Opinião de Teresa Burnay (Unilever FIMA): O avô e o Princípio de Peter
Por Teresa Burnay, Home Care + Beauty & Personal Care Director/Media director da Unilever FIMA
Fui abençoada com um avô até há bem pouco tempo, que, apesar de quase centenário, tinha uma mente sã que mantinha activa com fervorosa leitura de livros e jornais, acompanhamento rigoroso da actualidade e manutenção da sua escrita, fosse contabilística, poética ou histórica, sempre com uma letra manuscrita invejável.
Tendo vivido em diferentes países e continentes e trabalhado em diversos sectores económicos, onde geriu equipas e fez crescer negócios, adorava conversar comigo sobre os meus desafios profissionais e as tendências da liderança e presenteava- me sempre com conselhos altamente inspiradores para próximos passos a seguir ou grandes decisões a tomar.
Tinha também um sentido de humor contagiante, geralmente sinal de perspicaz inteligência, e conseguia explicar as suas teorias com analogias provocadoras de gargalhadas irresistíveis. Como quando criticava a minha magreza alertando “Tu vê lá se andas a equilibrar bem a tua vida! Olha que às vezes as empresas comem a carne, roem os ossos e a seguir ainda os cospem…” Ao que tinha de lhe responder que não era de todo o meu caso, e que ter 6 filhas do outro lado da balança é que me permitia manter a forma física, causadora do seu comentário, que até me tinha lisonjeado.
Foi o meu avô que me introduziu, bastante cedo na carreira, ao “Princípio de Peter”. Apesar de publicado em 1969 por Laurence J. Peter e Raymund Hull, é impressionantemente actual. Enuncia que quanto mais burocráticas e hierarquicamente estruturadas são as organizações, mais tendência terão a promover indivíduos até ao seu nível de incompetência. Seja porque valorizam em demasia a quantidade de experiência (vs. qualidade) ou porque olham mais à performance actual que ao potencial. Assim, vão-se promovendo colaboradores que são excelentes no que fazem e têm imenso know-how acumulado a cargos mais elevados, para os quais não estavam preparados e aos quais amiúde não correspondem. Em última instância, uma empresa que opere sistematicamente sob este princípio, arrisca- se a diminuir gradualmente a sua produtividade até ao total insucesso.
Ao longo da história assistimos a muitos exemplos destes como Sócrates ser um óptimo filósofo mas péssimo advogado, Hitler passar de ministro eficaz a negação como general ou diariamente à nossa volta conceituados médicos ou professores resultarem em fracassados gestores de hospital ou directores de escolas.
Como aprendi com o meu avô a evitar ser um “Peter”? Procurar trabalhar em organizações que colocam o potencial e os valores acima de tudo – promoverão sempre quem faz o que é certo no momento certo! Dar o melhor em cada função que desempenho, tirando partido de cada experiência e relacionamento que me proporciona e focando-me em aprender e ganhar skills que me preparem para o futuro, sem pensar na próxima promoção. Essa será uma consequência das boas escolhas que fiz ao não ser um “Peter”!
Artigo publicado na revista Marketeer n.º 308 de Março de 2022