Ecossistema

Por Ricardo Tomaz
Director de Marketing Estratégico e Relações Externas da SIVA

A recente colocação em órbita de um Tesla Roadster, o gimmick mais mediatizado do lançamento de um novo superfoguetão pelo empresário Elon Musk, vem chamar a nossa atenção para uma nova era de conquista do espaço, mas confere sobretudo grande notoriedade àquela marca de veículos eléctricos.

Musk é um homem rápido: após a compra da Tesla, em 2008, não demorou mais de três anos até comercializar o primeiro modelo.

É um marketeer notável – como o comprova o uso oportuno da música de David Bowie na operação “Tesla no espaço” – cuja imagem pessoal, bem como as dos seus embaixadores de Hollywood (DiCaprio, Cameron Diaz, Ben Affleck…), substitui os investimentos em publicidade.

É um inseguro e, paradoxalmente, um destemido nos seus planos para salvar o Mundo, um homem fascinante para o grande público, mas irritante para os patrões da indústria automóvel.

Mas é igualmente um homem esclarecido: a sua visão do futuro da mobilidade automóvel parece estar certa e é validada pelos planos da “velha” indústria automóvel, sobretudo a europeia.

O desenvolvimento recente do automóvel eléctrico não corresponde a nenhuma necessidade formulada pelos consumidores. Ele decorre, antes de mais, de uma inevitabilidade da indústria: daqui até 2021, as emissões poluentes de CO2 dos carros vendidos na Europa terão que baixar perto de 30%, e os construtores só conseguirão cumprir a norma se introduzirem veículos 100% eléctricos para baixar a média de emissões da sua gama.

Todos os grandes construtores se lançaram em investimentos avultados para assegurar a sua quota-parte de mercado daqui a dez anos, quando previsivelmente um em cada quatro carros vendidos for eléctrico. O grupo Volkswagen, por exemplo, anunciou um plano de investimento de 70 mil milhões de euros a cinco anos, quer para desenvolver novos modelos eléctricos, quer para se tornar competitivo no fornecimento de baterias.

Neste contexto, Elon Musk foi importante porque, de certa forma, mostrou o caminho: é preciso investir e ganhar economias de escala na electromobilidade para baixar o preço da tecnologia, mas sobretudo é necessário ter uma nova compreensão da mobilidade e criar um Ecossistema.

A base deste Ecossistema são os serviços de que beneficiarão os compradores de carros eléctricos. Serviços intermodais (como a mobilidade “on demand”), serviços dentro do carro (informação útil, entretenimento) e serviços à volta do carro (comunicação entre veículos da mesma marca baseados em infra- estruturas inteligentes).

A Tesla foi pioneira nas actualizações automáticas e no diagnóstico remoto, que reduzem a necessidade de frequentar uma oficina. Amanhã, será possível através de uma app do construtor usar serviços “escaláveis”, como descarregar potência adicional para o motor ou mais carga para a bateria, ou serviços de conveniência através do “download” de um GPS por um período de tempo limitado.

O futuro Volkswagen 100% eléctrico de 2020 estará sempre ligado em rede e comunicará com outros Volkswagen, fornecendo e recebendo informação útil em tempo real. Receberá actualizações de software “over the air”, dispensando algumas idas à oficina, e o seu condutor terá um ID – como na Apple -, o qual será a porta de acesso ao Ecossistema de mobilidade da marca.

O carro do futuro será um dispositivo móvel. Obrigado pela ajuda, Elon Musk.

Artigo de opinião publicado na Revista Marketeer n.º 260 de Março de 2018.

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