Chef Kiko e Pedro Fernandes correm para desacelerar a vida (e pela saúde mental)

Não foi apenas de tendências de Marketing que se falou na 18.ª Conferência Marketeer. Também a tendência do running teve espaço para discussão no palco do Campo Pequeno, em Lisboa, com dois ilustres adeptos desta modalidade: o chef Kiko Martins e o apresentador e radialista Pedro Fernandes subiram ao palco para falar sobre os benefícios que a corrida (e o desporto em geral) têm para a saúde mental.

Kiko Martins começou a correr há uns anos por influência do amigo Pedro Fernandes. Hoje, gostam de treinar e de participar em provas em conjunto, sempre que possível – embora se confessem competitivos. Para o chef, numa altura em que o digital consome tanto das nossas vidas e em que se fala tanto de novas tecnologias e realidades virtuais – recordamos que, antes, Thibault Launay, CEO da Exclusible, subira ao palco para falar sobre o metaverso -, a corrida pode funcionar como um escape para a realidade. «Fico perplexo quando se fala nestes novos universos, porque acredito que vão impactar muito a questão mental. Muito mais pessoas vão ter de ir ao psicólogo! Eu corro precisamente pela minha saúde mental. Não é uma por uma questão de competição, mas de saúde. É um ponto de equilíbrio», afirmou Kiko Martins. A corrida, reforçou, é o que lhe permite «sentir os pés na terra», lembrando que é um desporto democrático e que está ao alcance de todos, bastando «algum investimento em equipamento e, sobretudo, força de vontade.»

Numa conversa moderada por Maria João Vieira Pinto, directora de redacção da Marketeer, Pedro Fernandes contou que começou a correr porque queria perder peso. «Via-me na televisão e não gostava do que via», recorda. A corrida ajudou-o a perder 10 kg, mas não parou por aí. Hoje, corre por gosto – prepara-se para participar numa corrida de 42 km em Espanha – e não se cansa, até porque, garante, o único limite que existe é o tempo e a disponibilidade para treinar. Contudo, também isso mudou a partir do momento em que passou a marcar os treinos diários na sua agenda, ajustando-os da melhor forma possível aos compromissos pessoais e profissionais. «Se não colocarmos o treino na agenda, não vai acontecer. Fazê-lo mudou a minha vida em termos de compromisso com o desporto.»

Já Kiko Martins confessou que, em termos de organização, vai um pouco mais longe e gosta inclusive de registar os seus treinos e resultados numa folha Excel, onde vai apontando métricas como os batimentos cardíacos.

Apesar de todos os benefícios que traz para saúde mental, pode a corrida tornar-se também um vício? Para Kiko Martins, há, de facto, «um lado perverso, que é o de pôr a corrida à frente de tudo. Se olharmos para provas como o Ironman, há muita loucura e excesso por parte de alguns participantes», alertou, confessando que ele próprio não consegue estar mais de três dias sem correr. «Se estou um dia sem correr, sinto remorsos!», disse, por sua vez, Pedro Fernandes.

E correm ao lado das marcas?

Sendo figuras públicas, têm Kiko Martins e Pedro Fernandes aproveitado o seu estatuto para influenciar outras pessoas a correrem, nomeadamente através das redes sociais? Se o animador da RFM gosta, por vezes, de partilhar os seus treinos nas redes sociais, já o chef – que, além de correr, gosta de nadar e de andar de bicicleta – mostra-se mais reservado na utilização das redes, de um modo geral. «Afastei-me das redes sociais porque apercebi-me, rapidamente, que me podia viciar naquilo. E como faço com tudo aquilo que me vicia, afastei-me», referiu.

Apesar de ser embaixador de marcas como Pescanova ou Nespresso, com as quais tem vindo a desenvolver acções em conjunto, Kiko Martins garante que tem feito uma gestão cuidada daquilo que é a sua imagem pública, procurando apenas relações com marcas com as quais se identifica, para não cair no erro de não ser autêntico – razão pela qual já recusou algumas parcerias. «Hoje não sou contra os influenciadores, mas sou bastante crítico da falta de autenticidade. Para vingarmos neste mundo, tem de ser com autenticidade e transparência», sublinhou.

De resto, esta necessidade de estabelecer relações reais e autênticas já o levou a realizar um projecto de impacto social em Moçambique, que o levou a sentir-se «preenchido» porque permitiu-lhe chegar às pessoas, tirá-las das ruas, dar-lhes uma vida melhor. «Ao mesmo tempo foi triste, porque quando convivemos com este tipo de pessoas, com situações de fome e pobreza, é algo que nos inquieta. Aquilo que me traz mais alegria na vida é levar os alimentos às pessoas». Qual maratona, este é um objectivo que quer continuar a desenvolver no futuro.

Texto de Daniel Almeida

Foto de Filipe Pombo

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