A teoria das placas tectónicas

nunoteles21Será que a solução dos problemas da eco­nomia portuguesa está na teoria tectónica de placas? É uma teoria da geologia que descreve os movimentos de grande escala que ocorrem na litosfera terrestre.

Ao longo do tempo o movimento das placas tem causado a formação e separação de conti­nentes, incluindo a formação ocasional de um supercontinente, contendo todos ou quase to­dos os continentes. O supercontinente Rodínia terá sido formado há cerca de 1000 milhões de anos, contendo todos ou quase todos os conti­nentes da Terra, tendo-se fragmentado em oito continentes há cerca de 600 milhões de anos. Posteriormente, estes oito continentes volta­ram a formar um outro supercontinente cha­mado Pangea. Este supercontinente acabaria por dividir-se em dois, Laurasia (que daria ori­gem à América do Norte e Eurásia) e Gondwana (que daria origem aos restantes continentes ac­tuais). Se fosse possível voltar a ter o continente Gondwana, Portugal ficaria mais junto do Brasil e mais distante da Europa e tínhamos assim os nossos problemas económicos resolvidos.

Tenho acompanhado as notícias de Portu­gal e as medidas de austeridade que foram im­plementadas recentemente são alarmantes. No Brasil a dúvida é se será possível aproveitar todo o crescimento actual e futuro. O consumo no Brasil passou de 1053 mil milhões de reais em 2003 para 2201 mil milhões em 2010, a renda média do brasileiro sobe 33,5% no mesmo pe­ríodo e o crescimento da economia foi em mé­dia de 4% nos últimos quatro anos. O aeroporto de Guarulhos tem capacidade anual para 20,5 milhões de passageiros e um movimento em 2009 foi de 21,7 milhões de passageiros. Tudo isto é o resultado de 15 anos da Presidência de Fernando Henrique Cardoso e posteriormen­te Lula e de iniciativas determinantes, como o plano brilhante para controlar a inflação e mais recentemente programas como a bolsa família.

De facto, o Brasil está a levantar voo. Para ajudar ainda mais temos a copa do mundo pre­vista para 2014, com uma receita prevista adi­cional de 124 mil milhões de reais e os Jogos Olímpicos para 2016. Mas também uma gran­de responsabilidade, porque o maior pecado é uma pessoa não usar os seus talentos aos olhos de Deus. Os gestores no Brasil têm que agarrar as oportunidades dentro do Brasil, mas também as oportunidades fora do Brasil. Hoje a Budwei­ser, a cerveja n.º 1 nos EUA é de capital brasilei­ro o Burger King também é de capital brasilei­ro, o que permite ter uma ideia da dimensão do mercado no Brasil e o impacto que pode ter na economia mundial.

Estive este mês numa conferência fantásti­ca em São Paulo, o CEO Summit 2010′, que re­úne os principais lideres do Brasil para discutir empreendedoorismo. Uma grande lição para mim foi a atitude simples face às oportunidades que os gestores têm todo o dia para acrescentar valor às empresas e melhorar a vida dos consu­midores brasileiros. Beto Sicupira abriu a con­ferência de uma forma muito simples e focada na sua definição de liderança, ser líder é atingir objectivos, com o team certo e da forma certa, é ter um sonho grande, capacidade de tornar esse sonho em estratégia, objectivos e planos de acção. Foi assim que fez quando comprou a Brahma por 100 milhões de dólares, chegando após uma década a comprar a Budweisser e ser a cervejaria n.º 1 do Mundo, a compra das Ca­sas Bahia e mais recentemente na Burger King. Este empresário tem agora um sonho relativa­mente à Burger King, tornar o negócio ao nível do impacto da marca a nível mundial.

É de facto o momento do Brasil, os merca­dos crescem, o demográfico é favorável e ter 30 milhões de pessoas a mais na classe C é um ex­celente empurrão.

Apesar das dificuldades que se vive em Portugal, os portugueses não se podem des­locar todos para o Brasil, não podemos repetir o movimento de 1807, em que 15 mil súbditos da coroa portuguesa partiram rumo ao Brasil, tornando o centro administrativo do Governo português entre 1808 e 1821 no Brasil.

Também não me parece razoável confiar no movimento das placas tectónicas, simples­mente porque irá demorar muito mais tempo do que temos disponível.

Podemos e devemos abrir horizontes e pen­sar o que podemos fazer com o nosso país. Em Portugal, não somos mais que 5% da população do Brasil, pelo que já não é possível beneficiar mais deste país.

E esta mudança começa em nós, nas nossas acções, de liderar e ter a vontade de fazer a mu­dança. As pessoas que mudam o mundo são as que são suficientemente doidas para pensar que podem mudar o mundo.

Por que é tão igual para o brasileiro ser a Dilma ou o Serra o próximo presidente levando a Dilma a uma segunda volta? O facto de esta­rem os dois tão centrados no mesmo sonho do Brasil, terem objectivos, estratégias e planos tão parecidos, e um foco tão grande no desenvolvi­mento contínuo do país talvez o justifique.

Que bom seria voltar a ter em Portugal este espírito forte de desenvolvimento, e não con­fiar demasiado no movimento das placas tectó­nicas, porque não temos tempo para isso.

Artigo publicação na edição Janeiro 2011 da Revista Marketeer

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