Jaba Recordati: Inovar para ganhar quota de mercado

A história da Jaba começou em 1927 na Farmácia Universal, em Lisboa, pelas mãos do farmacêutico José António Baptista d’Almeida (JABA). Neste período entre guerras, a Jaba dedicou-se, inicialmente, à actividade de farmácia propriamente dita, complementada com o comércio de algumas especialidades farmacêuticas, produtos químicos e material de penso, de que era representante exclusivo. Mas a visão do fundador não ficou por aqui.

Em 1934, solicita licença para fabrico nas mesmas instalações e desenvolve a produção de algumas especialidades farmacêuticas, nomeadamente insulina, cujas vendas viriam a atingir grande relevo durante a II Guerra Mundial.

No pós-guerra, já pela mão de João Baptista de Almeida, filho do fundador, e da sua mulher, Sara Baptista de Almeida, com o “boom” dos novos produtos e novas tecnologias, a Jaba desenvolveu a sua actividade comercial, principalmente importando produtos das suas representadas. «Era uma época de explosão de novos produtos e novas tecnologias. Muitos deles deram provas de sucesso durante anos até aos nossos dias», sublinha Rui Rijo Ferreira, director de Marketing da Jaba Recordati. Preteriria, nessa fase, a área industrial, por se tornar difícil, naquela época, conjugar as duas actividades.

Na década de 50, a Jaba perde a representação da Boehringher Ingelheim, que significava cerca de 50% das suas vendas. A empresa fundada por José António Baptista d’Almeida adquiriu, então, sete hectares de terreno na Abrunheira a pensar numa futura instalação fabril.

Na década de 60, estabelece contratos de fabrico com algumas das empresas que representava e com outras que detinham patentes de produtos originais, desenvolvendo, assim, de novo, a sua área industrial de produção, preparando praticamente todas as formas farmacêuticas.

UNIDADE FABRIL DA ABRUNHEIRA

Nos anos 70, perante a crescente necessidade de aumento da capacidade de produção e das novas exigências para unidades industriais, a Jaba apostou na construção de uma unidade fabril na Abrunheira, perto de Sintra, que veio a ser inaugurada em 1984. «Esta unidade fabril foi, na altura, considerada uma das mais modernas, se não mesmo a mais moderna, em Portugal», conta Rui Rijo Ferreira, garantindo que foi um dos momentos mais relevantes da história da empresa. Aí contava com 4500 metros quadrados para fabrico, controlo e armazenamento de produtos farmacêuticos, com sectores de produção específicos de sólidos e de injectáveis, de liofilizados e ainda de cremes, líquidos e supositórios.

Esta instalação fabril viria a verificar importantes ampliações até à sua venda, em 2007, ao Grupo Tecnimede. Os produtos que aí se fabricavam continuaram a ser produzidos lá. «Naturalmente, o portefólio tem vindo a ser revisto e alguns dos produtos foram entretanto descontinuados, por decisões estratégicas. Em alguns casos, há novos fabricantes. Esta é a natural evolução para tornar o negócio competitivo», assegura.

«A Jaba foi-se sempre adaptando aos novos tempos e às novas realidades. Tanto o fundador como os seus herdeiros foram sempre disruptivos e inovadores, antecipando-se para dar os passos necessários para a empresa estar na vanguarda do seu sector», sublinha o director de Marketing. A aquisição da totalidade do capital da Jaba, por parte da Recordati, passaria a permitir à Jaba Recordati o acesso à inovação e às parcerias globais da Recordati.

Actualmente, a Jaba Recordati está presente em todas as áreas do mercado farmacêutico, desde a área dos produtos de prescrição exclusivamente por médicos – seja em ambiente ambulatório ou hospitalar – à área dos suplementos alimentares, passando pela área das preparações para exames complementares de diagnóstico e pelo mercado dos produtos de venda livre em farmácia ou parafarmácia. «A área dos medicamentos de prescrição médica obrigatória continua a representar mais de 70% do nosso volume de negócio, seguida pela área dos OTC (venda livre), que tem vindo a reforçar o seu peso acompanhando a tendência do mercado», conta Rui Rijo Ferreira.

Salientando que a actual legislação portuguesa os impede de ser muito explícitos no que respeita ao portefólio de marcas – «uma vez que a simples alusão a alguma marca de medicamento de prescrição médica obrigatória apenas poderá ser feita em meios exclusivos para profissionais de saúde» –, o responsável indica apenas que as áreas cardiovascular, a gastroenterologia e a urologia são as principais para a empresa. «Recentemente entrámos também na psiquiatria, com um medicamento inovador para o tratamento da esquizofrenia, do qual esperamos muito, pois trata-se de um medicamento antipsicótico com um valor acrescentado em termos de qualidade de vida muito significativo, numa patologia que é dramática, não só para o doente como para o cuidador», conta.

ESTRATÉGIA DE INOVAÇÃO

Rui Rijo Ferreira garante que em qualquer farmacêutica de dimensão semelhante à da Jaba, a inovação é sempre um dos pilares de desenvolvimento. Hoje, a investigação “in house” da Jaba centra-se muito na procura de tratamentos para as doenças classificadas pela OMS como doenças órfãs. Nas outras áreas, a Recordati, mais do que inovação dentro de casa, procura novos projectos promissores nas inúmeras startups ou em instituições dedicadas exclusivamente à investigação científica. A estes potenciais novos produtos, a Recordati acrescenta a capacidade de desenvolvimento necessária para aprovação e registo pelas diferentes agências regulamentares e as competências de marketing para a sua comercialização. Além do já referido antipsicótico, também na área dos suplementos alimentares a Jaba Recordati introduziu recentemente um novo produto para a Hiperplasia Benigna da Próstata – doença que afecta mais de 50% dos homens acima dos 50 anos – e outro para a depressão ligeira ou moderada.

E a aposta na inovação é para continuar nos anos que aí vêm, sendo que a área das doenças órfãs continuará a ser uma prioridade estratégica. Nas restantes áreas médicas o destaque irá para a cardiovascular, a urologia e a gastroenterologia, que continuarão a ser prioritárias em termos de novos lançamentos. Por último, também a área dos produtos de venda livre.

Aliás, esta aposta na inovação fica também clara com as parcerias estabelecidas. Em Julho passado, a Jaba Recordati passou a integrar o Health Cluster Portugal (HCP), «um pólo de competitividade notável em saúde, das organizações que operam na cadeia de valor da saúde em Portugal, incluindo universidades, instituições de I&D, hospitais e empresas das áreas da farmacêutica, biotecnologia, dispositivos médicos, TICE e serviços», explana Rui Rijo Ferreira. E acrescenta: «A Jaba Recordati, sendo uma empresa líder, teria que estar presente nesta rede de conhecimento nacional.» Por esse motivo a direcção-geral da Jaba Recordati também já faz parte da assembleia geral de sócios fundadores, em representação da Apifarma do AICIB, que dinamiza a I&D em Portugal. «Temos apoiado financeiramente (com mais de 1 milhão de euros anuais) uma empresa de biotecnologia em Portugal que investiga o primeiro tratamento inovador de uma doença mortal e que teve inclusive uma aprovação em “fast track pela FDA”, nos Estados Unidos da América, deste mesmo tratamento.»

RELAÇÕES “FACE TO FACE”

A Saúde está, mais do que nunca, no centro do debate mediático. E a Jaba Recordati tem procurado manter uma presença constante junto dos profissionais de saúde e também do público. Mas a verdade é que a situação de pandemia colocou as empresas desta área perante desafios enormes, até porque a relação com os profissionais de saúde, devido à especificidade do tipo de comunicação e aos seus requisitos técnicos e científicos, assenta maioritariamente no relacionamento físico do “face to face”. «Com a situação de pandemia o acesso a estes profissionais foi fortemente limitado, obrigando-nos a ser criativos para continuarmos a comunicar com eles. A opção por modelos híbridos de comunicação (digital e tradicional) foi um caminho, assim como o acelerar de processos e projectos no âmbito do digital», conta o director de Marketing.

Dentro da Jaba havia já um longo caminho percorrido ao nível individual, seja pelas ferramentas tecnológicas, formação dos utilizadores, ou ao nível do RGPD. Mas parte do caminho estava também feito genericamente pela organização – «temos mais de 1 milhão de cliques na nossa página na web, por ano, que é um dos melhores exemplos da indústria farmacêutica em Portugal». Deste modo, houve apenas que implementar melhorias, e não construir do zero, nomeadamente ao nível da cibersegurança, que foi reforçada, bem como ao nível de maiores ganhos de eficiência na utilização das ferramentas digitais.

«Temos a noção de que saímos da pandemia mais fortes. As nossas vendas, embora impactadas negativamente nalgumas áreas, foram positivamente compensadas por outras, mas os nossos métodos de trabalho evoluíram a um ritmo muito superior ao normal», garante o responsável.

Projectos de longo prazo, como o e-Commerce, por exemplo, são hoje já uma realidade. Agora, garante, «vamos querer voltar ao normal, mas sem perder aquilo que ganhámos durante a pandemia».

Mas, porque se trata de uma empresa de pessoas para pessoas, «vamos querer voltar ao contacto “face to face” com todos os nossos clientes». Até porque, no entender da Jaba Recordati, o digital e o remoto deverão ser complementares à relação de confiança que têm vindo a estabelecer com clientes ao longo da história da empresa. Uma história que a empresa quer continuar a escrever nas páginas dos sucessos.

Rui Rijo Ferreira lembra que este é um ano de transição, já que alguns dos produtos líderes da empresa na área dos produtos de prescrição médica perderam a protecção de patente e passaram a ter a concorrência de genéricos. Uma concorrência assente exclusivamente no preço, o que implica elevadas perdas de facturação para a Jaba. «Embora previstas, estas perdas têm sempre consequências. Felizmente conseguimos manter todos os nossos postos de trabalho e transmitir segurança a todos os nossos colaboradores e respectivas famílias. Esforçámo-nos por encontrar alternativas que nos permitissem renovar o portefólio, enquanto aguardamos o registo de novos produtos», explica o responsável.

Fruto desse esforço e de algumas parcerias, a empresa encara 2022 com bastante optimismo e com a expectativa de reforçar a sua quota de mercado e recuperar a sua posição dentro das maiores farmacêuticas a operar em Portugal.

DEVOLVER À SOCIEDADE

A responsabilidade faz parte do propósito ESG (Environment, Social e Governance) da Jaba Recordati, nomeadamente no factor “social”. A empresa pretende devolver à sociedade um pouco do muito que a sociedade lhe dá como organização e individualmente como cidadãos. No período Covid intensificaram as acções, quer a nível externo, quer a nível interno. «Mas entendemos que temos de ser discretos, pois o objectivo não é publicidade, mas fazer o bem pela comunidade e sociedade», afirma Rui Rijo Ferreira, assegurando que está a correr muito bem. «Sentimos que apoiámos, em apenas um ano, mais de 1000 pessoas, directa ou indirectamente, e isso é reconfortante para sentirmos que estamos a deixar o nosso ADN na sociedade.»

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marcas”, publicado na edição de Outubro (n.º 303) da Marketeer.

Artigos relacionados