestivo e metabolismo (+17% em unidades) e no sistema músculo-esquelético (+19% em unidades).

Os medicamentos genéricos da Generis representam 97% do valor de mercado dos grupos homogéneos. Como é que a empresa se reinventa e dá resposta às necessidades do mercado?

A missão da Generis passa por produzir e disponibilizar as melhores soluções terapêuticas, contribuindo para um maior acesso a todos os seus clientes e utentes, mantendo-se como referência no panorama industrial e consolidando a sua posição enquanto parceiro de confiança no sector farmacêutico.

Actualmente, temos no mercado quatro marcas – Generis, Aurovitas, Aurobindo e Labesfal –, e orgulhamo-nos de ter o maior portefólio de medicamentos em Portugal. Só foi possível atingir o patamar onde nos encontramos hoje porque nos últimos 20 anos conquistámos a confiança dos nossos utentes, clientes e parceiros.

Outro dos pontos diferenciadores é o facto de a Generis investir em múltiplos produtos, de forma consistente, em contraponto com o que se passa na generalidade do mercado farmacêutico. Ou seja, uma fatia significativa do nosso portefólio são produtos onde somos únicos no mercado e onde, à partida, não haveria interesse comercial. A somar à questão do portefólio, fomos inovadores no lançamento de dosagens que o próprio originador não tinha lançado em Portugal, e onde a Generis acabou por criar um novo mercado.

Com mais de 230 moléculas divididas por 1400 referências, a Generis tem a maior oferta. Em 2018, venderam mais de 18 milhões de unidades. Como perspectivam este ano?

Este ano, prevemos aumentar a facturação para os 115 milhões de euros e manter o crescimento de dois dígitos até 2025, graças a novos medicamentos biológicos, já que, até ao final de 2024, contamos lançar seis moléculas biossimilares, o que irá potenciar a facturação actual. Nos cinco anos seguintes, prevemos crescer 10% a cada ano. Este investimento na nossa unidade fabril – responsável por 40% da facturação da Generis – pode chegar aos 10 milhões de euros nos próximos cinco anos.

A visão da companhia passa por reforçar a liderança no mercado nacional, em número de pacientes tratados, mantendo- se como referência no panorama industrial e consolidando a sua posição enquanto parceiro de confiança no sector farmacêutico. Vamos continuar a trabalhar para fortalecer a nossa presença, tanto em Portugal como no estrangeiro, sem nunca colocar em causa a disponibilidade do medicamento para os pacientes portugueses.

A Generis vai entrar no mercado dos medicamentos biossimilares? Como olham para este mercado?

Os medicamentos biológicos são, desde há alguns anos, mais uma alternativa e bastante válida, ao arsenal terapêutico existente. Representam, no entanto, um investimento importante em I&D, que penso não estar ao alcance de todos os players ou, pelo menos, de forma tão imediata. Desse ponto de vista, considero que será uma vantagem competitiva a curto/médio prazo para a Generis. Contamos lançar seis medicamentos biossimilares até ao final de 2024, o que nos permitirá aceder a um novo segmento de mercado e proporcionar mais alternativas de tratamento. Este movimento vai no sentido de “democratizar” o acesso a medicamentos biológicos, de comprovada eficácia, sendo que tal irá proporcionar uma maior abrangência. Neste campo, a sensibilização dos profissionais de saúde é fundamental, no sentido de termos taxas de penetração mais homogéneas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Hoje, temos grandes disparidades entre as entidades do SNS espalhadas pelo país. Algumas com elevadíssima adesão aos biossimilares e outras com peso quase residual, apesar de os medicamentos biológicos já estarem bem implantados nas mesmas.

Qual o futuro da empresa e qual a visão para o sector do medicamento a 20 anos?

Até 2025, estimamos lançar 64 moléculas, que passarão a fazer parte do nosso portefólio, disponível para os doentes e profissionais de saúde em Portugal. Estamos também a investir mais de 1 milhão de euros na nossa fábrica na Amadora, com vista à sua “capacitação” e renovação de equipamentos.

O sector do medicamento irá sofrer mudanças estruturais, pela generalização e incremento de soluções ao nível dos medicamentos biológicos, soluções “à medida” do utente, mas também medicina preditiva a nível genético. Por outro lado, o repurposing vai permitir alargar o número de indicações terapêuticas para moléculas já conhecidas. Também as moléculas relativamente recentes poderão colocar em causa mercados e terapêuticas estabelecidas a nível das estatinas e anti-hipertensores. A futurologia é de difícil aplicação nesta área.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Aniversário das Marcas”, publicado na edição de Outubro (n.º 327) da Marketeer.

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