«Urge apelar aos agentes culturais para se posicionarem como agentes económicos»
A cultura foi uma das áreas mais afectadas pela pandemia e é necessário pensar de que forma será possível garantir a recuperação do sector – e defendê-lo de novas crises. Este é um dos desafios da reCenter Culture, nova agência para o investimento no sector cultural português, que ambiciona ser um parceiro no desenvolvimento da economia e da sustentabilidade social e ambiental.
Fundada pela experimentadisegn e pela DFK, apresenta-se como uma iniciativa da sociedade civil, que conta também com a KPMG e a COTEC como parceiros. Juntam-se ainda outras empresas, autarquias, entidades académicas e instituições que partilhem o mesmo propósito de “recentrar o pilar da cultura na sociedade”.
Gestão, design estratégico e financiamento de actividades culturais são as áreas de especialização da reCenter Culture, que terá nascido ainda num mercado por explorar. «A distinção não é uma preocupação. Estamos num espaço vazio, numa folha em branco, ninguém está a fazer o que propomos», afirma Catarina Zagalo, head of Project da reCenter Culture & head of Communications da DFK.
Em entrevista à Marketeer, conta que o desafio do novo projecto reside «na capacidade de despertar para a urgência da actuação no sector cultural por razões de sustentabilidade».
O que levou à criação da reCenter Culture?
O reconhecimento do sentido de urgência da resposta às necessidades do sector cultural português, a semelhança com o trabalho feito pela comunidade empresarial, mas sobretudo as sinergias que podem ser criadas na aproximação destas duas realidades, foi a grande motivação para a criação da reCenter Culture. A pandemia trouxe uma realidade totalmente nova para todos nós, seja na dimensão pessoal ou das organizações que representamos, e o sector cultural foi um dos mais penalizados. Mas nasce também do reconhecimento inegável da necessidade de uma aproximação das linguagens da economia e cultura e do papel fundamental que esta última pode ter na recuperação económica, social e ambiental do país.
Quem são os fundadores?
Os fundadores são a DFK e a experimentadesign. A primeira com domínio da linguagem de gestão, estruturação de processos, sustentabilidade económica e organização de projectos; a segunda com o conhecimento profundo do sector cultural e com competências criativas e de design estratégico. O match da DFK e da experimentadesign foi imediato, a complementaridade para os objectivos é evidente e existe sintonia total entre as duas organizações sobre os objectivos da agência e o trabalho a desenvolver.
Qual é a proposta de valor da agência? Como pretende distinguir-se no mercado?
A distinção não é uma preocupação. Estamos num espaço vazio, numa folha em branco, ninguém está a fazer o que propomos. Estamos a intersectar dois universos que pontualmente já se tocaram em projectos desenvolvidos no mercado, mas que nunca tiveram uma agência independente que reúna as competências das duas dimensões. O desafio não estará na necessidade de diferenciação, mas sim na capacidade de despertar para a urgência da actuação no sector cultural por razões de sustentabilidade.
Quais são os principais desafios de criar um projecto como este em tempo de pandemia?
O maior desafio será a rapidez – temos de agir já – e a capacidade real de captar investimento significativo. A cultura é um dos pilares da sustentabilidade e, provavelmente, aquele que aporta maior capacidade de gerar coesão em todas as suas dimensões. Urge apelar aos agentes culturais para a necessidade de se posicionarem como agentes económicos e actuarem com critérios iguais aos de outras áreas. Urge também aos agentes empresariais a inteligência de reconhecerem que a dimensão cultural é não só uma obrigação de intervenção na sociedade, mas sobretudo uma enorme mais-valia para a inovação, diferenciação e sustentabilidade dos seus projectos.
Quais serão os serviços prestados pela reCenter?
Serão, por um lado, projectos para agentes culturais, consultoria de gestão, viabilidade financeira de projectos, gestão de projecto, consultoria de operações, comunicação, design estratégico, bem como consultoria de incentivos; e, por outro lado, assessoria ao sector económico em geral através do enriquecimento dos seus projectos pela via da cultura, inovação e design.
Que empresas ou negócios poderão tirar partido do trabalho da reCenter? A quem se destina?
A todos os agentes culturais, seja de que área ou tipologia forem, individuais ou colectivos e, claro, a quaisquer empresas dos outros sectores económicos que queiram tornar-se mais competitivas, mais inovadoras e maximizar o seu impacto na sociedade. Também queremos, e iremos, trabalhar com os municípios. Acreditamos muito no poder local.
Quais são os planos/perspectivas a médio prazo?
Crescer e consolidar a dimensão nacional e desenvolver, em paralelo, projectos de dimensão internacional.
Texto de Filipa Almeida