Daniela Agra (Atrevia): «Temos uma sinergia muito grande e refinada a nível ibérico»
“Construir Confiança em Tempos de IA – Reflexões e Desafios da Comunicação Hoje.” Foi este o tema do evento que a Atrevia promoveu no âmbito das comemorações dos seus 25 anos em Portugal.
Com a presença de Núria Vilanova, presidente e fundadora da Atrevia, e sob a chancela da Câmara de Comércio Luso-Espanhola, este evento reuniu marcas e profissionais, distribuídos por dois painéis. No painel “A Arte de Conectar e Impactar com Comunicação Integrada” estiveram presentes Patrícia Adegas (directora de Comunicação da Novartis Portugal), Joana Gaivão (directora de Comunicação e Marketing da Abreu Advogados), Emília Encarnação (directora de Comunicação Institucional da Vista Alegre) e Patrícia Coelho (directora de Marketing Ibérica da Lifestyles Healthcare). No painel “IA + Pessoas: O Futuro Inadiável das Empresas” estiveram António Branco (professor na Universidade de Lisboa e director geral da PORTULAN CLARIN) e Luísa Ribeiro Lopes (presidente do Conselho Directivo do .PT).
À margem do evento, a Marketeer conversou com Daniela Agra, presidente da Atrevia Portugal, que assumiu os comandos da consultora há um ano. Nesta conversa a profissional conta como a Atrevia está a assinalar o quarto de século em Portugal e deixa os seus pontos de vista sobre os desafios que este sector enfrenta para os próximos anos. Faz ainda um balanço do trabalho feito nos meses mais recentes e dos projectos que têm sido realizados em parceria com outros escritórios da Atrevia.
De que maneira é que a Atrevia está (e estará) a assinalar os seus 25 anos no mercado português?
A Atrevia está a celebrar 25 anos de presença no mercado português com várias iniciativas que reflectem o seu compromisso com a inovação e o diálogo constante com os principais actores da comunicação. Reavivámos as Tertúlias de Comunicação, que foram, ao longo dos anos, um ponto de encontro e de partilha entre responsáveis de comunicação com líderes de opinião e jornalistas convidados. Retomámos este projecto recebendo em nossa casa os nossos convidados para um pequeno-almoço, um formato de maior proximidade e muita partilha e que resulta bastante bem pelo carácter mais intimista que este ambiente proporciona.
No dia 19 de Setembro, aquele que será talvez o momento alto destas comemorações com a Conferência “Construir Confiança em Tempos de IA – Reflexões e Desafios da Comunicação Hoje”, contámos com a nossa presidente Núria Vilanova e um painel de especialistas e profissionais do sector, para analisar as grandes transformações da comunicação de marcas e empresas, e a forma como a Inteligência Artificial está a moldar o presente e o futuro da comunicação.
Internamente temos desenvolvido acções de voluntariado corporativo, como activistas que somos estamos muito atentos e voltados para ter um papel activo social, para além de um momento especial que estamos a preparar para celebrar com todos os colaboradores.
No entanto, encaramos este aniversário como um ponto de partida para este tipo de iniciativas, onde pretendemos reforçar momentos de partilha com os nossos clientes, parceiros e outros players no mercado.
Quais os objectivos da Atrevia com o evento “Construir Confiança em tempos de IA”?
Os 25 anos da Atrevia em Portugal são o mote para esta Conferência onde pretendemos falar da comunicação de forma global. O nosso principal objectivo foi proporcionar um espaço de partilha e reflexão sobre as grandes transformações que a comunicação está a viver, onde se assume de forma cada vez mais integrada e muito marcada também com o advento da Inteligência Artificial (IA). Pretendemos debater as mudanças que esta tecnologia está a trazer para o sector, explorando como as empresas podem continuar a construir e manter a confiança com os seus públicos (internos e externos) num cenário de rápida evolução tecnológica.
Há 25 anos que trabalhamos para nos transformarmos diariamente para fazer face a todos os novos desafios do amplo mundo da comunicação corporativa. Inspirado pelo mais recente relatório de tendências da Atrevia, e no rescaldo do 4º Congresso Ibero-Americano de Tendências em Marketing, Comunicação e Public-Affairs realizado em Espanha, quisemos organizar este evento para abordar o entendimento da inteligência artificial na comunicação e a importância da comunicação integrada para conectar e impactar os consumidores. Esta foi, sem dúvida, uma importante oportunidade para aprofundar o entendimento sobre tendências emergentes, discutindo não só as vantagens da IA, mas também os desafios éticos que esta levanta.
Contámos com dois painéis num total de seis speakers, de sectores de actividade muito diversos, para precisamente termos várias leituras, o que resultou num diálogo enriquecedor e instigante.
Este evento contou com a chancela e apoio da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, da qual somos sócios (temos uma relação muito próxima) e fazemos parte da Junta Directiva. A presença de Núria Vilanova, a fundadora da Atrevia, foi um momento inspirador que nos apresentou os grandes desafios da comunicação numa perspectiva mais global e ibérica e uma oportunidade para ouvirmos, na primeira pessoa, o que tem sido este percurso de crescimento e impacto a nível internacional.
Na sua perspectiva, quais são as grandes tendências e transformações da comunicação nos dias de hoje, em tempos de IA?
Vivemos num momento de grande transformação no sector da comunicação, impulsionado pela crescente automação e pela análise de dados através da IA. As principais tendências incluem a personalização de mensagens em grande escala, a utilização de algoritmos para optimizar a distribuição de conteúdos e a monitorização em tempo real dos comportamentos do público, o chamado Data. Contudo, a IA também apresenta desafios éticos, como a questão da privacidade e a proliferação de desinformação e que temos de estar atentos e precavidos.
A comunicação corporativa está agora mais focada na autenticidade, na transparência, na construção de confiança e nos modelos de boa governança, que impactam não só o público interno, mas também externo. Acredito que, à medida que a IA evolui, as empresas deverão adoptar um equilíbrio entre a automação e o toque humano, promovendo um humanismo digital, mas também a transparência, ética e a sua responsabilidade para com as suas pessoas e para com a sociedade.
Em que consistirão as tertúlias de comunicação (quais os seus objectos) e qual a periodicidade da sua realização?
As Tertúlias de Comunicação da Atrevia são encontros que têm como objectivo reunir profissionais de comunicação e um convidado especial, normalmente um jornalista, para discutirem temas actuais e relevantes do mundo da comunicação. Num formato de pequeno-almoço promove-se uma conversa aberta e interactiva onde o jornalista convidado acaba por dar o mote, normalmente falando da sua experiência e do seu “meio de comunicação” e que depois abre-se espaço para um sem fim de temas da actualidade.
Ao longo dos últimos 25 anos, já realizámos mais de 30 tertúlias e agora estamos a retomar esta iniciativa com mais frequência, cerca de quatro vezes por ano em Lisboa e no Porto.
Está a fazer um ano que a Daniela assumiu os comandos da Atrevia. Quais foram os seus principais trabalhos neste período e que balanço faz do mesmo?
Durante o primeiro ano de liderança na Atrevia, foi dado um forte impulso à inovação e à transformação digital da empresa. Foi possível fortalecer a presença da Atrevia em Portugal, estreitando, por um lado, os nossos os escritórios de Lisboa e Porto, onde as equipas são uma apenas e reforçam sinergias todos os dias através da multidisciplinaridade, e também a colaboração com a equipa internacional, principalmente com Espanha.
Também temos vindo a trabalhar para integrar ferramentas digitais e da Inteligência Artificial nos nossos processos, abrindo espaço para a criatividade alinhada com a estratégia, junto dos nossos colaboradores e também para impulsionar a área de Intelligence e analytics, que se apresenta como crucial para o nosso trabalho e, assim, continuar a entregar um serviço de excelência aos nossos clientes, a nossa principal prioridade.
Neste sentido, a formação das nossas equipas é um dos principais focos e no âmbito da Academia Atrevia vamos adicionar novos layers à formação das nossas equipas.
Este reforço de competências aconteceu também com a integração de profissionais com muita experiência no mercado, com uma visão integrada da comunicação e com um forte enfoque na gestão de clientes. Reforçamos as coordenações nas áreas de consultoria e digital e contratámos uma directora de Áreas, por forma a garantir a integração de todas as disciplinas da consultora a nível nacional. Foram feitas promoções internas, pelo que é com grande satisfação que assistimos ao desenvolvimento e crescimento das nossas pessoas.
Temos estado com um papel bem definido em termos da nossa actuação social, apoiando a Associação Aldeias de Crianças SOS em diferentes iniciativas, assim como somos parceiros por exemplo da NETMentora, uma associação sem fins lucrativos que visa ajudar empreendedores na criação de empregos contribuindo para um ecossistema empresarial diversificado e sólido. Através desta parceria, procuramos colaborar activamente na capacitação das empresas na fase inicial da sua actividade.
O balanço é muito positivo, com o lançamento de novas iniciativas estratégicas, como o reforço dos serviços de comunicação digital e de sustentabilidade, e o aumento da nossa capacidade de resposta aos desafios do mercado. Hoje temos uma sinergia muito grande e refinada a nível ibérico, com equipas especializadas, sem nunca perder o foco local, regional e autonomia, que nos possibilita agilidade.
À época, um dos objectivos que tinha era o estreitar relações com Espanha. Isso foi conseguido? Pode dar alguns exemplos de projectos conjuntos?
Sim, conseguimos alcançar esse objectivo de forma significativa, sendo que é um processo em contínuo. Temos trabalhado em estreita colaboração com a equipa de Espanha em múltiplos projectos, especialmente em comunicação corporativa integrada para multinacionais ibéricas. Um exemplo concreto desta cooperação foi a coordenação de campanhas de sustentabilidade e transformação digital, onde partilhámos conhecimento e recursos para garantir uma abordagem consistente nos dois mercados. Esta sinergia fortalece a nossa capacidade de oferecer soluções integradas e sofisticadas, optimizando os resultados para os clientes.
Ao nível de new business que resultados desta aproximação a Espanha?
Hoje orgulhamo-nos de dizer que temos um misto entre projectos ibéricos com coordenação de Espanha, mas também com a coordenação em Portugal, com empresas de raiz portuguesa e que têm também um grande foco em Espanha e cujo centro de decisão se encontra aqui.
Um exemplo da cooperação entre Espanha e Portugal diz respeito ao desenvolvimento do novo ecossistema de agências criativas e capacidades digitais. Estamos a desenvolver um novo quadro operacional, em que as capacidades estão a ser articuladas sob quatro pilares importantes (criatividade, estratégia, dados e tecnologias emergentes) para construir uma oferta de serviços que ajude a resolver as necessidades e os desafios dos actuais departamentos de marketing e comunicação da forma mais integrada e global possível. Esta nova estrutura operacional está a ser promovida, numa primeira fase, em Espanha e Portugal, com uma visão holística, que nos permite ser competitivos em ambos os mercados e, posteriormente, a nível internacional, com foco nos nossos escritórios LATAM.
Dentro deste novo quadro, a Atrevia estruturou as suas capacidades para responder às necessidades de marketing actuais e futuras das marcas, com um claro enfoque na construção de relações duradouras e eficazes com os seus clientes.
Para tal, as capacidades de estratégia, design, criação, gestão de conteúdos e experiências omnicanal, SEO, paid media, amplificação e posicionamento digital, CRM, produção digital, CRO, análise, reporting e desenvolvimento de soluções de marketing e comunicação foram organizadas sob as áreas de Digital Impact and Perfomance, Growth & Data-driven Solutions e Influencer Marketing.
Além de Espanha, com que outros mercados têm os escritórios de Portugal trabalhado em maior proximidade? Que colaboração ao nível de partilha de dados?
Além de Espanha, os nossos escritórios em Portugal têm trabalhado de mão dada com mercados como Bruxelas e América Latina, onde o dinamismo e a necessidade de comunicação especializada são cada vez mais evidentes.
No que diz respeito a Bruxelas, fomos a primeira empresa de consultoria em Espanha e Portugal a ter um escritório permanente em Bruxelas, há 10 anos. A partir de Bruxelas prestamos serviços de comunicação, mas, acima de tudo, dispomos de uma equipa especializada em Assuntos Públicos com um vasto conhecimento das instituições europeias. É fundamental anteciparmo-nos e estarmos atentos à actividade que se faz em Bruxelas para podemos ficar a par da regulação que irá afectar as empresas portuguesas mais tarde. É prática frequente os nossos consultores de Public Affairs, através de um trabalho conjunto com a equipa de Bruxelas, veicularem análises e reports de temas quentes da agenda política e económica, que são divulgados internamente à equipa e, claro, aos nossos clientes.
A Atrevia Portugal é também membro fundador da PAPT a entidade que tem como missão fortalecer, credibilizar e dignificar os Assuntos Públicos em Portugal. Acreditamos na profissionalização, regulação e transparência da actividade, e para que seja praticada de acordo com elevados padrões de ética.
A entrar no último trimestre do ano, que crescimento conseguiu a Daniela imprimir à Atrevia Portugal? Foi orgânico ou inorgânico?
Durante este período a Atrevia Portugal conseguiu imprimir um crescimento significativo, que foi maioritariamente orgânico, sustentado pela expansão da carteira de clientes e pelo reforço da nossa oferta de serviços. Este crescimento orgânico foi complementado por uma abordagem estratégica à inovação – onde se destacam as áreas de digital, ESG, e transformação tecnológica – e também capitalizado pela maior sinergia entre os escritórios de Lisboa e do Porto.
Paralelamente, continuamos atentos, a estudar oportunidades de crescimento inorgânico, nomeadamente através da aquisição de uma empresa que possa agregar valor ao nosso portefólio de serviços, uma estratégia que já tem vindo a ser implementada com sucesso noutros mercados.
Como é que tem vindo a mudar o perfil das pessoas contratadas para a Atrevia em função da evolução da empresa e do mercado? O que é que a IA está a impactar a este nível?
O perfil das pessoas que contratamos mudou para se alinhar com as novas necessidades do mercado. Hoje, estamos a procurar profissionais com fortes competências em tecnologia digital e análise de dados, bem como conhecimentos sobre IA e automação. No entanto, continuamos a valorizar as soft skills, como a criatividade e a capacidade de gerar empatia, uma vez que o sucesso na comunicação depende, acima de tudo, do factor humano.
Que importância da certificação para o negócio da Atrevia?
A certificação é vital para garantir a qualidade e a confiança no nosso trabalho. Desde sempre nos preocupamos em ter um compromisso para com a sustentabilidade ao passar os testes mais complexos que avaliam o desempenho ambiental, a gestão empresarial e a ética, a contribuição para o desenvolvimento dos seus colaboradores, da comunidade e dos seus clientes.
Somos, com muito orgulho, uma empresa BCorp, que demonstra o nosso compromisso com a responsabilidade social e a sustentabilidade, valores que promovemos tanto internamente quanto junto aos nossos clientes. É muito inspirador fazer parte desta comunidade e temos como objectivo promovê-la e trabalhar para que mais empresas se juntem.
Temos também o certificado EFR (Empresa Familiarmente Responsável) e estamos no 38º lugar no 1º Ranking de Empresas para a Igualdade da Fundação Woman Forward, devido à implementação de medidas para a conciliação da vida profissional e pessoal, o bem-estar e a igualdade efectiva.
Contamos ainda com as ISO 9001, que integra o sistema de gestão de qualidade, a ISO 14001, que garante um sistema de gestão ambiental, e a ISO 27001, muito importante no nosso negócio e que comprova a segurança na informação e protecção de dados.
Tudo isto nos garante não só o cumprimento das best practices a nível internacional e o reforço da confiança dos nossos clientes, mas também aos nossos clientes e parceiros.
Texto de Maria João Lima