2023 será mesmo a nova referência?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Num destes fins-de-semana de Outubro, pensei ir passear cá dentro. Escolheu-se o destino e, claro, houve que marcar dormida. Durante horas, percorremos sites e Apps, de reservas, hotéis, alojamentos. Do mais barato ao mais caro – e o preço médio da nossa hotelaria já ultrapassou, em vários destinos, o de Espanha –, tudo cheio. Quis a sorte que houvesse um. Sim, um. Mas que não nos permitiu prolongar por mais uma noite, que estava já completamente lotado.
Há uns dias, num almoço-debate organizado pela Marketeer, vários responsáveis de empresas ligadas ao Turismo diziam e repetiam: 2023 vai ser a nova referência. Nunca se facturou tanto como este ano. Os restaurantes? Cheios. Sim, os com preço médio que não é para classe média. Hotéis? Lotados. Em particular, os que elevaram valor de dormida. Voos? Dizem as companhias aéreas – e aqui os preços também quase que duplicaram – que também estão já longe do seu último melhor ano, o de 2019.
Confesso que isto me traz dois temas. Um deles é o fraco (ou mesmo baixo) nível de serviço que em nada acompanha os valores praticados hoje na restauração e hotelaria em Portugal. Gosto de sair, conhecer restaurantes e hotéis. Mas ser mal servida, mal atendida, sem atenção ao pormenor e aos mínimos de qualidade, não pode ser pago a peso de ouro. E um cliente insatisfeito é um cliente que não recomenda, nem repete. Pior: os que nos continuam a chegar de outras geografias, podem achar que o nosso País ainda está na moda, mas se entenderem que foram “enganados”, não voltarão…
Nós, por cá, temos a mania de ser condescendentes, fechar os olhos e repetir erros ou seguir em frente. Só que no actual cenário macroeconómico, será que continuaremos a assobiar para o lado e ter comportamento “esquizofrénico” de nos queixarmos da conta da luz, da renda da casa e do preço da gasolina, sem cortar em gastos como estes…?
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 327 de Outubro de 2023