Vómitos e diarreia: dois sintomas muito frequentes em pediatria
Por Andreia Filipa Teixeira Martins, pediatra no Hospital CUF Torres Vedras
Os vómitos são geralmente provocados por infecções virais, podendo estar associados a outras causas, como infecções bacterianas, ingestão de alimentos contaminados, causas neurológicas, ou outras.
No bebé mais pequeno é fundamental distinguir os vómitos dos episódios de regurgitação. Consideramos vómitos quando o leite sai pela boca “em jacto”, o que é diferente de bolçar, quando o leite escorre pela boca em pequena quantidade.
A diarreia é um mecanismo de defesa que serve para eliminar microrganismos ou toxinas dos intestinos. Pode ser definida por um aumento do número de dejecções, quando a criança faz cocó mais vezes que o habitual, ou pela diminuição da consistência das fezes, quando estas são mais pastosas ou líquidas.
Num quadro clínico de vómitos e/ou diarreia é importante estar atento a alguns sinais e sintomas que justificam observação médica.
Sinais de alarme:
- Bebés com menos de 3 meses;
- Bebés ou crianças com doença crónica;
- Vómitos persistentes ou com sangue;
- Vómitos associados a traumatismo craniano (por exemplo, durante as 24h seguintes a uma pancada com a cabeça);
- Mau estado geral ou prostração;
- Intolerância total a líquidos;
- Recusa total da alimentação;
- Não urinar há mais de 6-8h;
- Diarreia muito abundante ou com sangue;
- Presença de sinais de desidratação.
Sinais de desidratação:
À medida que a desidratação agrava podem surgir
- Olhos encovados;
- Língua ou lábios secos;
- Choro sem lágrimas;
- Pele seca;
- Sede intensa;
- Cansaço ou confusão.
“O meu filho está com febre e diarreia desde ontem e agora começou a vomitar”
O que devo fazer?
Após o vómito deve fazer uma pausa alimentar de cerca de 30 a 45 minutos. Não deve oferecer qualquer alimento, nem mesmo água, já que o preenchimento do estômago pode ser um estímulo para a criança voltar a vomitar.
De seguida, inicie um soro de hidratação oral de forma fraccionada. Estes soros têm na composição açúcares e sais minerais em quantidades equilibradas e podem ser comprados em qualquer farmácia. O fraccionamento da ingestão serve para permitir uma tolerância gradual aos líquidos. Não usar bebidas açucaradas como o ice tea ou cola. Deve dar uma colher/5ml em intervalos de 5 a 10 minutos. Se ao fim de uma hora não houver novo episódio de vómito, pode aumentar a quantidade. Se ao fim de 3 a 4 horas não vomitar, pode iniciar alimentação.
Que tipo de alimentação?
Não necessita de fazer nenhuma dieta em particular. Deve respeitar o facto de o seu filho estar com menos apetite, não forçando a alimentação. Reforçar a hidratação é o mais importante, bem como fraccionar as refeições: mais vezes ao dia, menos quantidade.
Se o bebé é amamentado, deve manter o seu leite sempre que ele quiser. Se é alimentado com outro leite, prepare da mesma forma, sem diluir, e ofereça quantidades mais pequenas de cada vez.
Na criança mais velha, mantenha a dieta habitual, restringindo açúcares e gorduras, podendo manter produtos lácteos e sopa.
Devo dar algum medicamento?
Poderá fazer um antipirético, se tiver febre. Não deve dar qualquer outro medicamento sem indicação médica. A maioria dos casos não necessita.
É importante não usar medicamentos para parar a diarreia pois estará a inibir o processo fisiológico de eliminação dos microrganismos.
Quando recorrer ao Serviço de Urgência/Atendimento permanente?
Deve reconhecer precocemente os sinais de alarme enumerados acima. A observação médica é obrigatória sobretudo se o quadro clínico persistir, mesmo após a tentativa de hidratação oral.
E em tempo de pandemia?
Nunca desvalorizar os sinais de alarme e/ou de desidratação. Mesmo durante este tempo de pandemia é importante ter em conta que é seguro procurar ajuda, sempre que o quadro clínico o justifique. Os Serviços de Saúde têm protocolos implementados, com circuitos independentes e separação de doentes suspeitos COVID-19.