É uma felicidade o Midori ter reaberto

E é um privilégio voltar ao Midori e às criações do chef Pedro Almeida. Um privilégio, uma experiência única e uma dose farta de memórias que nos ficam para a vida.

Foi assim a primeira vez, a segunda, esta última… É assim sempre. E que nos permite conferir – se dúvidas houvesse – por que é que o Midori foi o primeiro japonês a merecer estrela Michelin em Portugal e a repetir o feito. Por ali não há mais do mesmo. Nem faz do conta.

Desde sempre que Pedro Almeida quis casar a alma portuguesa com a japonesa. Assim continua e continua bem. Aliás, mais do que bem. De resto, e nas palavras do chef, é uma cozinha japonesa com alma portuguesa.

Desde sempre, também, que preparou para o seu Midori dois menus, de oito e nove momentos. Fomos agraciados com o segundo. E apesar de terem sido algumas horas à mesa, foram horas leves e a rejubilar com a prova.

Então vamos lá nesta viagem, que acontece em Sintra, no Penha Longa.

Primeiro momento, ou Hasun. O prato é lindo, fotografável, memorável e incrível nas diferentes sugestões, entre a tartelete de hiyokomame (grão de bico) miso com gamba da costa e azeite, o Yakitori de frango com alho francês e pele crocante, a cabeça de camarão frita com aioli de yuzu e plancton (um dos pratos que remetem à infância do chef e que é já um clássico no Midori), o Canudo de toro com gema de ovo e caviar e o falso tofu de couve flor com jus de salmonete. Houve votações à mesa e não houve consenso. É tudo de ficar a salivar.

Segue-se a sopa miso, mas, neste caso, de bacalhau com coentros. Este é outro dos pratos assinatura do Midori, já o tínhamos provado em visita anterior e só serviu para confirmar o que já sabíamos. Não há nada a apontar, antes a aplaudir.

Mas o que mais se aplaudiu naquela noite foi, acredite ou não, o que chegou depois. Nem mais nem menos que sashimi de shime aji e nabo cozido na terra da serra. Porque não se está à espera do sabor, da textura, do contraste e do quão bom é. Aplauso, Pedro Almeida!

Há ainda sashimi de lavagante com tosazu, poejo e caldo de marisco e Yakimono em jeito de couve dengaku com pilpil de bacalhau e alho.

Mais um momento, o de Sushi, que aqui se traduz numa selecção de nigiris que representam a essência do Midori e que já estão na carta desde o início. A primeira vez que lá fui lembro-me de ter confidenciado ao chef que não era mesmo fã de niguiris. Insistiu que experimentasse os dele. E em boa hora o fez porque é dos momentos grandiosos deste menu. No nosso caso, tivemos a honra de provar um nigiri de cogumelo shitake em sunomono, um outro de carapau braseado com azeite de alho, mais um de gamba riscada do Algarve com jus da cabeça “à guilho” e lima dedo, um ainda de lula com lima e sal, o de atum fumado com muxama e o de toro na brasa. Claro que há preferências. Mas no final só apetece repetir.

A ideia do chef é ir alterando e mudando combinações e produtos, à medida que vai avançando, que os meses mudam e os produtos da época também. Por isso, se quiser que aí volte para a próxima prova, conte comigo!

Bem, e se por acaso acha que ficamos por aqui, nada disso. É a altura do prato principal que pode escolher entre carabineiro curado em saikyo miso e puré de cenoura à algarvia ou esparregado de espinafres e shiso novilho maturado e broa de milho. Ficamos pelo primeiro. E bem!

Por fim, é às mãos do chef Francisco Siopa que nos entregamos, com tempo para a sobremesa. Desculpe, o Mae Dezāto: anmitsu de maçã de alcobaça com gengibre e azuki e, então sim, o Dezāto, que se apresenta como Yuzo e mar. É verdade, estamos no final mas o mar regressa todo à mesa. E mais não digo, para ter vontade de se meter a caminho de Sintra e entregar-se a todas estas criações. Com tempo e alma!

Nota

Menu Kiri | 8 Momentos | Com opção de escolha de um prato principal | Preço do menu por pessoa 115€ | Com harmonização de vinhos 195€

Menu Yama | 9 Momentos | Preço do menu por pessoa 145€ | Com harmonização de vinhos 250€

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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