Impresa prevê cortar 10% dos custos até 2028 num total de 16 M€

A Impresa pretende cortar 10% dos custos até 2028, ou seja, 16 milhões de euros e diversificar receitas, disse à Lusa o presidente executivo (CEO) da dona da SIC e do Expresso, que está confiante com este plano.

O resultado líquido da Impresa em 2024 é negativo em 66,2 milhões de euros, de acordo com os resultados hoje divulgados.

No fundo, “este é o culminar de um ciclo de três anos, um triénio negativo”, apontou Francisco Pedro Balsemão, contextualizando que este período teve início em 02 de janeiro de 2022, com o ataque informático, “que foi terrível”.

Com isso, “perdemos um milhão de euros em custos e em perda de receitas” e depois veio “a guerra na Ucrânia”, com os custos de cobertura jornalística” a terem impacto, o que neste contexto “também não ajudou”, prosseguiu o gestor.

Mais tarde, “vem inflação ainda esse ano, mas com o primeiro ano completo, com impacto muito forte, em 2023”, apontou e, “aqui o aumento de custos a vários níveis, nomeadamente no Expresso, o custo do preço do papel, o custo de produção”, mas “talvez o mais grave a seguir ao ataque informático foi o tema da taxa de juros”, explicou Francisco Pedro Balsemão.

Até 2022, “reduzimos sempre a dívida ano após ano”, mas a inflação e o impacto que teve na taxa de juros “prejudicou-nos”, dando a “sensação de uma tempestade perfeita” com os resultados operacionais a sofrerem no pós-covid também, já que hábitos e mercado mudaram.

“Não conseguimos reduzir a dívida nos últimos dois anos – 2023 e 2024 -, mas se olharmos para estes 17 anos – de 2008 a 2024” esta “foi reduzida para metade, a tendência é decrescente”, disse. Ou seja, de 2008 para 2024 quase desceu 50%, de 259 milhões de euros para 130,9 milhões de euros.

Entretanto, a Impresa fez, à semelhança de outras empresas, testes de imparidades para avaliar se os pressupostos subjacentes àquilo que é o seu negócio devem ou não manter-se e, eventualmente, registar imparidade.

“Em 2011 registámos uma imparidade, de cerca de 35 milhões de euros e, agora, em 2024, acontece o mesmo”, contou.

Os testes de imparidade são feitos por entidades externas bancárias, em interação com o grupo, e depois são validados por auditores.

“Chegámos ao final do ano passado com resultados negativos do último triénio e com estas projeções, olhando para o futuro, para o mercado em que nós nos inserimos, concluiu-se que se ia fazer aqui um ajustamento do ‘goodwill’, portanto, o valor dos ativos intangíveis da SIC, uma avaliação que se faz através daquilo que possam vir a ser os proveitos e os resultados que vão ser obtidos no futuro”, explicou o CEO.

O valor era de cerca de 150 milhões de euros e “ajustámos em cerca de 58 milhões”, fazendo o mesmo na InfoPortugal, o que perfaz 60,6 milhões de euros de imparidades. Além disso, há também a provisão por causa do processo da GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas) contra a SIC e TVI, em que o grupo decidiu provisionar parte desse valor.

Agora, “o que temos neste momento é virar a página” e “começar um novo ciclo” com um plano até 2028, que prevê a redução de custos através de quatro componentes.

A primeira é ser “mais eficientes na parte como produzimos ou compramos conteúdos”, a segunda são as operações de tecnologia, que tem a ver com automações nos estúdios e régies, renegociações com fornecedores e a terceira com as despesas gerais administrativas (políticas automóveis, despesas de deslocações, entre outras).

A quarta visa “uma reorganização que passa por uma simplificação da estrutura”, em que serão negociadas as saídas de pessoas, dando preferência para as que queiram sair e às que estão em idade de pré-reforma.

O CEO da Impresa asseverou: “Não temos aqui nenhum objetivo em termos de ‘headcount’, número de pessoas que vão sair”.

A média de idades no grupo Impresa é 45 anos.

No total, “são 10% de custos que queremos cortar, estamos a falar de cerca de 16 milhões de euros (…) em quatro anos”, até 2028, adiantou.

Estas quatro componentes “contribuem para isso, tanto conteúdos, operações de tecnologia e depois área administrativa e pessoas”, sendo que “o plano já está em curso, já temos todas as 26 iniciativas com 26 responsáveis a serem executadas”.

O grupo também está a avaliar a possível venda do edifício.

Na área das receitas, o grupo pretende “rentabilizar” o ‘core business’ [negócio central]: “Estamos a falar nestas três principais marcas da SIC, a SIC Notícias e o Expresso”, onde se inclui a publicidade, a distribuição, as vendas em banca.

Por exemplo, os resultados que “temos tido agora com os intervalos [de publicidade] mais curtos no Jornal da Noite têm sido positivos, portanto, o ‘feedback’ das pessoas é ótimo, os números que mostram que o Jornal da Noite tem subido também, as audiências, os ‘ratings’ comerciais também melhoraram”, destacou.

No Expresso, “temos aqui ideias para ir atrás de um tipo de leitor que não é aquele leitor típico” do jornal, “que é um leitor mais jovem, com menos de 35 anos, temos feito esse esforço”.

Na parte do digital, “que é a segunda componente das receitas, somos líderes nas assinaturas digitais em Portugal, temos 85 mil assinantes se somarmos o Expresso e a Opto, aqui o objetivo é continuarmos a crescer”, sublinhou.

A última componente é a parte da diversificação de fontes receitas, que passa muito “por fazer o que nós já fazemos”, mas “sermos cirúrgicos”, referiu Francisco Pedro Balsemão.

“Estamos muito confiantes em relação a este plano, porque é um plano com muita ambição, mas com os pés bem assentes na terra”, garantiu o gestor, referindo que o tema dos custos “é fundamental”, pela forma que está a ser abordada, estruturada e transversal.

Em suma, 20224 foi “um ano mau, mas com este plano e com a forma como nós o construímos e com as nossas marcas, os nossos ativos, as nossas pessoas, aquilo que nós representamos, estamos muito confiantes de que vamos ser bem-sucedidos”, rematou.

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